Com Lava Jato ameaçada, ex-procurador diz que Aras busca ‘controlar informações’
Carlos Fernando dos Santos Lima, em entrevista ao Morning Show, da Jovem Pan, vê classe política tentando manter o status quo
A Lava Jato voltou ao noticiário depois de decisão de Toffoli – revogada por Edson Fachin na segunda-feira (3) – que determinava o compartilhamento de dados da forças-tarefa com a Procuradoria-Geral da República (PGR). A medida atendia pedido do procurador-geral da República, Augusto Aras, que, nas últimas semanas, afirmou durante transmissão ao vivo que a força-tarefa da Lava Jato em Curitiba era uma “caixa de segredos” e defendeu a correção dos rumos da operação para que o “lavajatismo não perdure”. Em entrevista ao Morning Show, da Jovem Pan, o ex-procurador Carlos Fernando dos Santos Lima afirmou que a ofensiva busca “a sobrevivência de um sistema político que usa dinheiro de corrupção para se sustentar. Toda a classe política tenta fazer sobreviver este modelo de sustentação ilícita. De um lado há combate da corrupção, do outro manutenção do status quo.”
Para Carlos Fernando, a expectativa é que a decisão de Fachin prevaleça, já que, segundo ele, “a medida de Toffoli era bastante absurda, tomada indevidamente no plantão, que bloqueava trabalho do Ministério Público e investigações, tornando a Lava Jato notícia mais por tentar se defender do que fazer a sua função de combater a corrupção.”
Uma das principais indagações de Aras, a respeito da quantidade de informações obtidas pela Lava Jato, de acordo com o ex-procurador, é algo “absolutamente normal”. “Temos que pensar que a Lava Jato é uma operação que completa mais de 6 anos, com mais de 70 fases, acordos de leniência com as maiores empreiteiras do país, devemos imaginar que hoje um dispositivo qualquer de informática tenha 1 giga de informação e saber que qualquer busca e apreensão gerará milhares de gigabytes de informação. Existe um acervo ainda a ser analisado. Isso é absolutamente normal e está sujeito a verificação do poder judiciário. O PGR não tem nenhum interesse geral dessa informações porque ele não tem competência para analisar, e não é corregedor da Lava Jato. É o interesse de controlar informações, o que é muito grave, porque está inserido naquele desejo, na minha opinião, do presidente da República de submeter a controle a Polícia Federal e o Ministério Público.”
Carlos Fernando dos Santos Lima também defendeu que “não podemos ser condescendentes com a prática de Caixa 2”. “Estou falando de corrupção e lavagem de dinheiro, isso que acontece no Brasil deforma todas as decisões públicas, esse dinheiro vem da população brasileira. Tudo o que acontece deforma a Democracia. Quem pode ser candidato sem dinheiro ilícito hoje talvez sejam só milionários ou celebridades.Temos que acabar com essa prática. A política está usando a criminalidade para se sustentar, visões condescendentes só vão fortalecer essa prática.”
Quando o assunto é Sergio Moro, que usou suas redes sociais para defender a Lava Jato, o ex-procurador fez questão de enaltecer o trabalho do ex-juiz: “Eu não creio que a manifestação significa imparcialidade. a Operação envolve MP e diversas outras instituições, inclusive a magistratura, pois é ela quem decide as grande questões, inclusive no TRF-4, e o STF. Na verdade, olhando organicamente, é uma grande operação com a magistratura. Moro é um grande juiz, absolutamente imparcial e era difícil saber qual decisão ele ia tomar. Nós ficávamos irritadíssimos com algumas das decisões contrárias que ele tomou à época, é para isso que serve o juiz, ele nunca teve contato indevido com o MP. Há ingenuidade pensar que não há conversa entre as instituições.”
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