No Equador, indígenas lideram greve geral contra Lenín Moreno

Historicamente, os grupos indígenas são protagonistas na política equatoriana. A Confederação Nacional Indígena do Equador (Conaie) já apoiou a destituição de três presidentes do país

  • Por Jovem Pan
  • 09/10/2019 15h57
EFE/ José Jácome manifestantes-invadem-a-assembleia-no-equado Manifestantes invadem Assembleia Nacional do Equador

Uma greve geral convocada por grupos indígenas que se opõem ao presidente do Equador, Lenín Moreno, provocou o bloqueio de estradas, paralisações no transporte público e o fechamento do comércio em Quito e outras cidades do país nesta quarta-feira (9).

A Confederação Nacional Indígena do Equador (Conaie) reuniu 6 mil indígenas nos arredores da capital equatoriana para pedir a renúncia de Moreno. Eles marcharam de pontos da Amazônia e da Cordilheira dos Andes em protesto contra as reformas econômicas de Moreno, que levaram ao aumento de 123% no preço dos combustíveis.

Em Guayaquil, para onde transferiu a sede do governo depois de decretar estado de exceção em consequência dos protestos, Moreno descartou renunciar e revogar as medidas, anunciadas após um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) no valor de US$ 42 bilhões.

O presidente também rejeitou diálogo com os grupos indígenas. “Não tenho motivos para renunciar pois estou tomando as decisões corretas”, disse Moreno.

Revolta contra acordo com o FMI

Na manhã desta terça, os militares, que apoiam Moreno, pediram que a greve ocorra sem violência. Nos últimos dias, ao menos 700 pessoas foram presas nos protestos contra o presidente, que assumiu o governo em 2017 e se distanciou do padrinho político, o ex-presidente Rafael Correa, ao adotar uma política econômica pró-mercado.

A Conaie acusou o governo de atuar como uma ditadura militar ao reprimir os protestos. Na noite desta terça-feira (8), o presidente decretou toque de recolher em alguns bairros de Quito que abrigam prédios públicos, depois de um grupo de manifestantes ter invadido a Assembleia Nacional.

“O governo tem dado dinheiro aos bancos e punido os equatorianos mais pobres”, disse o presidente da Frente Unida dos Trabalhadores, Messias Tatamuez, um dos sindicatos que apoia a paralisação. “Pedimos que todos que sejam contra o FMI, o responsável pela crise, que se juntem à greve.”

Quem são os indígenas do Equador

Historicamente, os grupos indígenas têm um papel de protagonistas na política equatoriana. Durante a instabilidade dos anos 90 e 2000, a Conaie apoiou a destituição dos presidentes Jamil Mahuad, Abdalá Bucaram e Lucio Gutiérrez. Na época, o Equador teve oito presidentes em dez anos.

Com a chegada de Correa ao poder, em 2007, o país viveu um período de estabilidade econômica e política graças ao ao forte crescimento das commodities e políticas sociais do presidente, que reformou a Constituição para se reeleger.

No começo do mandato, Correa se aproximou de lideranças indígenas. Adotou símbolos quéchuas – etnia da maioria dos indígenas do país – em seus discursos, aparições públicas e aprovou leis de interesse da comunidade.

A partir do segundo mandato, a exploração mineral da Amazônia equatoriana abriu uma cisão entre Correa e a Conaie. Uma marcha similar à atual foi convocada contra o presidente, em 2015.

Em 2017, no entanto, Correa surpreendeu a todos ao desistir da reeleição e indicar Moreno, que foi seu vice-presidente. No poder, ambos romperam e Moreno se aproximou da oposição.

*Com informações do Estadão Conteúdo

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