Cúpula do euro se torna arena para choque de posições entre França e Alemanha

  • Por Agencia EFE
  • 12/07/2015 14h48

Elena Moreno.

Bruxelas, 12 jul (EFE).- A cúpula extraordinária realizada neste domingo pelos chefes de Estado e de governo da zona do euro sobre o futuro da Grécia pode ser encarada como um choque de posições entre a ortodoxia da Alemanha e a conciliação ajustada aos interesses da Europa proposta pela França.

Em sua chegada à reunião, os líderes de ambos países expressaram suas divergentes posições para abordar a crise, em cujo diagnóstico e consequências concordam, mas diferem profundamente quanto à maneira de enfrentá-la e solucioná-la, apesar de todos reconhecerem que o principal problema é a desconfiança em relação a Atenas.

“A França vai fazer todo o possível para que a Grécia fique na zona do euro e também (para que haja um acordo) que favoreça à Europa”, disse o presidente francês, François Hollande, ao chegar à reunião, enquanto a chanceler alemã, Angela Merkel, afirmou que “não haverá um acordo a qualquer preço” e chamou a atenção para a “perda de confiança”.

Merkel destacou também que os líderes analisarão “se é possível começar as negociações do programa do Fundo de Resgate Europeu (ESM)”. Por sua vez, Hollande prefere encarar a situação como algo que vai além da muito urgente e grave crise grega.

“O que está em jogo é a Europa. Claro que a Grécia é o tema do dia, mas se trata de deixar bem clara a concepção que temos da Europa e de nossos interesses, mas não dos nacionais, e sim dos europeus, os que temos em comum”, afirmou o líder francês.

Em entrevista coletiva, o presidente do parlamento europeu, Martin Schulz, destacou que França e Alemanha, as duas grandes economias do euro, “trabalham em soluções aceitáveis”, mas ressaltou que “embora o eixo franco-alemão seja muito importante, não é o único importante”.

“Não há um grexit (saída da Grécia da zona do euro) provisório ou não. Há a Grécia na zona do euro ou a Grécia fora da zona do euro, mas essa é uma Europa que retrocede e que não avança. Isso é o que não quero”, comentou Hollande.

Dessa maneira o chefe do Estado francês se referiu a um documento publicado no sábado pela imprensa alemã e elaborado pelo Ministério da Economia desse país que apontava uma saída temporária da Grécia do euro como possível solução à crise.

Embora os ministros de Economia e Finanças não tenham abordado essa questão em sua reunião da véspera, segundo fontes diplomáticas, parte da abordagem de Berlim ficou exposta na minuta pactuada pelo Eurogrupo (ministros de Economia e Finanças da zona do euro) e que agora é estudada pelos líderes.

Após cinco meses de fracassadas negociações e das últimas semanas infestadas de acusações e de um surpreendente referendo que jogou por terra os avanços conquistados, Atenas pediu um terceiro resgate que poderia superar os 70 bilhões de euro até 2018 e ofereceu um plano de recortes que inclui aumento de impostos, corte de pensões e privatizações.

No entanto, para os chamados “falcões” da austeridade não é suficiente o que parecia ser antes de 26 de junho, quando o primeiro-ministro grego, Alexis Tsipras, convocou seu referendo, e exigem medidas imediatas.

Nesse grupo, capitaneado pela Alemanha, se alinham Áustria, Holanda, Finlândia, Eslováquia, Estônia e Letônia, entre outros, enquanto com posturas mais conciliadoras aparecem França e Itália, além da Comissão Europeia, que atua como mediadora neste processo.

Para a França é preciso encontrar “um acordo sobre uma concepção comum. A Grécia já fez esforços e reformas que eram necessárias. Agora tem que demonstrar que está disposta a implementá-las com rapidez, e será nesse momento, que terá o apoio de toda Europa”.

Tsipras, com um semblante mais sério que o habitual, afirmou hoje que “haverá um acordo esta noite se todas as partes quiserem”, enquanto o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, ressaltou que buscará “o acordo até o último segundo”.

Entre as posturas europeias mais conciliadoras está também a da Itália e seu primeiro-ministro, Matteo Renzi, que reconheceu que a situação é “complicada”, mas também que a distância entre as duas partes “diminuiu”.

“É importante encontrar um acordo. A Itália vai fazer todo o possível para isso. Não podemos ficar sem a confiança dos cidadãos”, considerou Renzi.

Já o primeiro-ministro da Eslovênia, Miro Cerar, ressaltou que seu país quer que “a Grécia esteja na zona do euro e que se exerça o princípio da solidariedade, mas também que a Grécia assuma compromissos e responsabilidade, e que mostre se é capaz de assumir suas obrigações”.

“Os últimos eventos nos fizeram perder a confiança no governo grego”, resumiu o líder esloveno em referência à falta de credibilidade de Atenas entre alguns de seus sócios da zona do euro.

Nesse sentido, Cerar reconheceu que “todos temos que mostrar paciência para conseguir um acordo, mas a Grécia também tem que demonstrar que é um parceiro confiável”. EFE

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