Viúva de Janene diz em CPI que não participava de atividades políticas do marido
A viúva do ex-deputado José Janene, Stael Fernanda Janene, disse nesta terça-feira (14), em depoimento à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras que, em 21 anos de casamento, não teve acesso a qualquer informação sobre negócios e decisões políticas do ex-líder do PP na Câmara, morto em 2010. “Ele nunca falava sobre suas atividades. Não dava abertura para este tipo de coisa. Janene era uma pessoa muito fechada e a esposa não participava da vida política dele”, afirmou ao destacar que em todo o relacionamento só esteve em Brasília cinco ou seis vezes.
Stael foi convidada como testemunha pela CPI para falar sobre a relação do ex-deputado com o doleiro Alberto Youssef. Janene é apontado como o mentor do esquema de cobrança de propina na Petrobras. Ela explicou que os dois eram amigos e que Janene nunca conversava sobre negócios na presença de parentes. “Para mim, o negócio com Youssef era em casa, era uma coisa de compadre que ia jogar baralho em casa. Quando ele faleceu eu perdi contato. De vez em quando converso com a ex-esposa Joana que mora na minha cidade [Londrina, PR],” afirmou.
A relação entre os dois foi intensificada, segundo Stael, quando o doleiro foi convidado para batizar o filho mais novo do casal, hoje com 11 anos. Mas, Stael afirmou que depois do divórcio litigioso que ocorreu em novembro de 2008, sequer acompanhou os seis meses de internação de Janene após um AVC e apenas encontrou com Youssef duas ou três vezes. “Conversei com Beto algumas vezes. Duas vezes ele visitou meu filho que era seu afilhado,” disse.
A viúva negou que teve interesse em depôr à CPI para expor detalhes sobre uma possível conta de Janene que o doleiro teria movimentado com uma procuração. “Nunca questionei se ele [o ex-deputado] deixou algo [herança] com Youssef porque se eu não trabalhei para ter isto não iria atrás”, afirmou. Ela disse que se surpreende com os fatos divulgados pela imprensa já que, segundo ela, Janene era uma pessoa simples que “reclamava da conta da verduraria”. “Eu não posso acreditar. Eu nunca entrei em loja de grife para comprar uma bolsa. Quando casei, ele já era empresário, tinha situação boa, mas eu não tinha essa liberdade. Até a compra da minha casa quem fazia era a secretaria dele,” observou.
As denúncias que estão sendo investigadas pela Operação Lava Jato incluem a existência de uma conta bancária em Luxemburgh, com saldo superiror a 100 milhões de euros em nome de Janene e que teria sido movimentada por Youssef após morte do deputado. “Não tenho conhecimento de nada disto. Nem casado ele falava de negócios, em dinheiro, a não ser para falar que as coisas estavam difíceis,” disse.
Stael afirmou que o ex-deputado era “muito assediado” por ministros e parlamentares, mas disse que nunca viu pessoalmente as pessoas apontadas nas investigações, como o ex-ministro José Dirceu ou o ex-diretor de abastecimento da Petrobras, Paulo Roberto Costa, que teria sido indicado por Janene. “Nunca vi Dirceu pessoalmente. Ele nunca comentou sobre indicar nomes para o governo ou para a Petrobras. Não acredito [que era o nome que mandava na Petrobras. Esses empreiteiros nunca visitaram minha casa”, garantiu.
As negociações após o divórcio limitaram-se à pensão paga pelo ex-parlamentar. Com três filhos de Janene, Stael passou a receber 30% do valor recebido por ele como parlamentar. Stael não lembra se assinou qualquer documento referente à contas bancárias ou transações financeiras a pedido do ex-marido. Mas, de acordo com a viúva, se houvesse esse pedido, ele não esperaria ela ler o documento antes de assinar.
Durante o depoimento, a viúva ainda contou ter ficado surpresa com as suspeitas levantadas por nomes do PMDB de que o ex-parlamentar não teria morrido. “Nunca tive contato com nenhum deputado do PMDB ou de qualquer outro partido como veicularam. Nunca tive esta dúvida. Levei um susto com estas notícias porque eu participei de toda a cerimonia do velório e enterro dele,” afirmou.
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