Investir em bitcoin é seguro? Confira dicas de especialistas e veja como fugir dos riscos

Alta histórica de US$ 54 mil faz criptomoeda valorizar mais de 86% apenas em 2021; otimismo deve ser moderado por grande volatilidade e falta de informações sobre o mercado de ativos digitais

  • Por Gabriel Bosa
  • 21/02/2021 08h00
Dado Ruvic/Reuters Moedas de bitcoin com gráfico rosa e fundo azul atrás Moeda virtual segue viés de alta após ultrapassar marca icônica de US$ 50 mil no início da semana

O bitcoin fez história no início desta semana ao ultrapassar a icônica barreira dos US$ 50 mil pela primeira vez. A escalada se manteve nos dias seguintes, e nesta sexta-feira, 18, a criptomoeda alcançou o teto de US$ 54,8 mil — aproximadamente R$ 295 mil. A moeda virtual está em rota ascendente desde outubro do ano passado, mas disparou nas últimas semanas após a Tesla anunciar a aquisição de US$ 1,5 bilhão (R$ 8,07 bilhões na cotação atual) em bitcoins e que em breve irá aceitar pagamentos na criptomoeda. O novo boom de investidores fez o ativo valorizar mais de 86% apenas em 2021. Em comparação, o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, caiu 0,5%, enquanto o dólar registrou avanço de 3,79%. O salto chamou a atenção do mercado, e analistas apontam boas oportunidades para ganhar dinheiro. O otimismo, no entanto, deve ser moderado, já que ainda não se sabe até que ponto esses valores astronômicos são sustentáveis. Estudar e entender a tecnologia por trás da moeda digital e buscar corretoras certificadas também são dicas fundamentais para evitar golpes e se precaver das oscilações do mercado.

A valorização recorde do bitcoin é explicada pelo princípio da oferta e procura. Como a criptomoeda não é regulada por nenhuma autoridade monetária, a sua variação é ditada basicamente pelo interesse das pessoas. E este interesse está bastante alto desde que investidores institucionais, como são chamadas as empresas, fundos, bancos, entre outros atores de grande relevância no mercado financeiro, começaram a apostar no bitcoin. A face mais pop deste entusiasmo se revelou no início de fevereiro, quando Elon Musk, fundador da Tesla e uma das pessoas mais ricas do mundo, fez uma série de declarações a favor da criptomoeda. Isac Costa, analista do mercado de capitais e professor do Ibmec, afirma que a “corrida pelo bitcoin” é um fenômeno do efeito manada. “A entrada de grandes investidores criou um frisson, as pessoas enxergaram esse movimento e ficaram com medo de ficar de fora. Isso levou a um comportamento irracional e a um certo otimismo injustificado por parte dos investidores”, afirma o especialista.

O impulso de investir para seguir a onda pode levar a prejuízos tão altos quanto a ambição de enriquecer rapidamente. A história não cansa de mostrar exemplos de como a euforia coletiva levou a desastres financeiros, e o próprio bitcoin passou por isso: ao fim de 2017, a moeda digital havia passado de US$ 18 mil antes de entrar em viés de baixa e perder quase 80% do seu valor, indo para o patamar de US$ 3 mil em dezembro de 2018. Ricardo Rochman, economista e professor da FGV, ressalta que a moeda virtual é um ativo de alto risco, e que, seguindo a regra básica do mercado financeiro, nunca se deve colocar todas as fichas em uma única aposta. “Em determinados momentos, a criptomoeda pode ter uma volatilidade oito vezes maior do que o câmbio. A principal recomendação é deixar no máximo 5% dos investimentos em moedas digitais. Elas não podem se tornar um investimento de concentração, mas sim uma alternativa para diversificação”, afirma.

O avanço vertiginoso levantou a suspeita de bolha financeira, ou seja, quando um ativo cresce de uma forma não sustentável até o ponto em que estoura, que no mercado financeiro representa a queda brusca do seu valor. Ao contrário de outras formas de investimento, como o mercado de ações, as criptomoedas não encontram paralelos para que sejam feitas análises e estudos que comprovem a solidez do crescimento. Apesar desta falta de perspectiva ofuscar a visão dos investidores, Guilherme Rennó, presidente da plataforma de educação financeira Criptomaníacos, afirma que o movimento não necessariamente é algo negativo. “Toda nova tecnologia passa por bolhas de adoção. Ela multiplica o valor e número de usuários em dezenas de vezes, para, na sequência, cair cerca de 80%, até um novo ciclo recomeçar. A queda é tão importante quanto a subida, pois é ela que faz uma limpeza no mercado, movendo moedas de especuladores para as mãos daqueles que realmente enxergam o ativo como reserva de valor”, explica.

O mercado financeiro como um todo virou pauta entre as gerações mais novas com o surgimento de aplicativos, páginas em redes sociais e influenciadores que traduzem o “economês” e tornam o acesso ao conhecimento mais democrático. Se por um lado essa abertura permite que mais pessoas façam parte do jogo especulativo, ela também cria terreno fértil para golpes financeiros. Diante de tantas opções, investidores devem ir atrás de instituições sólidas e que possuem histórico positivo. Os analistas indicam buscar corretoras idôneas e reconhecidas no mercado. Mas há quem prefira negociar diretamente com outros investidores, transação chamada de peer to peer, mas pouco recomendada pela grande margem de fraudes envolvidas. “Seja lá qual for sua opção, jamais entre de cabeça em algo que não conhece. Comece devagar e com pouco, enquanto estuda. Minha sugestão seria comprar uma mesma quantia toda semana ou todo mês, fazendo um preço médio ao longo de um período mais longo. Isso reduz demais o seu risco”, afirma Rennó.

Apesar da disparada ter ficado mais evidente nas últimas semanas, dados de 2020 já apontavam para o aumento de entusiastas na criptomoeda. Com base em números da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), uma pesquisa feita por Rochman, da FGV, revelou o salto de 1,3 mil para 30 mil cotistas nos fundos brasileiros que investiram em bitcoin em 2020. A alta representa o crescimento impressionante de 2,225%, ante aumento de 92% no número de pessoas que entraram para a Bolsa de Valores brasileira, que atualmente concentra mais de 3,2 milhões de CPFs. “Bancos Centrais em todo o mundo estudam usar criptomoedas em transações. No Japão isso já está bastante avançado, e países europeus também avançam nesse sentido”, diz o economista. O caminho que a moeda digital seguirá no futuro é incerto, mas a euforia vista nos últimos meses indica que novas barreiras históricas devem ser quebradas em breve. “O topo histórico é uma marca psicológica relevante na mentalidade coletiva. Para algumas pessoas é um sinal de força, e mesmo que o valor venha a cair, esse pico que antes era um ponto de resistência acaba se tornando um suporte”, diz Costa.

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