Piora das contas públicas é a causa do aumento da Selic
A pressão de demanda, o aumento do dólar e a piora das expectativas não são a causa da inflação e, portanto, do aumento de juros, mas consequência do elevado gasto público
O Banco Central (Bacen) justificou a elevação unânime da Selic de 10,75% a.a. para 11,25% a.a. De acordo com o Bacen, o aumento decorreu basicamente por três fatores: I. Atividade econômica e mercado de trabalho mais aquecidos, II. Desancoragem das expectativas inflacionárias, e III. Elevação do dólar. Muita gente deve se perguntar: mas não é bom crescimento do PIB acima do esperado e taxa de desemprego em queda? Com certeza, desde que não traga pressões inflacionárias; caso contrário, não é um crescimento sustentável. Crescer de maneira sustentável é aumentar o PIB sem gerar um processo inflacionário.
Atualmente, ocorre uma pressão de demanda diante de uma oferta (produção) estagnada, o que puxa os preços para cima. Um mercado de trabalho mais aquecido também significa mais demanda – o que é ótimo -, porém, se a produção não acompanhar a elevação de consumo das pessoas, os preços sobem. Esse processo já ocorre no Brasil, tanto é verdade, que a inflação deverá terminar 2024 ligeiramente acima da meta de 4,5%.
O segundo ponto que justificou a elevação dos juros é a tal da desancoragem das expectativas inflacionárias, que significa acreditar que haverá mais inflação pela frente. Com o receio de aumento de preços no futuro, os empresários se antecipam, reajustando preços no presente, gerando inflação. Há três meses, ocorre uma piora das expectativas inflacionárias, captadas pelas projeções do relatório Focus do Banco Central.
Por fim, a alta do dólar também eleva os preços das mercadorias, na medida que no processo de produção há componentes importados e cotados em dólar. Com a elevação do custo de produção, há um repasse final no preço das mercadorias. Esses três fatores apontados para justificar a alta da Selic têm uma causa comum: a elevação do gasto público.
O governo busca crescimento do PIB via expansão da despesa pública e do crédito subsidiado, que também tem um impacto fiscal. Acontece que esses estímulos são acima da capacidade produtiva do país, o que gera inflação. O excesso de gasto também piora as expectativas inflacionárias e eleva o preço do dólar, trazendo pressão sobre os preços, conforme destacado pelo próprio comunicado do Banco Central.
Dessa forma, a pressão de demanda, o aumento do dólar e a piora das expectativas não são a causa da inflação e, portanto, do aumento de juros, mas consequência do elevado gasto público. Com isso, conclui-se que o descontrole das contas públicas é a principal causa da inflação e do aumento da Selic. O Banco Central deixou isso claro.
*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.
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