China e Taiwan realizam primeira reunião governamental em 65 anos

  • Por Agencia EFE
  • 11/02/2014 12h22

Antonio Broto.

Pequim, 11 fev (EFE).- Os governos da China e Taiwan realizaram uma reunião de alto nível nesta terça-feira, a primeira desde a divisão entre o país comunista e o território, em 1949, o que foi considerado por ambos os lados um passo histórico para melhorar relações após mais de seis décadas de conflito.

Wang Yu-chi, ministro do Conselho de Assuntos da China Continental do governo taiuanês, manteve um encontro com seu colega da República Popular Zhang Zhijun, ministro do Escritório de Assuntos de Taiwan do Conselho de Estado chinês, na cidade de Nankin.

“É algo que não podíamos imaginar faz poucos anos”, afirmou no discurso anterior à reunião o representante taiuanês. “Poder nos sentar para conversar é uma oportunidade de grande valor, levando em conta que houve um tempo em que ambas as partes quase entraram em guerra”.

“A atual situação foi possível com os esforços de várias gerações. Devemos desfrutar e trabalhar juntos para mantê-la”, disse o responsável do governo chinês, que já tinha mantido um breve encontro informal com Wang em outubro de 2013, na cúpula Ásia-Pacífico de Bali (Indonésia).

Nankin, de grande simbolismo para o Kuomintang (KMT), pois na cidade está enterrado o fundador do partido e da República da China (Taiwan), Sun Yat-sen, é a primeira etapa de uma viagem de quatro dias para o representante taiuanês, que também visitará Xangai.

A reunião é fruto do bom momento nas relações entre o regime comunista e o governo taiuanês do Kuomintang (KMT), partido que enfrentou os maoístas em uma guerra civil que conduziu à separação.

O encontro de hoje, para os analistas, marca uma nova etapa nas relações entre ambas as partes, embora os anfitriões chineses ainda mostrem precaução.

No encontro, os anfitriões pediram para que não fossem usadas as palavras “presidente” e “República da China”, nome oficial de Taiwan e do regime que existiu na China antes dos comunistas, e dois meios de comunicação taiuaneses foram vetados da cobertura do ato.

Taiwan procura justamente com o encontro de hoje e outros similares que haverá ao longo deste ano avançar na melhora das condições dos jornalistas taiuaneses na China.

Também pretende negociar que os futuros representantes diplomáticos de Taiwan em território chinês, quando ambas as partes abram escritórios representativos mútuos, tenham uma categoria similar ao dos funcionários de embaixadas e, por exemplo, possam visitar taiuaneses em prisões da China.

A China, por seu lado, quer avançar na integração econômica entre as duas partes e estender o acordo de livre-comércio que o país e Taiwan rubricaram em 2010 no setor de serviços.

Tudo em prol do grande objetivo da China em relação a Taiwan, que não é outro senão que a reunificação, apesar de amplos setores da ilha preferirem a manutenção do status atual e inclusive a independência.

Espera-se que Zhang retribua a atual visita em três meses, e que Wang retorne à China depois em seis, para prosseguir com as conversas, nas quais outro ponto a ser tratado será uma hipotética cúpula entre os presidentes chinês e taiuanês, Xi Jinping e Ma Jing-yeou.

Até o momento, as negociações entre Taiwan e China tinham sido realizadas por organismos semi-oficiais, pela negativa de Pequim de reconhecer a ilha como um Estado.

Taiwan se dividiu da China em 1949, quando dois milhões de membros e partidários do Exército nacionalista do KMT se refugiaram na ilha após serem derrotados pelo grupo comunista de Mao Tsé-tung.

Durante décadas, Taiwan foi apoiada militarmente pelos Estados Unidos, embora Washington tenha deixado de reconhecer o governo de Taipé nos anos 70, quando reabriu seus laços com Pequim.

Após décadas de enfrentamentos, o KMT e comunistas protagonizam o melhor momento de suas relações em 60 anos, favorecido, em parte, porque ambos rivalizam com o independentista Partido Democrata Progressista taiuanês, que chegou a governar a ilha entre 2000 e 2008. EFE

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