Relatório da CIA sobre ex-presidente Geisel repercute no meio político

  • Por Jovem Pan
  • 12/05/2018 08h46 - Atualizado em 12/05/2018 09h40
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Divulgação/Palácio do Planalto Foto oficial do general Ernesto Geisel, presidente do Brasil entre 1974 e 1979

Provoca reações fortes em Brasília o memorando americano de 1974 que revela que o ex-presidente Enerto Geisel, considerado o autor da abertura lenta, gradual e segura da Ditadura para a democracia, na verdade, concentrava as ordens de execução. O documento relata mais de 100 executados.

O relatório que aponta que o ex-presidente Ernesto Geisel autorizou a continuação da política de “execução sumária” da ditadura militar repercutiu no meio político.

O documento afirma que quando Geisel chegou ao poder em 1974, foi informado de que 104 pessoas haviam sido mortas pelo governo anterior, de Emílio Médici.

De acordo com os norte-americanos, o Centro de Informação do Exército consultou Geisel se deveria manter a política de execução. E o então novo presidente autorizou em casos excepcionais, com aval do Planalto.

Um documento que muda a maneira de se falar da história do Brasil e que, para o ex-coordenador da Comissão da Verdade, Pedro Dallari, é a prova de que o ex-presidente Geisel, na presença do seu sucessor, o então chefe do Serviço Nacional de Informações (SNI), João Figueiredo, autorizava as execuções de opositores ao regime, considerados como subversivos e perigosos, com a pena de morte.

“Até hoje as forças armadas têm dificuldade de reconhecer a responsabilidade institucional que têm por essas graves violações e execuções de adversários”, avalia Dallari. Ele destaca que o reconhecimento é importante para que as forças armadas “superem” esse período histórico

Dallari afirma que os fatos relatados no documento já eram conhecidos, mas que agora se sabe mais detalhes

Para o ex-ministro da Defesa, ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, este documento ainda não chegou ao governo e a ordem é não se pronunciar oficialmente. Para Jungmann, o documento não abala a credibilidade das Forças Armadas.

O secretário nacional de Segurança Pública, general Carlos Alberto Santos Cruz, afirmou que este memorando da CIA tem que ser analisado com profundidade.

Defensor do regime militar no Brasil, o deputado e pré-candidato a Presidente Jair Bolsonaro, do PSL, minimizou a questão. Para ele, naquele momento “ou o Exército botava pra quebrar, ou o Brasil estava perdido”. Bolsonaro contestou o relatório.

“Errar até em casa de vez em quando você erra. Quem não já deu um tapa no bumbum do filho e depois se arrependeu? Acontece”, comparou. “O que pode ter acontecido com esse agente da CIA? Quantas vezes você já não falou num canto: ‘ah, tem que matar mesmo, tem que bater, tem que dar canelada’. Talvez esse cara tenha ouvido uma conversa como essa e mandou. Cadê os 104 mortos?”, questionou.

Já a pré-candidata a Presidente pelo PC do B Manuela D’ávila disse que a revelação do documento perturba a todos que têm “uma história de luta pela memória e a verdade dos tenebrosos anos de ditadura militar”.

A deputada Maria do Rosário, do PT, também criticou o regime.

“Até hoje pais e mães procuram seus filhos desaparecidos. Nós devemos nos posicionar contra a Ditadura ali na imoralidade revelada hoje por esse documento, identificado nos EUA porque, no Brasil, mesmo com a Comissão Nacional da Verdade, os arquivos foram todos destruídos, maquiados”, disse Rosário.

A OAB, Ordem dos Advogados do Brasil, também se manifestou. Em nota, o presidente da entidade Cláudio Lamachia diz que o documento traz um fato novo extremamente grave à discussão sobre o período. A Ordem reitera que é preciso jogar luz sobre os fatos obscuros da ditadura para que eles não se repitam jamais.

O professor e pesquisador de Direito Internacional da Fundação Getúlio Vargas, Matias Spektor, que divulgou o memorando da CIA, acredita que outros documentos virão. Spektor disse que o documento mostra que mesmo durante a abertura do regime a eliminação de opositores ainda era praticada.

O Ministério da Defesa emitiu uma nota em que afirma, que os documentos sigilosos, relativos ao período em questão e que eventualmente pudessem comprovar veracidade dos fatos narrados foram destruídos, de acordo com as normas existentes à época.

Com informações de José Maria Trindade e Levy Guimarães, de Brasília, e Afonso Marongoni, de São Paulo

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