Ernesto Araújo sobre cizânia no governo: ‘O pássaro precisa de duas asas para voar’

  • Por Jovem Pan
  • 25/03/2019 19h55 - Atualizado em 25/03/2019 20h24
Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, negou que haja cizânia no governo Bolsonaro

O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, negou que haja uma cizânia entre as alas do governo. Considerado parte da ala “anti-establishment”, ele afirmou que a diferença de ideias na gestão Bolsonaro é algo bom. “O pássaro precisa de duas asas para voar. É importante que haja dentro do governo diferentes opiniões, mas que todas elas conversem”, disse em entrevista ao Os Pingos nos Is nesta segunda-feira (25).

Araújo é apontado como um dos integrantes da ala “ideológica” do governo, ao lado do ministro Ricardo Vélez, da Educação, e da ministra Damares Alves, dos Direitos Humanos. O chanceler explicou que essas três pastas trabalham com ideias. “A gente tem de trabalhar de determinada maneira porque são áreas que dependem das ideias”, defendeu. “[Essas áreas] Foram mais influenciadas pela ideologia no passado, nosso trabalho é diferente de outros tipos de ministério”, disse. “É um desaparelhamento mais de ideias e palavras do que de pessoas, é um trabalho diferente que converge para o mesmo objetivo.”

Ainda falando sobre supostos desconfortos no governo, o ministro negou que tenha ficado irritado com a presença do deputado federal Eduardo Bolsonaro no encontro entre os presidentes Jair Bolsonaro e Donald Trump. “Achei excelente que o Eduardo Bolsonaro pudesse participar, eu e ele temos opiniões semelhantes sobre os Estados Unidos”, afirmou. Ele lembrou que o Secretário de Estado americano, que tem o cargo equivalente ao seu, também não participou da reunião. “Não tive problema nenhum, muito pelo contrário”, reforçou.

Prosul e Venezuela

O chanceler também comentou sobre a outra viagem oficial que o governo fez na semana passada, ao Chile. Em Santiago, países da América do Sul ratificaram a criação do Prosul, um grupo de cooperação continental. “É fundamental que exista um espaço para a integração da América do Sul, a Unsaul não tinha mais eficiência como esse tipo de espaço”, disse, comparando com o grupo criado quando governos de esquerda estavam no poder.

Ele ressaltou que o novo grupo não é uma “Unasul de direita”. “A Unasul não era um processo de integração, era de desintegração, visava isolar países que não tinham governo de esquerda e queria isolar a região do resto do mundo”, explicou. “[A Prosul] Não visa ter uma política específica, tem como pilar básico a democracia”, afirmou. Por isso, a Venezuela está fora do grupo.

Falando sobre o país vizinho, Araújo disse que a intervenção militar na Venezuela não é uma opção para o Brasil. Ele vê que a ditadura de Nicolás Maduro já está entrando em colapso. “A Venezuela de Maduro tá entrando em colapso grande parte graças ao isolamento diplomático que estamos exercendo com outros países”, afirmou. “Achamos que é possível avançar pela diplomacia.”

Globalismo

Ainda na entrevista, Ernesto Araújo comentou sobre o globalismo e o papel da Organização das Nações Unidas (ONU) na diplomacia mundial. “Ao longo das décadas, se criou uma atmosfera pós-nacional onde a expressão nacional começa a ser desvalorizada e se cria uma espécie de ideia de que tudo que é supranacional é bom e o que é nacional é primitivo”, explicou o ministro.

Para ele, este entendimento está errado. “Isso é muito equivocado, a energia criadora está na nação. A nação é uma coisa natural”, disse. “O problema não é a ONU, é uma certa concepção que procura fazer da ONU algo diferente do que está no próprio nome”, afirmou Ernesto Araújo.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.