CPI identifica 2 milhões de anúncios do governo em canais de ‘conteúdo inadequado’

  • Por Jovem Pan
  • 03/06/2020 11h38 - Atualizado em 03/06/2020 11h40
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Pillar Pedreira/Agência Senado Um celular na mão de uma pessoa com uma imagem escrito 'Fake News' Ao todo, a CPI identificou que os mais de 2 milhões de anúncios foram exibidos em 843 canais diferentes

Um relatório produzido pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Fake News mostra que o governo federal investiu dinheiro público para vincular 2 milhões de anúncios publicitários em canais que apresentam “conteúdo inadequado”.

O documento, produzido por consultores legislativos, tem como base informações da própria Secretaria de Comunicação Social da Presidência (Secom) referente ao período de junho a julho do ano passado. Os dados foram obtidos via Lei de Acesso à Informação pela CPI e revelados pelo jornal O Globo.

A lista inclui páginas que difundem fake news, que promovem jogos de azar e até sites pornográficos. Canais que promovem o presidente Jair Bolsonaro também receberam publicidade oficial. Segundo o relatório, a maior parte dos anúncios está relacionada à campanha do governo para promover a reforma de Previdência.

A verba da Secom foi distribuída por meio do programa Google Adsense, que paga um valor ao site a cada vez que um usuário clica na publicidade ou apenas visualiza.

O site “Resultados Jogo do Bicho”, com 319.082 impressões, quantidade de vezes que o anúncio foi exibido aos usuários do site está entre os canais que mais receberam verba pública. O jogo do bicho é proibido no Brasil e sua prática é considerada uma contravenção.

Dos 20 canais do Youtube que mais veicularam anúncios da Nova Previdência, 14 são destinados ao público infanto-juvenil. Entre eles, até mesmo um que tem todo o seu conteúdo em russo. “Juntos, esses 14 canais infanto-juvenis concentraram 2.392.556 das 12.026.980 impressões da campanha da Nova Previdência veiculadas no YouTube entre 06 de junho e 13 de julho de 2019”, diz trecho do relatório.

Ao todo, a CPI identificou que os mais de 2 milhões de anúncios foram exibidos em 843 canais diferentes. Destes, 741 eram no YouTube, mas foram removidos após a página de vídeos apontar irregularidades, como conteúdo inadequado ou que desrespeita direito autoral.

O relatório aponta como um dos sites campeões de veiculação dos anúncios, com 66.431 impressões, é o “Sempre Questione”. “O portal traz ‘matérias’ sobre múmias alienígenas escondidas em pirâmides do Egito, colisores de átomos que abrem portais para o inferno e baleias encontradas em fazendas a centenas de quilômetros do litoral”, aponta o levantamento.

Há também publicidade oficial em páginas de apoiadores e que promovem Bolsonaro. O relatório cita como exemplo o canal de YouTube “Bolsonaro TV” e os aplicativos para celular “Brazilian Trump”, “Top Bolsonaro Wallpapers” e “Presidente Jair Bolsonaro”

A destinação de dinheiro público para este tipo de conteúdo pode gerar questionamentos com base no princípio constitucional da impessoalidade, pois, segundo a consultoria legislativa, “abre a possibilidade de se interpretar tal fato como utilização da publicidade oficial para promoção pessoal, conduta vedada pela Carta Magna.”

O site “Terça Livre”, do blogueiro Allan dos Santos, também aparece na lista dos que receberam dinheiro público por meio de anúncios da Nova Previdência. Santos é um dos alvos do inquérito das fake news no Supremo Tribunal Federal e teve documentos e equipamentos apreendidos na semana passada pela Polícia Federal.

Até o momento, a Secretaria de Comunicação Social da Presidência não se manifestou sobre o assunto.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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