Mesmo com fiscais, SP tem aglomerações em região boêmia; donos de bares já falam em prejuízos

Para alguns especialistas, operar com 40% de capacidade de funcionamento pode ser mais prejudicial financeiramente do que manter os restaurantes fechados

  • Por Jovem Pan
  • 05/12/2020 10h14
CLAUDIA MARTINI/AM PRESS & IMAGES/ESTADÃO CONTEÚDO Fase amarela não permite bares e restaurantes abertos após 22h

Apesar dos apelos das autoridades e das restrições impostas para o combate da Covid-19, muitas pessoas continuam se arriscando. Na região mais boêmia da capital paulista, o cenário na noite desta sexta era de bares com mesas praticamente lotadas e muitos clientes sem máscara. Ainda assim, está muito longe de parecer a Vila Madalena do período pré-pandemia, quando todas as ruas e calçadas ficavam tomadas por jovens aos finais de semana. O dono de um dos bares, Nelson Capeletto, afirma que o setor vem sendo prejudicado de maneira injusta. “Se ele fosse ver mesmo pela questão da saúde ele teria que travar o metrô, travar grandes aglomerações, como 25 de março, e só nosso segmento aqui que uma hora faz muita diferença. Hoje é um dia que você viu a Vila Madalena morta, parece uma segunda-feira, e não compensa nem abrir”, diz.

O estado voltou à fase amarela do plano de flexibilização da quarentena na última quarta-feira e desde então o comércio e serviços estão funcionando por menos tempo e com capacidade reduzida. A queda do movimento é visível. Muitos clientes deixaram de ir até os bares e restaurantes por medo da infecção e também por causa do novo horário de fechamento, às 10 da noite, considerado muito cedo. Desde o início da pandemia, uma cantina na centro da cidade viu o movimento cair cerca de 70% durante a semana e 50% aos finais de semana. A agenda de reservas, que costumava ficar lotada nesta época do ano, agora tem espaço sobrando.

A Viviane Gomes da Silva voltou a frequentar o local em agosto e para se sentir mais segura, ela não economiza nas medidas de prevenção. “A gente chega aqui e passa o álcool em gel, eu venho de máscara, então tem toda uma diferença sim de porte. Agora, por exemplo, você vai na periferia onde eu moro e você vê o pessoal nos bares, no salão de cabeleireiro, tudo sem máscara, sabe? Isso eu estou falando porque é na porta da minha casa, é o que eu vejo”, afirmou. O proprietário Leonel Paim afirma que os restaurantes não são os culpados pelo aumento de infecções na cidade. “Colocaram todo mundo no mesmo balaio assim, né? A gente sabe que nos bairros da periferia tem pancadão, tem bares que lotam excessivamente. Não é todos os bares que lotam assim, nem todos os restaurantes, então tem restaurante tomando os cuidados devidos, de distanciamento, álcool em gel, medindo a temperatura na porta, mas tem gente fazendo bagunça”, analisou.

O presidente do conselho estadual da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes, Percival Maricato, concorda e diz que o setor não merecia as restrições impostas pelo governo. “Bares e restaurantes vão sofrer muito, porque se já tinham dívidas e esperavam faturar alguma coisa no fim do ano, agora é que não vão faturar coisa alguma, porque para ficar aberto com 40% é melhor ficar fechado. O prejuízo é bem menor. Foi injusto, é muito prejudicial”, afirmou. O governo do estado argumenta que a volta para a fase amarela é uma medida de prudência e que a decisão recebeu aval de médicos especialistas do Centro de Contingência do coronavírus em São Paulo. Começou nesta sexta uma força-tarefa de fiscalização do uso de máscaras e respeito às normas de distanciamento social em estabelecimentos comerciais. Desde julho, a vigilância sanitária estadual já realizou cerca de 110 mil inspeções com uma aplicação de mais de 1000 multas por descumprimento de regras.

*Com informações da repórter Letícia Santini

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