Ministério da Saúde pretende comprar ‘primeira vacina que chegar no mercado’
A aposta do governo é no modelo desenvolvido pela AstraZeneca e a universidade de Oxford; ideia é que uma primeira parcela com 15 milhões de imunizações seja entregue ao Brasil em dezembro
O secretário nacional de Vigilância em Saúde, Arnaldo Correa de Medeiros, disse nesta quarta-feira, 5, que o governo federal pretende comprar “a primeira vacina que chegar ao mercado”, independentemente do país que a produziu. Em audiência na Câmara dos Deputados, Medeiros afirmou que fará, nos próximos dias, uma visita ao Instituto Butantan, que participa do desenvolvimento da vacina Coronavac com a empresa chinesa Sinovac Biotech. Além disso, destacou que o ministério já realizou reuniões sobre uma vacina em teste na Rússia, mas não deu detalhes da conversa.
A aposta do governo federal, por enquanto, é no modelo desenvolvido pela farmacêutica britânica AstraZeneca e a universidade de Oxford. O governo espera receber 100 milhões de doses desta vacina, cuja tecnologia de produção deve ser repassada ao Instituto Bio-Manguinhos, unidade da Fiocruz. Em transmissão nas redes sociais no último dia 30, o presidente Jair Bolsonaro disse que seu governo está “no consórcio de Oxford” e não “daquele outro País”. Mesmo sem citar a China, o presidente fez um aceno à parte de sua militância, que faz críticas ao principal parceiro comercial do Brasil por ser um regime comunista. “Laboratório chinês criando vacina contra vírus chinês e com a pesquisa bancada por um governador que é grande parceiro da China? Eu que não quero essa vacina, e vocês?”, escreveu o presidente do PTB, Roberto Jefferson, no Twitter.
Além de ser desenvolvida por empresa da China, a militância de Bolsonaro ataca a vacina testada no Butantan por ser uma aposta do governador João Doria (PSDB) no combate à pandemia. Medeiros, secretário do ministério, ponderou que, apesar de estar de olho em todas as drogas para imunização, o governo só comprará aquelas que apresentarem eficácia. “Talvez a que está em fase três (de pesquisa) mais avançada é a da AstraZeneca”, disse.
Prioridade
Segundo Medeiros, profissionais de saúde e pessoas de grupos de risco, como idosos e quem apresenta outras doenças, devem ser priorizados na vacinação contra a Covid-19. Ele afirmou que o SUS deve usar os mesmos critérios adotados para imunização contra a H1N1. “A gente vem avaliando que seria o grupo de faixa etária mais avançada, e neste grupo, aqueles que apresentam comorbidades”, disse. Em seguida, citou cardiopatias e obesidade como fatores de risco. “Para além destes, temos os profissionais de saúde”, completou.
Medeiros pontuou que não deve haver restrição de vacinação para quem já teve a doença. A ideia é que uma primeira parcela com 15 milhões de imunizações seja entregue ao Brasil em dezembro, dentro da parceria com a empresa britânica. A segunda, de igual volume, em janeiro. Por causa desta entrega, o secretário disse esperar que ao menos 15 milhões de brasileiros sejam imunizados até o fim do ano.
No entanto, na reunião da Câmara, o diretor do Instituto Bio-Manguinhos, Maurício Zuma, explicou que cada parcela deve levar cerca de um mês para passar por processos como de controle de qualidade, antes de ser entregue aos postos de vacinação. Assim, a primeira entrega à população seria em janeiro. E a segunda, em fevereiro. Além destas 30 milhões de doses, o País deve receber outras 70 milhões, ainda sem cronograma de entrega. A ideia, segundo o governo, é de que seja feita ainda no primeiro trimestre.
O vice-presidente de Produção e Inovação em Saúde da Fiocruz, Marco Krieger, afirmou que o País deve incorporar todo o processo de fabricação da vacina em menos de um ano. Antes, a Bio-Manguinhos deve realizar apenas etapas de processamento final das 100 milhões de doses recebidas. Além de preparar a produção, Bio-Manguinhos terá de pedir o registro do produto na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O dossiê para a solicitação é apresentado após estudos de segurança, eficácia e qualidade da droga serem concluídos. O registro permite a distribuição da droga no País. O governo também estuda repassar a produção excedente para a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), que distribuiria as doses em países vizinhos.
* Com informações do Estadão Conteúdo
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