Jura: o encanto dos vinhos singulares e do tradicional Vin Jaune

Com clima continental influenciado pelos Alpes, região se destaca por bebidas de personalidade única, produzidas a partir de métodos tradicionais e uvas autóctones

  • Por Esper Chacur Filho
  • 08/12/2024 10h00
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Esper Chacur Filho/Arquivo Pessoal Garrafa de vinho com taça ao lado denominação Château-Chalon é dedicada exclusivamente ao emblemático Vin Jaune

A região de Jura, situada no leste da França entre a Borgonha e a Suíça, é um dos menores e mais singulares territórios vitivinícolas do país gaulês. Com paisagens montanhosas e um clima continental influenciado pelos Alpes, o Jura se destaca por vinhos de personalidade única, produzidos a partir de métodos tradicionais e uvas autóctones. A viticultura da região remonta à época romana, mas foi na Idade Média que os vinhos do Jura começaram a ganhar renome. 

A diversidade do Jura reflete-se em suas castas, que incluem variedades locais e algumas clássicas da França. Das brancas temos a Savagnin, que é a estrela da região, usada para produzir os icônicos Vin Jaune e os vinhos da denominação Château-Chalon. É uma uva de acidez marcante, capaz de envelhecer por décadas. A Chardonnay também se faz por lá presente. Conhecida como Melon d’Arbois no Jura, é amplamente cultivada e usada para vinhos mais frescos e frutados, além de blends. Das tintas o destaque é para a Poulsard (Ploussard): leve e delicada, dá origem a vinhos tintos claros e aromáticos. Outra, a Trousseau, entrega vinhos estruturados e mais potentes. A Pinot Noir, embora menos presente, adiciona complexidade e é usada tanto em varietais quanto em blends.

A denominação Château-Chalon é dedicada exclusivamente ao emblemático Vin Jaune (vinho amarelo), produzido com 100% da uva Savagnin. Localizada em um pequeno enclave no Jura, essa AOC é famosa por seu terroir de solos argilo-calcários e encostas bem drenadas. Seu método de produção é peculiar; após a fermentação, o Vin Jaune é envelhecido por pelo menos seis anos e três meses em barris de carvalho sem serem completamente preenchidos, permitindo a formação de um “véu” de leveduras. Este processo único confere aos vinhos uma complexidade incomparável, com notas de nozes, especiarias, frutas secas e uma notável mineralidade.

O Vin Jaune é engarrafado em garrafas específicas chamadas clavelins (620 ml), simbolizando a perda de líquido durante o envelhecimento. Tal vinho é conhecido por sua incrível longevidade. Quando armazenado corretamente, pode evoluir por décadas, mantendo-se vibrante e cheio de nuances. Por sua complexidade e perfil único, o Vin Jaune harmoniza com queijo Comté envelhecido, que é praticamente uma combinação obrigatória. Vai bem com pratos com curry, graças às notas picantes do vinho; também segue bem com frutos do mar intensos, como lagostins.

Há farta oferta de vinhos do Jura por aqui e cito, dos brancos, o Savagnin Ouillé – Domaine Tissot — que se revela fresco, revigorante e elétrico; outro banco excelente é o J. Arnoux Arbois “Nuance”, um Assemblage das duas castas brancas mais importantes do Jura. Dos tintos destaco o Trousseau Singulier, da Tissot, que bem guarda todo o terroir da região e, ainda, sugiro, o Domaine Marie Grand Mineral Pinot Noir, que expressa uma faceta muito curiosa desta casta tão conhecida na Borgonha. Já para o Vin Jaune, a sugestão é o Champ Divin Côtes Du Jura Vin Jaune, que captura a essência de 100% Savagnin cultivado em solos de marga cinza e azul da parcela Aux Molates; e, claro, uma excelente opção é o Vin Jaune “Les Bruyères”, da Domaine Tissot. 

Os vinhos do Jura, com sua combinação de métodos tradicionais e terroir único, são um convite a explorar um dos capítulos mais autênticos da viticultura francesa. Desde os vinhos frescos e vibrantes até as raridades como o Château-Chalon, eles oferecem experiências sensoriais marcantes e infinitas possibilidades de harmonização. Salut!

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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