Menos bola, mais escândalos: 2015, o ano de prisões, renúncias e crises na Fifa

  • Por Jovem Pan
  • 18/12/2015 17h54
Montagem sobre EFE/Reuters/Fifa/Guilherme Pessoa Em 2015

A Fifa já é acusada de ser uma entidade corrupta e pouco democrática há um bom tempo. No entanto, foi em 2015 que as suspeitas e acusações se transformaram em escândalos, prisões e renúncias. Com a entrada da justiça americana na jogada, a entidade passou a estar no foco do noticiário mundial não por conta do que acontece nos campos, mas por aquilo que seus diretores aprontaram fora deles. Depois de 2015, a administração do futebol, no mundo e no Brasil, pode não ser mais a mesma.

Confira, em mais uma parte da retrospectiva do Jovem Pan Online sobre 2015, os escândalos e crises que envolveram a Fifa e outras entidades poderosas do mundo da bola.

O ataque surpresa

A atuação da Fifa no cenário do futebol teve sua grande mudança no dia 27 de maio. Na parte da manhã, as polícias dos Estados Unidos e da Suíça agiram em conjunto para prender sete dirigentes da entidade durante na capital do país europeu, onde fica localizada a sede da Fifa. Entre os presos, todos acusados de corrupção, estava José Maria Marin, presidente da CBF de 2012 a 2015, e Jeffrey Webb, então presidente da Concacaf (Confederação de Futebol da América do Norte, Central e Caribe).

“O indiciamento sugere que a corrupção é desenfreada, sistêmica e tem raízes profundas tanto no exterior como aqui nos Estados Unidos”, disse, na ocasião, Loretta Lynch, secretária de justiça dos EUA. “Essa corrupção começou há pelo menos duas gerações de executivos do futebol que, supostamente, abusaram de suas posições de confiança para obter milhões de dólares em subornos e propina”.

Mas a ação não atingiu apenas os cartolas. Empresários, como o brasileiro José Hawilla, dono da Traffic, também estavam entre os indiciados. Começava, assim, o maior escândalo da história da Fifa.

Renúncia de Blatter

A explosão do escândalo na entidade não parou por aí. No dia 1º de junho, o jornal The Ney York Times afirmou que o secretário-geral Jérôme Valcke estaria envolvido no caso de corrupção e teria movimentado 10 milhões de dólares em propina. Um dia depois, foi a vez do presidente Joseph Blatter surpreender o mundo ao anunciar que deixaria o cargo após a realização de novas eleições, que aconteceriam dali a alguns meses. Para completar o inferno astral do suíço, que ocupava o cargo há 17 anos, o comediante Simon Brodkin invadiu uma coletiva de imprensa e jogou em cima do cartola diversas notas falsas de dólar, criando uma das imagens mais representativas da crise da Fifa.

Em relação aos setes cartolas presos no fim de maio, os Estados Unidos pediram, no começo de julho, a extradição de todos eles.

O chute no traseiro de Valcke

O secretário-geral da Fifa Jérôme Valcke, que afirmou durante as preparações para a Copa do Mundo que o Brasil merecia levar “um chute no traseiro”, acabou levando ele mesmo um chute em setembro de 2015. O empresário Benny Alon disse à polícia da Suíça que o dirigente francês ficava com uma parte do dinheiro de ingressos da Copa vendido com ágio. A acusação fez com que o poderoso Valcke fosse afastado de seu cargo, em mais uma episódio histórico da entidade.

Só que as investigações não pararam por aí. Em 25 de setembro, a Procuradoria-Geral da Suíça anunciou que abriu uma investigação criminal contra Blatter. Uma das suspeitas das autoridades envolvia também o presidente da Uefa e então possível sucessor de Blatter, Michel Platini, que teria recebido 2,3 milhões de francos suíços da Fifa.

A opinião pública começou a ficar cada vez mais contra os comandantes da entidade máxima do futebol, e isso se refletiu na relação dela com seus parceiros comerciais. No começo de outubro, as patrocinadoras Coca-Cola, Visa, McDonald’s e Budweiser pediram para que Blatter renunciasse à presidência imediatamente. “A Fifa precisa de uma reforma ampla e urgente, que só pode ser realizada com uma abordagem verdadeiramente independente”, disse a Coca-Cola na ocasião.

Mesmo diante da pressão das patrocinadoras, Blatter se recusou a sair da presidência da Fifa naquele momento. No entanto, não conseguiu escapar do Conselho de Ética da própria entidade, que o afastou por 90 dias junto de Platini e Valcke. Issa Hayatou, ex-presidente da Confederação Africana de Futebol, assumiu no lugar de Blatter como comandante interino da Fifa. Em dezembro, prisões de membros do Comitê Executivo colocaram a idoneidade do camaronês também em dúvida.

A nova corrida pelo poder

Ao mesmo tempo em que as investigações continuam investigando cartolas da Fifa, outros tentam chegar ao poder na entidade. É o caso dos candidatos que tentarão, em fevereiro de 2016, se eleger presidente. Em 12 de novembro, a Fifa aprovou a candidatura de cinco deles: o príncipe Ali Al Hussein, o xeque Salman Bin Khalifa Al Ebrahim, o francês Jérôme Champagne (que tem o apoio de Pelé), o italiano Gianni Infantino e o sul-africano Tokyo Sexwale.

Antes favorito, Michel Platini não teve sua candidatura analisada, pois está suspenso pelo Comitê de Ética da entidade. Caso sua punição acabe antes da eleição, é possível que consiga participar.

E no Brasil…

A participação do Brasil no escândalo da Fifa não se limitou a José Maria Marin. Desde que viu seu antecessor ser preso na Suíça, Marco Polo Del Nero deixou de viajar para o exterior, mesmo diante de compromissos importantes. O medo era ter o mesmo destino do aliado político. A ausência em eventos da Fifa custou ao presidente da CBF o lugar no Comitê Executivo da Fifa em 26 de novembro.

No entanto, Del Nero não conseguiu se esconder para sempre. No dia 3 de dezembro, o FBI acusou o cartola e Ricardo Teixeira, presidente da CBF entre 1989 e 2012, de corrupção. No caso do primeiro, a acusação diz respeito a recebimento de propinas por parte da empresa Traffic, do empresário José Hawilla, que também é alvo de investigações.

As acusações culminaram no pedido de licença de Del Nero para “cuidar de sua defesa”. Com isso, ele entregou a presidência a Marcus Vicente, vice-presidente da CBF e presidente da federação de futebol do Espírito Santos por mais de 20 anos. A escolha do pedido de licença era estratégico: se renunciasse, o ex-presidente de Federação Paulista de Futebol daria lugar a Delfim Peixoto, o vice-presidente mais velho da CBF e seu adversário político. Peixoto definiu a manobra como um “golpe”.

No dia 16 de dezembro, Del Nero teve uma vitória política. Depois de derrubar uma liminar da justiça, a CBF conseguiu realizar a eleição para definir quem ocuparia o lugar de José Maria Marin em uma das vice-presidências. O único candidato era Antônio Carlos Nunes, conhecido como Coronel Nunes, de 77 anos. Assim, caso o atual presidente licenciado seja afastado ou tirado do poder da CBF definitivamente, seu aliado assumirá o cargo, garantindo assim a permanência do mesmo grupo no comando da entidade máxima do futebol brasileiro.

Só que isso não garante que 2016 será um ano tranquilo para Del Nero e seus aliados. A CPI do Futebol, comandada pelo senador Romário (PSB-RJ) está em pleno andamento e promete esquentar ainda mais o forno das polêmicas de corrupção na CBF. O Baixinho já disse querer fazer uma limpa na instituição e ver seus comandantes e ex-comandantes atrás das grades.

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