Filiação de Bolsonaro ao PL esbarra em alianças da sigla no Norte e no Nordeste

Integrantes do partido querem autonomia para manter acordos com siglas como PT e MDB; filiação do presidente, prevista anteriormente para o dia 22 de novembro, foi adiada neste fim de semana

  • Por André Siqueira
  • 16/11/2021 13h08
Dida Sampaio/Estadão Conteúdo/José Cruz/ABr Montagem com foto de dois homens de terno Alianças do PL causam 'saia-justa' a Bolsonaro em diversos Estados, como São Paulo, Amazonas, Alagoas e Piauí

O casamento do presidente Jair Bolsonaro com o Partido Liberal (PL) esbarra não apenas no acordo da sigla com o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia (PSDB), candidato de João Doria (PSDB) ao Palácio dos Bandeirantes. Nas regiões Norte e Nordeste, integrantes da legenda querem manter acordos com o PT e o MDB, por exemplo, e ameaçam deixar a agremiação comandada por Valdemar Costa Neto, preso e condenado no escândalo do Mensalão, caso a direção nacional exija total alinhamento ao mandatário do país. O caso de São Paulo é o mais complexo, avaliam integrantes do PL ouvidos pela Jovem Pan. No maior colégio eleitoral do país, os liberais têm um acordo para apoiar a candidatura de Rodrigo Garcia à sucessão do governador João Doria, um dos principais adversários políticos de Bolsonaro. Internamente, a possibilidade da costura ser desfeita é tida como impossível, uma vez que Costa Neto é conhecido por ser um homem de palavra. Em outros Estados, a possível filiação do presidente da República também deve causar desgastes. Deputado federal pelo Amazonas, o vice-presidente da Câmara dos Deputados, Marcelo Ramos (PL-AM), que declarou oposição ao governo federal, já afirmou em seu perfil no Twitter que o eventual casamento entre PL e o chefe do Executivo “não é uma situação cômoda”.

No Piauí, o PL tem uma aliança selada com o governador Wellington Dias (PT), que deve lançar o seu secretário da Fazenda, Rafael Fonteles, ao governo do Estado. A Jovem Pan teve acesso a um vídeo enviado por Valdemar Costa Neto a dirigentes piauienses da sigla. “No Estado do Piauí, o PL fará a coligação que melhor lhe convier para o governo do Estado, para senador. Temos absoluta confiança no nosso pessoal. Queremos que o nosso partido cresça”, diz o mandachuva do partido. “No Piauí, o PL criou uma das melhores chapas para federal e estadual e nós vamos ter sucesso. Por isso, eles têm que ter liberdade para fazer as coligações que melhor convierem ao partido”, acrescenta. “[Quando o assunto da filiação de Bolsonaro parecia resolvido] Fomos dizer ao Valdemar que no Piauí estávamos alinhados com o PT, mas que isso não nos impedia de votar com o governo no Parlamento. O PL tem esse alinhamento com o PT para 2022, a nível estadual. Fizemos essa explicação e o Valdemar nos deu a garantia de que teremos essa autonomia”, disse à Jovem Pan o deputado federal Fábio Abreu (PL-PI). “Para mim, hoje está mais para [a filiação] não ocorrer, porque há muitas situações complicadas”, avalia.

Em Alagoas, o ex-deputado federal Maurício Quintella (PL) é secretário de Infraestrutura do governo Renan Filho (MDB), que deve apoiar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em 2022. O emedebista é filho do senador Renan Calheiros (MDB-AL), crítico ferrenho do governo. Nas redes sociais, Quintella faz duras críticas a Bolsonaro. Em agosto, quando houve um desfile de blindados na Esplanada dos Ministérios, o político chamou o presidente da República de “genocida” e pediu o seu impeachment. No Ceará, o presidente do diretório estadual, Acilon Gonçalves, é aliado do senador Cid Gomes (PDT) e do governador Camilo Santana (PT). O ex-ministro Ciro Gomes, do PDT, irmão de Cid, é o candidato pedetista ao Palácio do Planalto. Na Bahia, deputados federais do PL apoiam a gestão do petista Rui Costa.

Desembarque do governo 

Integrantes do PL ouvidos pela reportagem afirmam que, a depender do desenlace, não está descartada um desembarque do partido da base do governo – enquanto Bolsonaro negociava com o Progressistas (PP), de Ciro Nogueira, esta possibilidade já havia sido levada por emissários de Valdemar Costa Neto ao Palácio do Planalto. No final de semana, a direção da sigla divulgou uma nota na qual afirma que a filiação do chefe do Executivo federal, inicialmente prevista para o dia 22 de novembro, foi suspensa após uma “intensa troca de mensagens” entre Costa Neto e o presidente da República. Dirigentes da sigla dizem que as declarações de Bolsonaro sobre o PL estão expondo o partido e que a eventual filiação do presidente, neste cenário, acentuaria o desgaste entre as partes. “Se Bolsonaro não vier para o partido, é um sinal claro de que o presidente [Valdemar] pode dialogar com outros políticos, como é o caso de Lula”, avalia o deputado Fábio Abreu. Sob condição de anonimato, uma importante liderança da legenda disse estar “torcendo” para que Bolsonaro desista de ingressar no partido. “O PL é unido, Valdemar administra com harmonia. Hoje, não há desgaste, mas vai haver desgaste se Bolsonaro vier. Não queremos dor de cabeça”, resume.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.