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CPI da Covid-19 mira dossiê de Roberto Dias para esclarecer existência de ‘cabo de guerra’ na Saúde

A prisão de Roberto Ferreira Dias, ex-diretor de logística do Ministério da Saúde, acusado de mentir sob juramento na CPI da Covid-19, nesta quarta-feira, 7, foi o lance final de uma sessão que durou mais de sete horas e que estava cercada de expectativa por uma declaração bombástica, uma espécie de delação premiada que estaria documentada em um dossiê feito por Dias para se blindar das acusações e mostrar uma suposta interferência da Casa Civil e de outros setores do governo do presidente Jair Bolsonaro na pasta responsável por coordenar as políticas públicas de enfrentamento à crise sanitária causada pela pandemia do novo coronavírus.

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Segundo apurou a Jovem Pan, interlocutores do ex-diretor do Ministério da Saúde levaram aos integrantes da CPI a informação de que Roberto Dias havia preparado um dossiê sobre casos de corrupção na pasta e que iria à comissão disposto a “entregar todo mundo”. O mesmo recado foi transmitido ao Palácio do Planalto, a fim de alertar que abandonar um soldado ferido na estrada seria um erro. O documento secreto estaria na Espanha, sob os cuidados de seu primo, Ronaldo Dias – no meio da sessão, o relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), perguntou a Dias quem era Ronaldo, mas o depoente se limitou a confirmar o laço familiar. “O senhor sabe que fez um dossiê para se proteger. Eu estou afirmando. Sabemos onde está e com quem está. Não vou citar nomes para não atrapalhar as investigações”, afirmou Omar Aziz (PSD-AM), presidente do colegiado – Roberto Dias não negou nem confirmou.

Em outros momentos, os senadores pediram que o ex-diretor desse detalhes de um “cabo de guerra” que estaria ocorrendo no Ministério da Saúde entre militares e indicados políticos. À CPI, Dias confirmou que três de seus subordinados foram exonerados e substituídos por militares assim que o general Eduardo Pazuello assumiu o comando da pasta. O ex-diretor de logística também transferiu a responsabilidade das tratativas para a compra de vacinas ao braço-direito de Pazuello, o secretário-executivo Elcio Franco Filho, coronel do Exército. Porém, quando questionado sobre por que foi exonerado, Dias disse desconhecer os motivos. O senador Eduardo Braga (MDB-AM), líder do MDB no Senado, lembrou que o servidor sofreu uma série de retaliações: sua indicação para o cargo de diretor da Anvisa foi retirada e, meses depois, foi exonerado depois de ser acusado de cobrar propina de US$ 1 por dose da vacina da AstraZeneca, em um negócio que seria intermediado pela Davati Medical Supply.

Nos próximos dias, o suposto envolvimento de integrantes do governo em escândalos de corrupção na compra de vacinas seguirá na mira da CPI da Covid-19. Na terça-feira, 13, será ouvida Emanuela Medrades, diretora da Precisa Medicamentos, empresa que intermediou a compra da vacina Covaxin. Na quarta-feira, 14, a comissão recebe o reverendo Amilton Gomes de Paula, presidente da Secretaria Nacional de Assuntos Humanitários (Senah), responsável por levar ao Ministério da Saúde a proposta de 400 milhões de doses da AstraZeneca. Na quinta-feira, 15, ocorrerá a oitiva de Cristiano Alberto Carvalho, CEO da Davati no Brasil. No dia seguinte, será a vez do tenente-coronel Marcelo Blanco prestar esclarecimentos ao colegiado – ele participou do jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, no dia 25 de fevereiro, quando o pedido de propina teria sido feito por Roberto Ferreira Dias. Por fim, no dia 20 de julho, os senadores vão inquirir o líder do governo na Câmara dos Deputados, Ricardo Barros (PP-PR). Segundo o deputado federal Luis Miranda (DEM-DF), Barros foi citado pelo presidente Jair Bolsonaro como “dono do rolo” envolvendo a importação da Covaxin.

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