Banco Central mantém Selic a 2% em meio à disparada da inflação
Após nove cortes, Copom mantém juros pela terceira reunião seguida; inflação oficial do país superou 4% nos últimos 12 meses encerrados em novembro, pressionada principalmente pelos preços dos alimentos
O Comitê de Política Monetária do Banco Central, o Copom, manteve, nesta quarta-feira, 9, a taxa básica de juros da economia brasileira, a Selic, em 2% ao ano, o terceiro congelamento consecutivo após nove cortes seguidos iniciados em julho de 2019, quando a Selic estava em 6,5% ao ano. A redução ao nível mais baixo da história foi anunciado em agosto e mantida nas duas últimas reuniões do colegiado. O Copom se reúne a cada 45 dias, e este foi o último encontro de 2020. A próxima revisão será feita entre os dias 19 e 20 de janeiro do próximo ano. A decisão do Banco Central está de acordo com o esperado pelo mercado diante dos sinais emitidos pela autoridade monetária em manter os juros baixos, apesar do avanço do IPCA, o índice oficial da inflação brasileira, pressionado principalmente pelo encarecimento dos alimentos. Para os analistas, a taxa de juros deverá se manter neste patamar até o segundo trimestre do próximo ano. “Apesar da elevação recente do IPCA, as projeções de inflação seguem abaixo ou próximas da meta no intervalo de 2021-2022. Nosso cenário é de que o ciclo de normalização da política monetária começaria no terceiro trimestre de 2021, encerrando o ano em 3%”, afirma Patricia Krause, economista para a América Latina da seguradora de crédito Coface.
Ao contrário dos últimos encontros que congelaram a Selic no índice mais baixo da história, o Banco Central não indicou desta vez a possibilidade de novos cortes, mesmo com o aumento da inflação — que ainda é citado pela autoridade monetária como algo temporário. “Apesar da elevação desde a última reunião, em particular para o ano de 2021, as expectativas de inflação, assim como as projeções de inflação de seu cenário básico, permanecem abaixo da meta de inflação para o horizonte relevante de política monetária; o regime fiscal não foi alterado; e as expectativas de inflação de longo prazo permanecem ancoradas.” Os técnicos do Copom também ressaltaram a importância da manutenção da responsabilidade fiscal e da implementação de reformas que garantam o controle das contas do governo como fatores para não alterar a taxa básica de juros. “O Copom avalia que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia.”
A Selic é a principal ferramento do BC para manter a inflação sob controle. Para este ano, a meta perseguida pela autoridade monetária é de 4%, com margem para flutuar no intervalo entre 2,5% e 5,5%. O IPCA, índice oficial da inflação brasileira, subiu 0,89% em novembro, e nos últimos 12 meses acumula alta de 4,31%. A recessão causada pela pandemia do novo coronavírus fez o IPCA registrar índices negativos em abril e maio. A partir do segundo semestre, com a disparada do dólar e a retomada do consumo pelas famílias, o índice começou a galopar para recordes mensais. A alta de 0,64% em setembro é a maior desde 2003, enquanto outubro registrou o avanço mais expressivo desde 2002. Já outro indicador de inflação, o Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M), calculado pela FGV, que considera na sua composição o impacto da alta nos preços no atacado, e não somente os preços ao consumidor, como o IPCA, somou alta de 24,5% nos últimos 12 meses encerrados em novembro.
Para o próximo ano, a meta do Banco Central para a inflação é de 3,75%. Segundo analistas, apesar do repique nos últimos meses, os indicadores apontam para retração. “A inflação ainda está sob controle e começa a existir uma tendência de queda que passará a ser sentida a partir de agora. Esse decréscimo deve acontecer gradativamente, mas o saldo deve ser significativo para a economia”, afirma Macel Solimeo, economista da Associação Comercial de São Paulo. Porém, para Camila Abdelmalack, economista da Veedha Investimentos, há indícios de que o movimento sequente de alta do IPCA, que até então era tido como algo localizado pelo encarecimento dos alimentos, se estenda para 2021. “Além do benefício da dúvida com o cenário fiscal, leia-se a falta de clareza para o Orçamento em 2021, há possibilidade de uma pressão persistente nos preços no atacado, que vinham sendo diluídos ao longo da cadeia produtiva, mas a recomposição dos estoques pode manter as commodities apreciadas, mesmo com a descompressão da taxa de câmbio. Por isso, não será uma surpresa se em breve houver revisão nas expectativas para Selic próximo de 4% em 2021.”
O que é Copom
O Comitê de Política Monetária (Copom) é um órgão constituído em 1996 no âmbito do Banco Central do Brasil com as finalidades de estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa básica de juros da economia brasileira. Tem, ainda, a competência específica de regular a liquidez da economia, por meio dos instrumentos de política monetária. O Copom se reúne a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do colegiado, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.
O que é Selic
A Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Os juros são usados pelo Banco Central como uma ferramenta para tentar controlar a inflação, pois a alta ou a queda dos juros influencia o consumo das famílias e a tomada de crédito no país. De modo geral, quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a cair. Quando a inflação está baixa, o BC derruba os juros para estimular o consumo. A Selic tem influência em todas as taxas de juros do país, como a dos empréstimos, financiamentos e das aplicações financeiras. Quando o BC altera a meta da Selic para baixo, a rentabilidade dos títulos atrelados a ela cai e, com isso, o custo dos bancos também diminui. Assim, uma redução da Selic, por exemplo, deve fazer com que os juros cobrados pelas instituições financeiras em empréstimos também caiam. O contrário ocorre quando a Selic sobe: o custo dos bancos aumenta e eles passam a cobrar mais pelos empréstimos.
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