Gaviões da Fiel vai pregar a tolerância religiosa no desfile do Anhembi
Escola ligada ao Corinthians foi campeã pela última vez há 20 anos e tenta repetir o feito em 2023
Em São Paulo, a escola de samba Gaviões da Fiel é uma das mais antigas no quesito de mistura entre futebol e samba. Fundada no final da década de 1960, o clube ligado ao Corinthians deu seus primeiros passos no Carnaval de forma simples, nos braços do povo e no bairro do Bom Retiro. Foi em 1973, quando a diretoria da época quis arrumar um jeito de manter os torcedores reunidos quando o Timão não estava jogando, que surgiu efetivamente a agremiação. No começo, os integrantes da organizada alvinegra passaram a desfilar em uma ala da Vai-vai, uma das mais tradicionais escolas de samba de São Paulo. O primeiro desfile no grupo de acesso foi em 1979 e, logo de cara, foi vice-campeã. No grupo especial é tetracampeã, vencendo em 1995, 1999, 2002 e 2003. Com último título conquistado há 20 anos, a Gaviões apresentará um tema conhecido pelos alvinegros para tentar ser campeã outra vez, a religião. O samba-enredo exalta o sincretismo religioso no Brasil em toda a sua diversidade: “Em nome do pai, dos filhos, dos espíritos e dos santos, amém”. Nele é transmitido não só a fé corintiana, mas também uma das principais características da Fiel, a diversidade do povo.
O espiritismo, religiões africanas e indígenas e o cristianismo desfilarão por uma hora no palco do samba paulistano. Mais do que representar a diversidade religiosa, o enredo apresenta o respeito e a tolerância a todas as religiões, como conta o carnavalesco Júlio Poloni: “A gente trata de um mundo novo, de um novo dia que enfim clareia, um mundo em que todas as pessoas se respeitam e entendem que a diversidade religiosa é uma riqueza que a gente tem, principalmente no nosso país. E nesse novo tempo que o enredo retrata, todos os povos convivem em comunhão sabendo do valor, da virtude de todas as fés. Se respeitam e convivem harmonicamente”.
Desde abril, Poloni e todo o grupo que compõe a organização da Gaviões da Fiel têm trabalhado incansavelmente. Para este ano, o cenário é melhor do que no ano passado, já que conseguiram montar grande parte dos carros alegóricos de forma antecipada. O enredo filosófico demandou mais de todos os trabalhadores, o que Poloni considera um desafio que tem sido concluído dentro do esperado. Outro desafio é o fato da escola não suar a cor verde em nada em seus desfiles, já que ela é a cor do principal rival, o Palmeiras. “A gente tem que encontrar soluções. A gente tem que conseguir falar da Mata Atlântica sem utilizar essa cor. ,as a gente consegue! O Carnaval é é maravilhoso por isso. A gente não precisa se ater à realidade, a gente pode sonhar, a gente pode criar um mundo novo. E no mundo dos gaviões essa cor não não existe. Mas nosso mundo não é menos colorido por isso. Talvez seja até mais”, diz o carnavalesco.
A expectativa de Poloni é de que a Gaviões, que ficou em oitavo lugar em 2022, retorne para as primeiras colocações e esteja no dia 25 de fevereiro no desfile das campeãs. O sonho é compartilhado por todos que trabalham no galpão da escola. Novaldo Filho é da harmonia e, todos os dias, fica cerca de dez horas na fábrica para ajudar na produção e confecção das fantasias. Como tantos outros, ele chegou até a escola por meio da paixão pelo futebol e, há 14 anos, divide o amor entre a bola e o samba. Ele conta que todo ano é como se fosse o primeiro e que não dá para conter a emoção. “Quando você chega na avenida e vê tudo aquilo pronto, a escola montada, vem aquela emoção que não dá para segurar, principalmente quando começam a cantar o hino da escola, que vem a exaltação da escola. A ansiedade ocorre como se fosse o primeiro desfile”.
A figurinista Jô se voluntariou para ajudar na produção das fantasias e diz se surpreendeu com o que tem vivenciado: “É muito trabalho, muita correria, mas, para mim, é uma experiência muito incrível. Você saber cada pedrinha, cada brilho, você saber… aquela ala passar e falar ‘gente, eu sou cada detalhe que está dentro daquela fantasia, no adereço’. Então não tem como não se emocionar”, diz ela. Além de muito empenho e trabalho, a Gaviões da Fiel conta agora, na reta final, com uma boa dose de fé corintiana.
*Com informações da repórter Camila Yunes
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