Em última semana de depoimentos, CPI da Covid volta ao caso VTCLog e mira Prevent Senior

Senadores vão ouvir sócio de empresa que tem contrato com Ministério da Saúde, médicos apontados como autores de dossiê contra operadora e presidente de órgão que regula planos de saúde

  • Por André Siqueira
  • 03/10/2021 18h00
Jefferson Rudy/Agência Senado Três homens brancos sentados em uma mesa um ao lado do outro com placas com seus nomes à frente. Usam terno, o da esquerda e meio terno preto e o da direita cinza Relatório do senador Renan Calheiros será votado no dia 20 de outubro

Pouco mais de cinco meses depois da primeira sessão, a CPI da Covid-19 terá a última semana de depoimentos antes da leitura e da votação do relatório do senador Renan Calheiros (MDB-AL), previstas para os dias 19 e 20 de outubro. Instalada para apurar ações e omissões do governo Jair Bolsonaro no combate à pandemia do novo coronavírus, a comissão poderia manter os trabalhos até o início do mês de novembro, mas os parlamentares que a integram avaliam que cumpriram o seu papel e já possuem elementos suficientes para apresentar um documento consistente e contundente, como definiu, nesta última semana, o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP). Como a Jovem Pan mostrou, o parecer do emedebista deve propor o indiciamento do chefe do Executivo federal por alguns crimes, entre eles o de prevaricação. Nas três últimas oitivas, o colegiado volta ao caso VTCLog e fecha a investigação ouvindo personagens envolvidos com o caso Prevent Senior, empresa acusada de utilizar pacientes como “cobaias humanas” para o teste de medicamentos comprovadamente ineficazes para o tratamento da Covid-19.

Na terça-feira, 5, os senadores vão ouvir Raimundo Nonato Brasil, sócio da VTCLog. A empresa tem contrato com o Ministério da Saúde e é responsável por toda a logística de insumos, inclusive a de vacinas contra o coronavírus. A ideia dos parlamentares era receber Carlos Alberto de Sá, o Carlinhos, dono da companhia. Entretanto, ele apresentou um atestado médico, no qual alega estar fazendo um tratamento contra o câncer, e foi dispensado pela direção da CPI. No início do mês de setembro, o ministro Benjamin Zymler, do Tribunal de Contas da União (TCU), suspendeu um aditivo ao acordo da VTCLog com a Saúde, assinado pelo então diretor de Logística da pasta, Roberto Ferreira Dias, e apontou a possibilidade de que o acordo celebrado tenha configurado uma tentativa de fraude aos cofres públicos. Antes disso, no dia 1º de setembro, a comissão recebeu o motoboy Ivanildo Gonçalves, que admitiu ter entregado dinheiro vivo em endereços de Carlinhos. O colegiado também diz ter provas de que o funcionário pagou boletos bancários em nome de Dias.

Na quarta-feira, 6, a CPI deve ouvir o casal de médicos George Joppert e Andressa Joppert, apontado como membro do grupo que elaborou um dossiê contra a Prevent Senior, ao qual a Jovem Pan teve acesso – a maioria dos nomes dos responsáveis pela criação do documento está sob sigilo. No material enviado aos senadores, além dos casos já explorados, como o uso de medicamentos comprovadamente ineficazes, a alteração da ficha médica a fim de alterar o código da doença (CID) após um período de duas ou três semanas de internação e omitir a infecção por Covid-19 e a adulteração de atestados de óbitos de pacientes como Anthony Wong e Regina Hang, que morreram em um hospital da operadora de saúde, há denúncias de que profissionais eram obrigados a trabalhar infectados com a doença. A empresa nega que tenha praticado irregularidades.

Por fim, na quinta-feira, 7, o colegiado ouvirá o presidente da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), Paulo Roberto Rebello Filho. O órgão é responsável por fiscalizar a atuação de planos de saúde e deu um prazo de 10 dias, contados a partir da segunda-feira, 27, para a Prevent Senior apresentar sua defesa sobre as acusações que vem recebendo de não ter informado aos pacientes que eles estariam recebendo os medicamentos do chamado “kit-Covid”. Segundo a ANS, no curso das apurações, foram verificados elementos que contradizem a versão inicial apresentada pela empresa. “Dessa forma, foram constatados indícios de infração para a conduta de ‘deixar de comunicar aos beneficiários as informações estabelecidas em lei ou pela ANS’, tipificada no art. 74 da Resolução Normativa nº 124 de 2006”, diz nota da agência.

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