Documentário de brasileiro exporá dor das vítimas da Operação Condor
Santiago do Chile, 27 nov (EFE).- A inquietação por zelar “pela verdade” sobre a Operação Condor inspirou o cineasta brasileiro Cleonildo Cruz a viajar pelos países do Cone Sul americano para registrar o doloroso testemunho das vítimas, que quase 40 anos depois seguem buscando respostas.
“O documentário revisará a instauração dos regimes totalitários do Cone Sul americano e exporá o significado da Operação Condor, que tinha como finalidade a morte”, explicou Cruz em entrevista à Agência Efe.
“Operação Condor: verdade inconclusiva”, o longa-metragem que será lançado em 2015, reunirá os documentos da CIA (Agência Central de Inteligência), desclassificados em 1990, com o testemunho dos entrevistados e imagens de arquivo.
“Desta maneira, será possível para o espectador criar uma imagem total do ocorrido entre as décadas de 1970 e 1980, quando aconteceu a Operação Condor, uma ação coordenada pelas ditaduras do Cone Sul americano para acabar com os opositores dos regimes totalitários”, disse Cruz.
Esta operação de extermínio foi idealizada pela ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) e iniciada em Santiago do Chile em 1975 com uma reunião secreta entre Manuel Contreras, chefe da Polícia secreta chilena (Dina), e os líderes dos serviços de inteligência militar da Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai.
Para Cruz, que atualmente está no Chile registrando as últimas gravações de seu longa-metragem, esta última fase é “extremamente importante”, pois é neste país onde está entrevistando alguns das testemunhas-chave de seu documentário.
Entre eles, destacam-se Sofia Prats, filha de Carlos Prats, ex-comandante em chefe do Exército do Chile assassinado em Buenos Aires, Juan Pablo Letelier, filho de Orlando Letelier, chanceler do governo do presidente Salvador Allende e assassinado em Washington, e Laura Elgueta, irmã do desaparecido Luis Enrique Elgueta, músico e militante do MIR (Movimento de Esquerda Revolucionária).
“Este é um filme que mostra a dor das vítimas”, disse Cruz que, após recopilar mais de 30 testemunhos, assegura que, apesar da passagem do tempo, as “feridas seguem abertas”.
Após o desaparecimento de seus parentes, muitos dos entrevistados tiveram que encontrar uma estratégia que permitisse se relacionar de novo com as dolorosas lembranças, por isso que o processo de recontar as histórias perante as câmaras “não foi nada fácil”.
“Muitos tiveram que passar por cima das atrocidades que ocorreram com eles e seus parentes para continuar com a luta por conhecer a verdade”, disse Cruz ao mostrar as imagens da entrevista com Laura Elgueta.
Nelas, é possível ver a sobrevivente chilena relatando, com grande integridade, os eventos que ocorreram em julho de 1976 quando seu irmão foi detido na Argentina, onde havia se exilado fugindo da repressão chilena.
Um ano depois do trágico desaparecimento, Laura Elgueta, que então tinha 18 anos e vivia em Buenos Aires, após fugir da ditadura, foi detida e torturada por agentes da Dina, a Polícia secreta da ditadura de Pinochet que atuava na Argentina no marco do Plano Condor.
Segundo o brasileiro, o documentário revela o que ocorreu entre as décadas de 1970 e 1980, no entanto, também constata que, infelizmente, esta realidade continua sendo habitual na América Latina.
“Apesar de viver em democracia, os governos latino-americanos exercem o poder de forma autoritária, transformando a tortura, as agressões e as desaparições forçadas em práticas frequentes”, manifestou Cruz, em referência ao recente desaparecimento dos 43 estudantes da cidade mexicana de Iguala.
Após percorrer toda América Latina e Caribe, o cineasta concluiu que “os direitos humanos ainda não são política de Estado”, motivo pelo qual a luta pela verdade e a justiça continua sendo altamente necessária.
Uma vez terminado o documentário, Cruz deseja que ele seja transmitido em todas as escolas e bibliotecas da América Latina e que o testemunho de vida dos entrevistados cubra o vazio do relato de fatos “que muitos outros não puderam contar”. EFE
jtr/ff
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