‘Locomotiva’ do PIB, indústria sofre com fim de estímulos e prevê 2021 desafiador
Auxílio emergencial e retirada de impostos foram os principais propulsores do setor que liderou a retomada da economia do terceiro trimestre; alta de 14,8% entre julho e setembro não recupera prejuízos acumulados
A disparada da indústria foi o principal impulsionador para o crescimento de de 7,7% da economia no terceiro trimestre deste ano, na comparação com os três meses anteriores. Entre julho e setembro, o setor registrou alta de 14,8%, índice acima da queda histórica de 12,3% amargada no segundo trimestre de 2020. O bom desempenho do setor foi liderado pela industria de transformação, responsável por 27,3% da alta. Apesar dos números representarem a retomada de um dos setores mais afetados pela pandemia do novo coronavírus, empresários enxergam com ceticismo a capacidade de manutenção deste ritmo e projetam um futuro bastante desafiador. A preocupação é como o segmento irá de comportar em 2021 após a extinção do auxílio emergencial. A redução pela metade do benefício já reflete no setor, que ainda não recuperou os prejuízos acumulados ao longo do ano e aguarda resultados mais modestos no quarto trimestre 2020. Pesa também na conta dos empresários a retirada dos programas de manutenção de empregos patrocinados pelo governo federal e a volta da cobrança integral de impostos e tributos.
Para Fernando Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), a euforia causada pela distribuição do auxílio emergencial de R$ 600 foi o grande propulsor do setor no trimestre entre julho e setembro. O esfriamento do setor após o corte pela metade do benefício serve de alerta para o que esperar do próximo ano, quando a ajuda será encerrada sem a projeção de um novo programa que dê continuidade. “O mercado já está se acomodando em um patamar mais baixo de demanda em função da redução deste apoio. A partir do momento que essa ajuda esgotar, vamos começar a enxergar realmente o tamanho da situação”, afirma.
O setor cortou 12 milhões de postos de trabalho ao longo deste ano por conta da redução da demanda. Para 2021, a previsão é que ao menos metade deles sejam repostos. A precaução é justificada pelos números acumulados nos últimos meses. Apesar da recuperação vertiginosa no terceiro trimestre, nos 12 meses encerrados em outubro, o setor de vestuário acumulou retração de 24%, enquanto o segmento têxtil registrou recuo de 9%. “Vamos fechar o ano no negativo. A grande interrogação de 2021 é como ficará o orçamento do governo, as reformas estruturantes, a independência do Banco Central e o teto de gastos. Os próximos 60 dias serão muito importantes para o endereçamento destas reformas, e 2021 continuará a ter muitos desafios”, diz.
O mesmo sentimento é compartilhado por José Ricardo Roriz Coelho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Plástico (Abiplast). Segundo ele, o crescimento expressivo não causa surpresa diante dos estímulos ao consumo dados pelo governo federal. “Isso é ótimo agora, mas a conta vai chegar. O governo trocou o seu endividamento pelo consumo da população. No futuro, as famílias estarão endividas, o país aumentará o déficit fiscal e as empresas que tiveram suas dívidas postergadas terão que pagar”, afirma. Depois do forte tombo causado pela pandemia, Roriz Coelho estima que as indústrias do plástico só retomarão ao patamar pré-crise em 2023. “Continham os problemas que tínhamos antes, mas afora com o advento da pandemia”.
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