Onda de calor mata mais de 1 milhão de galinhas e faz preço dos ovos subir em SP

Município de Bastos, principal centro de produção do Estado, registra perda recorde de aves; preço pago ao produtor já subiu 7% em uma semana

  • Por Gabriel Bosa
  • 11/10/2020 08h00 - Atualizado em 11/10/2020 08h24
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Divulgação/Granja Kakimoto Cerca de 50 mil galinhas morreram na granja Kakimoto em cinco dias de forte calor

A onda de calor histórica que assolou o estado de São Paulo nas últimas semanas vitimou mais de 1 milhão de galinhas em Bastos, à 530 quilômetros da capital paulista. Em apenas uma das granjas, aproximadamente 50 mil aves morreram em cinco dias por causa do calor na casa dos 41°C, de acordo com produtores locais. O município é o principal centro de produção de ovos de São Paulo, responsável por 33% do total, segundo dados da Secretaria do Estado de Agricultura e Abastecimento. Em 2019, a produção foi de 438 milhões de dúzias. O número de galinhas poedeiras mortas representa cerca de 3% das 34 milhões de aves concentradas nas granjas do município, informou o Sindicato Rural de Bastos. “Vamos ter problemas na produção, já que as que sobreviveram vão produzir menos e ovos menores por causa do estresse causado pelo calor”, afirma o produtor e presidente da entidade, Katsuhide Maki.

A redução de galinhas impactará no recuo de 6% na produção mensal da cidade, com reflexo direto no mercado de ovos. Parte do aumento do custo de produção já foi repassado pelas granjas na semana passada. Segundo dados do Centro de Estudos em Economia Aplicada (Cepea) da Universidade de São Paulo (USP), a caixa do ovo branco com 30 dúzias aumentou 6,3% na última semana. Os ovos vermelhos tiveram aumento mais significativo, com avanço de 7,2% na semana passada. “Estamos acompanhando esse movimento desde a semana passada. A tendência no curto e médio prazos é de queda na produção. Há relatos de produtores que perderam até 20%”, diz Juliana Ferraz, analista de mercado de suínos, aves, ovos e ovinos da instituição.

Especialistas do mercado afirmam que os clientes já devem encontrar os ovos mais caros nas gôndolas a partir dos próximos dias, mas que o tamanho do aumento irá depender de cada ponto de venda. “A queda na oferta com certeza irá impactar em alta do preço, mas ainda é recente para saber quanto será. Há pouco mais de uma semana, estive em uma granja que estava cheia, e dias depois já tinha vendido todos os ovos”, afirma José Roberto Bottura, presidente da Associação Paulista de Avicultura (APA). A granja Kakimoto registrou uma das mortandades mais expressivas de Bastos. Nas contas do produtor Sérgio Kakimoto, o plantel de 800 mil aves perdeu 50 mil unidades em cinco dias de calor intenso. “Em 54 anos, nunca passamos por uma situação igual a essa. Já tivemos outras ondas de calor, mas nenhuma tão forte e que durasse por vários dias”, afirma.

A alta pressionada pela queda na produção deve repor parte dos prejuízos acumulada pelos produtores nos últimos meses. A disparada da cotação do farelo de milho e da soja no mercado internacional, aliado ao fechamento de pontos de venda por causa da pandemia do novo coronavírus achatou a margem de lucro das granjas e reverteu perdas aos produtores. Segundo Kakimoto, nas semanas anteriores à onda de calor, a caixa com 360 ovos era comercializada a aproximadamente R$ 85, ante os R$ 110 despendidos para a produção. “Nós já estávamos tendo prejuízos por causa do fechamento de canais tradicionais de distribuição, como as escolas e os restaurantes industriais”, afirma.

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