Marcelo Odebrecht relata a Moro “achaque” de Bendine

  • Por Estadão Conteúdo
  • 09/11/2017 18h50
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Agência Brasil Marcelo Odebrecht Empreiteiro Marcelo Odebrecht foi preso em junho de 2015 durante a Operação Erga Omnes

O empreiteiro Marcelo Odebrecht afirmou, em interrogatório do juiz Sérgio Moro, nesta quinta-feira, 9, ter sofrido um “achaque” do ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine. O ex-presidente da maior construtora do País havia afirmado, em delação premiada, ter repassado R$ 3 milhões a Bendine. Na audiência de hoje, em ação na qual é acusado de corrupção ativa, Odebrecht foi enfático ao reiterar a acusação ao ex-presidente da estatal.

Bendine é réu acusado de exigir R$ 17 milhões em propinas da Odebrecht. Segundo a investigação, ele acabou recebendo R$ 3 milhões em três parcelas de R$ 1 milhão, entre junho e julho de 2015, enquanto ocupava a Presidência da Petrobras. Em troca teria agido em defesa dos interesses da empreiteira.

Os dois estão presos. Odebrecht desde junho de 2015, alvo da Operação Erga Omnes, 7.ª etapa da Lava Jato. Bendine, desde 27 de julho passado, alvo da Operação Cobra, 42.ª fase.

O executivo esteve à frente do Banco do Brasil entre 17 de abril de 2009 e 6 de fevereiro de 2015, e foi presidente da Petrobras entre 6 de fevereiro de 2015 e 30 de maio de 2016. Assumiu o comando da estatal petrolífera com a missão de acabar com a corrupção nas diretorias.

A delação da Odebrecht embasou as primeiras suspeitas contra o ex-presidente do BB e da Petrobras e provocou a deflagração da Operação Cobra.

Nesta quinta-feira, 9, Marcelo Odebrecht narrou ao juiz Moro que as primeiras solicitações de propinas de Bendine vieram de André Gustavo Vieira da Silva, apontado como operador das propinas, à época em que o empresário estava ainda no banco estatal.

Odebrecht contou que o primeiro pedido chegou via o operador de Bendine em conversa com o então presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. “O André procurou o Fernando e disse: o presidente do Banco do Brasil, que eu conheço, tá pedindo 1% dessa reestruturação”.

À época, a Odebrecht tinha uma pendência com o Banco do Brasil relacionado a uma dívida da empreiteira na área Agroindustrial. “No início de 2014, primeiro semestre, a Agroindustrial estava renegociando a reestruturação de uma dívida. Na época, não sei o valor que fechou, mas na época era 1,7 bilhão de reais a reestruturação. Na época, veio o pedido através de Fernando. Olha, Marcelo, o André, uma pessoa que eu conheço, está pedindo para o Bendine 1% na questão da reestruturação”.

Diante do primeiro pedido, Marcelo diz ter recusado. “Eu não dei muita bola para esse achaque”.

Segundo o ex-presidente da empreiteira, um ano depois, Bendine – já nomeado na Petrobras – chegou a ser escalado pelo governo Dilma Rousseff para ser o interlocutor com a Odebrecht a respeito de assuntos relacionados aos impactos da Lava Jato sobre o mercado.

“Aí ele foi nomeado presidente da Petrobras. A coisa muda um pouco de figura, porque ele tinha uma posição que de fato poderia atrapalhar a gente. Tínhamos vários temas bastante críticos na Petrobras no momento e eu procurei de cercar de evidências irrefutáveis para ter certeza primeiro de que havia esse pedido, esse achaque, e de que ele teria condições de atrapalhar a gente”, relatou Odebrecht.

Ele disse ainda ter se reunido com Fernando Reis e Bendine, no apartamento de André Gustavo, em Brasília.

O suposto operador de Bendine teria dito que algumas palavras do então presidente da Petrobras serviriam de “senha” para confirmar que ele gostaria de receber propinas da empreiteira. “No meio dessas discussões sobre Lava Jato e tema da Petrobras, ele me trouxe as palavras que eram sinal de que ele (pedido de propina) existia. Ele foi mencionando o financiamento. Fora do contexto do assunto. Exatamente as palavras que André tinha dito para caracterizar que o pedido do André estava sendo…”

“Eu saí dessa reunião falando: ‘olha, não há duvida de que esse pedido existe’. Eu não acho que vamos precisar dar os 17 milhões mas vamos começar a pagar alguma coisa, administrando. Vai avaliando a capacidade de atingir a gente. Isso aconteceu. Três pagamentos de um milhão cada. Eu fui preso logo depois do primeiro pagamento. Se fosse uma consultoria técnica [prestada pelo operador de Bendine], legítima, não seria paga via equipe de Operações Estruturadas [departamento de propinas da empreiteira], ainda mais em um momento de tanto risco e exposição, eu já preso!”, relatou.

Defesa

O criminalista Alberto Zacharias Toron, que defende Bendine, afirmou que o conteúdo do depoimento de Marcelo não passa de “ilação” e ressaltou que o próprio delator disse nunca ter recebido cobranças diretamente de Bendine.

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