Bancos argentinos fecham o cerco contra transações ilegais em dólar

Instituições bloquearam contas suspeitas de comprar e vender a moeda americana acima da cota mensal de US$ 200; busca por mais dólares reflete desconfiança diante da piora da crise econômica

  • Por Gabriel Bosa
  • 30/07/2020 07h00
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EFE/David Fernández Casa de câmbio no centro de Buenos Aires, capital da Argentina

Ao menos 10 bancos argentinos bloquearam contas suspeitas de terem sido usadas para fraudar transações de compra e venda de dólares. A ação deflagrada nas últimas semanas visa inibir que usuários burlem o limite mensal de US$ 200 para compra da moeda estrangeira imposto pelo Banco Central da República Argentina (BCRA) desde outubro de 2019. A busca por mais dólares que o permitido é um sinal da desconfiança da população diante do endurecimento da crise econômica caso o governo federal não honre o pagamento de parte dos empréstimos internacionais que vencem na próxima terça-feira, 4. “Na Argentina, é cultural o uso do dólar como uma reserva financeira. E, quando se gera uma insegurança, é natural que essas pessoas busquem a moeda estrangeira”, explica Walter Franco, professor de economia do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (Ibmec).

As suspeitas de fraudes nos saques acima do permitido pelo governo da Argentina se assemelham às irregularidades vistas no Brasil durante o cadastro do auxílio emergencial, segundo Ricardo Rocha, pesquisador do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper). “Provavelmente, o que fizeram lá foi o mesmo que aqui: pegam documentos de outras pessoas para realizar o saque. Mas lá eles devem pegar o valor e revender no mercado negro por um preço acima do pago pelo governo.”

A restrição de US$ 200 por mês para pessoas físicas foi imposta pelo ex-presidente Mauricio Macri no fim de outubro do ano passado como forma de proteger as reservas cambiais do país. Antes, o limite era de US$ 10 mil mensais. A medida foi mantida pelo atual presidente Alberto Fernandez diante da deterioração da economia argentina, principalmente após os impactos da crise causada pelo novo coronavírus. A manutenção das reservas em dólares é essencial para a economia da Argentina devido ao seu alto endividamento internacional na moeda-norte americana.

A ação das instituições financeiras não é um controle ao saque das contas bancárias dos cidadãos. O bloqueio é feito temporariamente, e apenas para as transações digitais. As contas notificadas são averiguadas, e caso seja confirmada a fraude, os titulares podem responder processo de acordo com as normas do banco central. As reservas em dólares da Argentina se reduziram pela metade, para aproximadamente US$ 40 bilhões, desde o arrefecimento da crise econômica no segundo semestre do ano passado. Para comparação, ao fim de 2019, o Brasil mantinha US$ 356 bilhões em reservas, segundo dados do Banco Central. “Sem reservas internacionais, um país fica com problemas para importar. Tipicamente, se espera que um país tenha reservas internacionais para o equivalente a 6 meses de importação”, explica Carlos Braga, professor de economia internacional da Fundação Dom Cabral.

O efeito dessa disparidade é sentido nas ruas com o aumento da inflação. Em julho, o índice subiu 2,2%, e acumula alta de 42,8% nos últimos 12 meses. O reflexo é a perda do valor do peso argentino diante do dólar. Nesta quarta-feira, 29, os argentinos precisavam gastar 72,19 pesos para comprar uma nota de US$ 1.

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