Cultivo de maconha é ensinada nos hortos do Uruguai
María Sanz.
Montevidéu, 30 jan (EFE).- Entre sementes, mudas, vasos e adubos, fãs da Cannabis sativa – a famosa maconha – no Uruguai começaram a receber suas primeiras aulas sobre o cultivo desta planta nos hortos do país, uma iniciativa particular derivada do plano oficial que regula a produção e venda desta droga.
Conceitos antes pouco familiares como o do “fotoperíodo”, técnicas agrícolas como de pesticidas biológicos ou doenças como a causada pelo fungo Botrytis estão entre as novas preocupações dos alunos que querem aprender a produzir sua própria maconha.
Desde a germinação até a colheita e secagem das flores para seu posterior consumo, passando por definição do sexo da planta, fertilização e possíveis pragas que possam ameaçá-la, os cursos percorrem todos os momentos de vida da cannabis, disse à Agência Efe Antonella, responsável por uma das oficinas.
“Quem cultiva está se conectando também com a natureza, embora o faça dentro de um armário”, destacou a especialista, que optou por não revelar seu sobrenome.
O curso, organizado pela Federação Nacional de Cannabicultores do Uruguai (FNCU), também proporciona uma formação na redução de danos para o consumidor de maconha.
“Trata-se de aprender a cuidar da planta, mas também do próprio usuário”, afirmou Antonella, que cultiva cannabis há três anos.
A lei uruguaia sobre compra, venda e cultivo de maconha, aprovada no dia 10 de dezembro e que se encontra em fase de regulamentação, permitirá o cultivo com fins pessoais de até seis plantas, com uma colheita anual de 480 gramas, ou a criação de clubes de entre 15 e 49 sócios que poderão cultivar até 99 plantas.
Desde sua aprovação, entre 40 e 50 pessoas de várias idades participaram das últimas semanas destas oficinas em Montevidéu e no departamento de Florida, a cerca de 100 quilômetros ao norte da capital uruguaia, a maior parte delas sem experiência prévia no cultivo de cannabis.
“A principal vantagem do autocultivo é que o consumidor sabe exatamente o que está fumando, é consciente do processo e sabe que produtos a planta lhe proporcionou”, argumentou Antonella.
Pelo contrário, a maconha prensada vendida ilegalmente “contém muitos agroquímicos e toda a carga negativa das vítimas do narcotráfico”, assinalou a cultivadora.
“Fumar maconha prensada legitima o sistema do tráfico”, acrescentou.
Antonella, professora de um centro educacional que também preferiu não revelar, não só ensina a cultivar a planta para fumar a flor da maconha, onde está o princípio psicotrópico da cannabis, mas se mostra “a favor do aproveitamento integral” da planta de cânhamo.
“Muitas das pessoas que participam dos cursos, sobretudo as mais velhas, nos perguntam como elaborar tinturas de cânhamo com fins medicinais para, por exemplo, tratar psoríase e irritações cutâneas”, relatou.
A planta também pode ajudar pessoas com dificuldades para dormir ou com problemas de falta de apetite, segundo detalhou Julio Rey, presidente da FNCU, criada no final de dezembro.
Ao contrário dos clubes de maconha que funcionarão com a entrada em vigor da lei sobre a planta, a FNCU terá “maior capacidade de investimento e um volume de produção extensiva”, o que gerará excedentes que podem “ser direcionadas para causas sociais”, como disse Julio.
“O cânhamo pode ser usado para fabricar tijolos, que são resistentes e mais econômicos que os convencionais. Planejamos que o excedente de cânhamo seja usado para projetos de construção em assentamentos ou áreas de população vulnerável, de modo que o cultivo de cannabis contribua também para o desenvolvimento social”, revelou.
Além disso, a federação procura se integrar como parte ativa no futuro Instituto de Regulação e Controle da Cannabis, ente regulador que emitirá licenças de produção e distribuição de maconha. EFE
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