Fim do auxílio, desemprego e dólar mais fraco favorecem inflação baixa em 2021
Após salto de 4,5% em 2020, economistas esperam que arrefecimento do câmbio e desafios para a retomada da economia deixem IPCA abaixo da meta de 3,75% perseguida pelo Banco Central
O fim dos efeitos do auxílio emergencial na economia brasileira e a esperada queda do dólar ao longo dos próximos meses devem fazer com que a inflação brasileira fique mais baixa neste ano ante o avanço de 4,52% em 2020, acima do centro de 4% perseguido pelo Banco Central, mas dentro da margem de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. A alta do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no ano passado foi puxada principalmente pelo encarecimento de 14,09% dos alimentos — a maior alta desde 2002 —, pressionado pelo aumento da demanda gerada pelo enclausuramento da população por conta da pandemia do novo coronavírus e os incentivos para gastos gerados pelo pagamento das parcelas que variaram de R$ 300 a R$ 1,2 mil. Também teve peso significativo a disparada do dólar, tornando o mercado internacional muito mais atrativo aos produtores do que o doméstico. O câmbio desvalorizado ainda impactou no encarecimento de itens que usam insumos ou componentes de outros países, contribuindo também ao encarecimento nas gôndolas do supermercado. Para 2021, o Conselho Monetário Nacional (CMN) definiu o centro da inflação em 3,75%, com limites de 2,25% e 5,25%.
O mercado financeiro estima que o IPCA fique em 3,34% em 2021, segundo os números divulgados pelo Boletim Focus nesta segunda, 11. O número está próximo da análise de economistas ouvidos pela Jovem Pan, que apontam o fim das pressões geradas pela pandemia e os desafios enfrentados pela economia nacional com o encerramento de estímulos e o aumento do desemprego como fatores fundamentais para analisar a inflação futura. Carlos Thadeu de Freitas, economista da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e ex-diretor do Banco Central e do BNDES, aponta a normalização do câmbio como essencial para evitar que a inflação volte a ficar acima do centro da meta perseguida pelo Banco Central. Em 2020, o real acumulou desvalorização de 29,33% ante o dólar, um dos piores desempenhos entre as moedas emergentes. A virada do ano não alterou esse cenário, e o dólar começou 2021 bastante forte ante à divisa brasileira, fechando nesta segunda com acima de R$ 5,50. “O dólar está subindo agora, mas vai cair. E quando isso acontecer, vai favorecer muito a inflação brasileira. Não tem como prever exatamente quando, mas não há demanda para que a moeda fique nesse patamar tão elevado”, afirma ele, projetando que a divisa baixe para até R$ 4,50 ao longo do ano. Neste cenário mais otimista, Thadeu de Freitas estima que o IPCA encerre 2021 com avanço entre 3,25% a 3,50%.
Os índices são semelhantes aos esperados pela XP Investimentos. Segundo Lisandra Barbero, economista da entidade, o fim do auxílio emergencial e o aumento do desemprego nos próximos meses devem frear o consumo dos brasileiros e arrefecer as distorções que pressionaram a inflação ao longo de 2020. O cenário até no primeiro trimestre, porém, deve permanecer semelhante ao enfrentado nos últimos meses do ano passado. “As anomalias causadas pela pandemia ainda devem causar impactos na inflação no curto prazo. Mas olhando a trajetória como um todo, até o fim do primeiro semestre questões como a falta do auxílio e o desemprego devem desacelerar o IPCA”, afirma. Pelas análises da XP, a inflação deve fechar o ano na casa de 3,50%.
A Selic é o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação. Na última reunião de 2020, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa básica de juros a 2% ao ano, o menor nível da história, mas sinalizou que deve reverter a tendência de baixa nos próximos encontros. A primeira reunião do colegiado em 2021 está agendada para os dias 19 e 20 de janeiro. Segundo o Boletim Focus, os economistas e analistas consultados pelo BC esperam que a Selic encerre 2021 a 3,25% ao ano. Na edição anterior, a expectativa era que a elevação da taxa de juros chegasse a 3%. O ex-presidente do BC e a economista da XP concordam que a mudança na Selic não deve ocorrer no primeiro semestre deste ano. Para Barbero, a autoridade monetária nacional analisa a alta da inflação como consequência de choques que não terão duração prolongada. “Uma coisa é falar que a inflação ficará constantemente elevada, mas, assim como o Banco Central, entendemos que é algo passageiro. A Selic deve seguir a 2% até agosto, e então começar uma alta gradual e encerrar o ano a 3%”, afirma. Para Thadeu de Freitas, a taxa de juros deve permanecer congelada ao menor patamar da história diante do cenário fiscal brasileiro. “Se subir, a dívida [pública], que está alta, ficará ainda maior. O Brasil deve manter os juros negativos, já que não temos pressão inflacionária e ainda há muita capacidade ociosa”, diz.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.