Mandetta: Brasileiro não sabe se escuta ministro ou presidente da República

  • Por Jovem Pan
  • 13/04/2020 07h22
Wagner Pires/Estadão Conteúdo "Isso preocupa, porque a população olha e fala assim ‘Será que o ministro da Saúde é contra o presidente’? A gente tem de ter foco, esse aqui que é o nosso problema é o coronavírus. Ele é o principal inimigo", avaliou Mandetta em entrevista

Luiz Henrique Mandetta, em entrevista ao “Fantástico”, neste domingo (12), voltou a entrar em rota de colisão com o presidente Jair Bolsonaro. O ministro da saúde defendeu o isolamento social para conter o novo coronavírus e ainda cobrou uma “fala única” sobre a pandemia, para não confundir a população.

O ministro avalia que os meses de maio e junho serão os mais duros no enfrentamento da covid-19 no País. A fala de Mandetta contraria a posição de Bolsonaro, que afirmou neste domingo, em videoconferência com lideranças religiosas, que a “questão do vírus está começando a ir embora”.

“Eu espero que essa validação dos diferentes modelos de enfrentamento dessa situação possa ser comum e que a gente possa ter uma fala única. Isso leva para o brasileiro uma dubiedade. Ele não sabe se escuta o ministro da Saúde, o presidente”, disse Mandetta.

“Isso preocupa, porque a população olha e fala assim ‘Será que o ministro da Saúde é contra o presidente’? A gente tem de ter foco, esse aqui que é o nosso problema é o coronavírus. Ele é o principal inimigo. Se eu estou ministro da Saúde, por obra de nomeação do presidente. O presidente olha pro lado da economia. O Ministério da Saúde entende a economia, mas chama pelo lado de proteção à vida”, explicou Mandetta.

Bolsonaro vem manifestando insatisfação com Mandetta por conta da posição do ministro diante da crise. A insistência pelo distanciamento social é um dos pontos que provocaram desavenças entre os dois.

Bolsonaro defende um isolamento seletivo, restrito para pessoas dos grupos de risco, como forma de reduzir o impacto da pandemia sobre a economia.

Os dados atualizados até este domingo apontam 1.223 mortes no País em decorrência da covid-19. No mundo, o total de vítimas já ultrapassou 114 mil.

Pico da pandemia

Na entrevista, Mandetta voltou a dizer que o período mais preocupante da crise da covid-19 ainda não chegou. “No mês de maio, junho, teremos os dias muito duros. Dias em que seremos tachados. ‘Ah, vocês não fizeram o que tinham de fazer, ‘deviam ser mais duros’, ‘menos duros, porque a economia está assim’. Sempre vai haver os engenheiros de obra pronta. Serão dois, três meses de muitos questionamentos das práticas.”

Indagado sobre uma projeção de infectados no País ao longo deste ano, Mandetta disse que não existe “absolutamente nada que influencie mais essa resposta do que como a sociedade brasileira vai se comportar nos próximos dias”.

Ele também criticou o comportamento de pessoas que têm furado o isolamento social. “Quando você vê as pessoas entrando em padaria, supermercado, fazendo fila, piquenique isso é claramente uma coisa equivocada”, avaliou o ministro. “Tem muita gente que gosta da internet. Que vê que é fake news dizendo que é invenção de países para ganhar vantagem econômica ou vê complô mundial.”

*Com Estadão Conteúdo

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