USP prevê déficit de R$ 868 milhões em 2016
A Universidade de São Paulo (USP) prevê agravamento da crise financeira que atravessa até o final do ano e estima encerrar 2016 com um déficit de R$ 868 milhões, 60% a mais do que o previsto inicialmente. A universidade informou que planeja adotar novas medidas de contenção de gastos e rever as prioridades de despesas, mas não revelou quais.
Segundo a reitoria, a crise se agravou em razão da queda da arrecadação do ICMS no Estado, as universidades públicas paulistas recebem 9,57% do total do imposto recolhido. A previsão anterior de déficit era de R$ 543 milhões, a USP contava ainda com reservas de R$ 1,5 bilhão em dezembro de 2015.
Ao mesmo tempo que o déficit de arrecadação aumenta, cresce a proporção de alunos de baixa renda que ingressam na USP e, consequentemente, a demanda por políticas de permanência estudantil. No entanto, o número de vagas na moradia estudantil da instituição (CRUSP) não aumenta desde 2011 e o auxílio-moradia segue congelado em R$ 400 há três anos.
Segundo dados do questionário socioeconômico da Fuvest, em 2015, 19,9% dos que ingressaram (2.204 estudantes) na USP tinham renda familiar mensal de até três salários mínimos. Em 2008, os ingressantes com essa faixa de renda eram 12,2% do total de matriculados (1.249). Ao ingressar na USP, o aluno que estiver na primeira graduação e tiver renda familiar de até três salários mínimos pode solicitar moradia.
No entanto, desde 2011, a instituição não aumenta o número de vagas nas moradias estudantis em São Paulo e nos câmpus do interior. Há cinco anos, a USP oferece as mesmas 2.703 vagas. Questionada, não informou se pretende ampliá-las.
Em nota, a gestão universitária informou que priorizou os investimentos na “política de permanência estudantil como um todo” e que aumentou de 1.356, em 2011, para 3.970, em 2015, o número de auxílios-moradia concedidos. O auxílio, de R$ 400, não tem reajuste desde junho de 2013, com inflação de 26,1% no período, segundo o IPCA, a correção do valor seria de R$ 504.
Rafael Ferreira Silva, de 21 anos, estudou em escolas públicas de Guarulhos, na Grande São Paulo e, no ano passado, foi aprovado em Engenharia na Escola Politécnica, curso com uma das maiores notas de corte. Apesar de atender aos requisitos, ele não conseguiu vaga na moradia e só obteve o auxílio-aluguel no fim do primeiro semestre.
“Gastava 5 horas por dia de transporte entre Guarulhos e a USP e não tinha tempo para estudar. Fui mal em todas as provas e sabia que esse histórico ruim iria me prejudicar”, contou. Depois de conseguir a bolsa, ele prestou vestibular pela segunda vez para entrar no mesmo curso e refazer as matérias. Silva contou que, por morar perto da universidade, conseguiu tempo para estudar e tirou boas notas.
Desperdício
Especialistas em ensino superior avaliam que a faculdade adotou políticas nos últimos anos que favoreceram a inclusão de alunos de escola pública e, consequentemente, com perfil de renda familiar mais baixo. No entanto, não garantiu que essa inclusão fosse acompanhada de políticas de assistência a esses estudantes.
Para Ocimar Alavarse, professor da Faculdade de Educação da USP, ao investir na assistência aos estudantes a instituição evitaria o desperdício de cursos com taxas altas de evasão e repetência, “tem de ampliar a inclusão, mas também o suporte aos alunos. Se não, a entrada desses estudantes será uma armadilha, você o traz para a USP, mas não dá chance para ele progredir.”
Renato Pedrosa, especialista em Políticas de Educação Superior, disse que o orçamento “apertado” com a folha de pagamento e a queda nos repasses do Estado fazem com que políticas como a de assistência estudantil acabem sofrendo os impactos da crise, “a inclusão sem estar aliada às ações de permanência faz com que a universidade incorra no desperdício.”
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