O que ainda falta esclarecer sobre o acidente que matou Marília Mendonça

Aeronave caiu na zona rural entre Caratinga e Piedade de Caratinga, a cerca de 300 km de BH; avião atingiu cabo da torre de distribuição da Cemig e perdeu sustentação, o que teria levado à queda

  • Por Jovem Pan
  • 07/11/2021 13h41 - Atualizado em 07/11/2021 16h25
Washington Alves/Reuters Policias e outras autoridades checam os destroços do avião Queda da aeronave vitimou cinco pessoas, incluindo a cantora sertaneja Marília Mendonça

A Polícia Civil de Minas Gerais iniciou na tarde de sábado, 6, a investigação do acidente aéreo que matou Marília Mendonça e mais quatro pessoas na última sexta-feira, 5. Segundo a Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig), a aeronave bateu em um cabo de uma torre de energia no município de Caratinga e depois caiu próximo a uma cachoeira, mas ainda é preciso entender se a queda foi causada por uma falha mecânica ou humana. Para esclarecer o acidente, a polícia e o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa) irão ouvir testemunhas e analisar as evidências coletadas no local. Algumas perguntas como o porquê da aeronave estar voando em baixa altitude e em baixa velocidade ainda precisam ser respondidas pela investigação.

O que se sabe sobre o voo e sobre o avião?

  • Aeronave regular

A aeronave estava em situação regular para táxi aéreo, segundo o Registro Aeronáutico Brasileiro (RAB) da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). O avião bimotor, um Beech Aircraft, prefixo PT-ONJ, fabricado em 1984, foi comprado pela PEC Táxi Aéreo em julho de 2020 e tinha capacidade para seis pessoas. Além da sertaneja, também morreram o produtor Henrique Ribeiro, seu tio e assessor Abicieli Silveira Dias Filho, o piloto e o copiloto do avião.

  • Geolocalizador

Os agentes da Cenipa retiraram do avião, no sábado, 6, o geolocalizador e levaram para análise. O trajeto registrado no equipamento será comparado com o plano de voo previsto antes da decolagem, recolhido da agência PEC Táxi Aéreo pelos técnicos da companhia. “Ainda não fizemos nenhuma análise, nosso serviço agora é procurar evidências. Esse geolocalizador dá pontos de coordenadas geográficas, posições no terreno aonde essa aeronave pode ter passado, mas essas informações só serão reveladas mais para a frente, porque isso é fruto de análise”, explicou o chefe da equipe de investigação, o tenente-coronel aviador Oziel Silveira.

  • Caixa-preta

O modelo de avião bimotor utilizado não tem caixa-preta, afirma a Cenipa. O equipamento é importante para esclarecer as causas de um acidente por conter registro de voz da cabine e do voo e outros dados do avião.

  • Colisão com torre de energia

Os técnicos fizeram uma varredura, por helicóptero e a pé, e concluíram que não houve contato do avião com árvores. Único ponto relatado pela Cenipa foi a ruptura de um fio de alta tensão das torres que ficam no topo de um morro da região. A colisão da aeronave com a torre de energia foi confirmada pela Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig). A companhia ainda enviou nova nota informando que o cabo de energia estava fora da zona de proteção do aeródromo. Segundo a entidade, as leis determinam quatro quilômetros de proteção em volta da pista, e a torre estava um quilômetro fora desse raio.

O problema já havia sido relatado por outros pilotos em agosto e setembro de 2021. Em relatos denominados de Notam (sigla em inglês para “Notice to Airmen”, ou “aviso aos pilotos”), disponíveis na plataforma oficial Aisweb e através dos quais uma equipe de um voo se orienta sobre perigos, os comandantes avisam da presença da torre, a qual ‘violaria o plano básico da zona de proteção’ de um aeroporto.

O que ainda não se sabe?

  • Motorores

Os motores foram encontrados fora da aeronave. Um foi achado logo à frente dela, o outro um pouco mais à frente. Ainda não há informações sobre como escaparam do avião.

  • Voo em baixa altitude

Ainda não se sabe o porquê do avião estar voando baixo, o que pode, inclusive, ter causado a colisão da aeronave com os cabos da torre de energia. Em entrevista à Jovem Pan News, o piloto e especialista em mecânica de aeronaves, Lito Souza, aponta que, pelas imagens, a aeronave devia estar iniciando o procedimento de pouso. “Ainda é muito cedo para falar [sobre causas], com o acidente tendo ocorrido há poucas horas. O que a gente pode falar é sobre os fatos que as imagens mostram. Então, a gente tem o avião muito próximo do local onde iria pousar, estava bem na frente, alinhado com a pista, então estava em um procedimento já de aproximação para o pouso”, opinou o piloto.

  • Baixa velocidade

Outro ponto que chamou atenção do especialista foi a baixa velocidade do voo. “A fuselagem não está tão danificada a ponto de ter causado esse número elevado de vítimas. É algo que só vamos saber após as apurações preliminares, o que causou as mortes, se foi uma desaceleração brusca. Mas fuselagem ter ficado quase inteira é um indício de que o avião estava em baixa velocidade quando caiu”, diz Lito. Segundo ele, ainda não é possível afirmar que o piloto estava tentando realizar um pouso forçado. Piloto e instrutor de voo de Salvador, Eryck Santos concorda com a avaliação de Souza, mas complementa: “É possível ver pelas imagens que a fuselagem está torcida em alguns pontos, dando a entender que o impacto ao solo ocorreu a baixa velocidade, porém de uma forma muito violenta, indicando uma desaceleração muito brusca não dando chances de vida para os ocupantes. A forma com o qual a fuselagem se encontra após o acidente, dá a entender uma possível falha estrutural ou colisão com algum obstáculo, e possivelmente, na sequência, a tentativa de controle da aeronave pela tripulação, seguido de um pouso em baixa velocidade e grande impacto com o solo”, pontou Santos.

Próximos passos

A polícia e Cenipa começaram a ouvir as testemunhas ainda no sábado, 6. A primeira testemunha ouvida pelas autoridades mineiras foi o advogado da família de Marília, que prestou esclarecimentos sobre a contratação do jato usado pela cantora. Por ora, os policiais evitam levantar qualquer hipótese. Nesta manhã de domingo, 7, o avião foi retirado da água e das pedras. Após a retirada da cachoeira, a aeronave foi içada por um cabo de aço por cerca de 50 a 60 metros. Agora, o avião será enviado para o hangar do aeroporto de Ubaporanga, onde ficará sob responsabilidade da empresa de táxi aéreo.

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