Economistas preveem retomada da economia brasileira no segundo semestre com avanço da vacinação

Reversão da pandemia possibilitará normalização do comércio, dos serviços e da indústria; apesar do tom otimista, paralisação das atividades em março reduz expectativa para crescimento do PIB em 2021

  • Por Gabriel Bosa
  • 28/03/2021 07h30 - Atualizado em 28/03/2021 10h27
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Pref. Uberaba/Ulan/Pool / Latin America News Agency via Reuters Imunização da população brasileira é elencada como medida fundamental para a retomada das atividades econômicas Imunização da população brasileira é elencada como medida fundamental para a retomada das atividades econômicas

O crescimento do ritmo de vacinação da população brasileira contra o novo coronavírus após a aquisição de novas doses e o início da produção de insumos e imunizantes em território nacional devem dar tração para a retomada da economia a partir do segundo semestre de 2021. A reversão na recente escalada histórica do número de infectados e óbitos por Covid-19 permitirá a reabertura integral de lojas, restaurantes, cinemas, hotéis, indústrias, entre tantos outros vetores da economia que tiveram suas atividades restritas ou suspensas ao longo do último ano. Diante deste cenário, economistas são enfáticos ao apontar a segunda metade do ano como um período de crescimento após a frustração nos dois trimestres iniciais por causa do agravamento da pandemia, lentidão nas vacinas e imposição mais severas para o distanciamento social. “Com a normalização das atividades, haverá uma locomoção maior de pessoas. Teremos a abertura do comércio, quem teve condições de manter o emprego vai voltar a consumir, viajar”, afirma Camila Abdelmalack, economista-chefe da Veedha Investimentos.

A União firmou contrato na última semana para a aquisição de 138 milhões de doses de imunizantes produzidos pela Pfizer e Janssen, que possuem eficácia comprovada contra a variante P.1 do novo coronavírus. O Instituto Butantan, ligado ao governo do Estado de São Paulo e parceiro da Sinovac na participação da CoronaVac, já produz a vacina em território nacional desde dezembro do ano passado. O complexo farmacêutico está sendo ampliado para receber também a fabricação do insumo farmacêutico ativo (o IFA), a matéria prima do medicamento, que atualmente é importado da China. A obra deve ser concluída no último trimestre desde ano. Já a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), representante brasileira da vacina desenvolvida pela AstraZeneca/Universidade de Oxford, deve adiantar para julho a entrega das 100,4 milhões de doses que compõem o primeiro lote produzidas em território nacional, mas também utilizando IFA importado. O centro de pesquisa brasileiro também afirmou que deve começar a produzir a própria matéria-prima nos próximos meses, dando mais celeridade ao ritmo de entrega de novos lotes. Para Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados, o número de doses disponíveis e o conhecimento que o sistema de saúde tem em lidar com vacinações em massa dão confiança para o sucesso da empreitada e os reflexos na reabertura da economia. “Não tem porque a vacinação não acelerar no segundo semestre. O SUS sabe vacinar, o Butantan e a Fiocruz entrarão em um ritmo agressivo de produção. Por mais que haja incompetência do governo federal, todas as condições estão dadas”, afirma.

Apesar da visão mais otimista para o futuro, o quadro atual, com recorde de mortes e pouco mais de 6% da população brasileira imunizada, faz economistas revisarem para baixo as expectativas de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) em 2021. Em um mês, a projeção do mercado para a recuperação da economia desceu de 3,29% para 3,22%, segundo dados do Boletim Focus, do Banco Central. Em janeiro, a aposta era para alta de 3,41%. “A maior parte dos analistas não previa a paralisação da economia. Dependendo de como for este período de restrição e o encaminhamento da vacina, acredito em uma alta de 2,8%”, afirma Camila, da Veedha Investimentos. Menos otimista, a MB Associados já estima avanço de 2,6% na soma das riquezas produzidas pelo país ao longo deste ano. “Está sendo pior do que imaginávamos, mas mantemos este número com a expectativa de que o segundo semestre melhore gradativamente”, afirma Vale. A alta, no entanto, está mais relacionada ao carregamento estatístico registrado no último trimestre de 2020, quando o PIB registrou aumento de 3,2%. “O ano vai crescer, não tem como ser diferente. Por mais que a pandemia tenha piorado agora, não vai ser no grau que tivemos no ano passado. A tendência é para o crescimento, mesmo que não consiga recuperar tudo o que foi perdido no ano passado”, afirma o economista-chefe da MB Associados.

Depois de afirmar que a “pancada” da Covid-19 será sentida na economia a partir deste mês, Paulo Guedes, ministro da Economia, disse nesta quinta-feira, 25, que o cenário será “totalmente diferente” dentro de 60 dias com o desentrave da campanha de imunização. “Como prometeu o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, se tivermos um ritmo de vacinação de 1 milhão de doses por dia, em pouco mais de um mês vacinaremos todos os idosos. E os óbitos são 85% concentrados em pessoas com mais de 60 anos. Mesmo com as novas variantes, se essa idade de risco baixar, em 40 dias teremos um novo cenário, a mortalidade pode desabar”, afirmou. A visão otimista fez a equipe econômica manter a projeção do PIB em 3,2%. Em uma previsão ainda mais otimista, o Banco Central espera recuperação de 3,6%. Para o Comitê de Polícia Monetária (Copom), caso haja recessão neste ano, ela será mais branda do que a registrada em 2020, e com potencial de recuperação mais forte. “Para o Comitê, o segundo semestre do ano pode mostrar uma retomada robusta da atividade, na medida em que os efeitos da vacinação sejam sentidos de forma mais abrangente”, de acordo com a ata do Copom.

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