Selton Mello sobre ‘Ainda estou Aqui’: ‘Um filme que fala do passado para iluminar o presente’

Longa de Walter Salles é o grande favorito para representar o Brasil no Oscar

  • Por Victória Xavier (colaboração para a Jovem Pan)
  • 18/10/2024 18h39
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Alile Dara Onawale/ Divulgação AINDA ESTOU AQUI, de WALTER SALLES Com uma interpretação potente de Fernanda Torres e Selton Mello, o filme é um dos mais aclamados dos festivais nacionais e internacionais

“Ainda Estou Aqui” é um acontecimento, uma experiência imersiva que te convida a entrar no Rio de Janeiro dos anos 70, a conhecer uma família e dividir a dor que é a presença da ausência. Com uma interpretação potente de Fernanda Torres e Selton Mello, o filme é um dos mais aclamados dos festivais nacionais e internacionais, além de ser o possível indicado ao Oscar e representante do Brasil na premiação.

Dirigido por Walter Salles (“Central do Brasil”), o filme é baseado na obra e autobiografia de Marcelo Rubens Paiva e sua infância cercado pela Ditadura Militar. O longa acompanha a vida de seu pai, Rubens Paiva, sua mãe, Eunice e seus quatro irmãos. Todos morando na frente da praia, numa casa de portas abertas para os amigos. Um dia, Rubens Paiva é  levado por militares à paisana e desaparece.  Eunice - cuja busca pela verdade sobre o destino de seu marido se estenderia por décadas - é obrigada a se reinventar e traçar um novo  futuro para si e seus filhos.

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Em entrevista coletiva, Walter contou como foi esse processo de adaptação de uma história tão pungente. “O livro potencializa todo processo, já que o Marcelo descobre que a mãe tinha sido sempre o personagem central. Ali se soma as memórias pessoais que eu tinha, já que eu era amigo da irmã do meio do Marcelo e conheci a casa que é um personagem no filme”, disse.

“O filme (talvez) seja o desejo de tentar reabrir aquela casa. É a decantação da memória. Não é um processo rápido e por isso demorou 7 anos. O Murilo e o Heitor (roteiristas) foram reescrevendo e tentando achar a forma mais justa de retratar aquela família, a dor, a ausência do pai, tudo que ecoa ao longo do tempo”.

Fernanda Torres também dividiu a experiência de viver essa mãe de família, Eunice, e a construção dessa figura tão icônica. “Eu tinha lido o livro do Marcelo antes mesmo do Walter me convidar. A responsabilidade de uma mulher única, que nunca fez questão de ser reconhecida, ela sai de viúva do Rubens Paiva para mãe do Marcelo Paiva. Eu assisti as entrevistas e ela sempre tinha no rosto dela um sorriso e uma contundência que dobrava seu oponente. Era uma mulher do lar e a tragédia rompe com aquele mundo idílico, da família, da praia, dos amigos. A atuação é baseada na subtração, o filme contém é isso vai criando uma cumplicidade entre os públicos e as pessoas daquele filme”, afirmou.

Bastante emocionado, Selton Mello revelou uma experiência intensa durante o processo de seu papel. “Eu tinha imagens do Rubens para seguir de guia. Eu não tinha nada em movimento, mas via as fotos e ouvia coisas dele, do Marcelo e das irmãs. Eu me perguntava como imprimir na tela o espírito do Rubens. Minha missão era iluminar essa primeira metade do filme espiritualmente falando, mais do que tecnicamente” disse.

Marcelo Rubens Paiva também esteve presente na coletiva e contou que sempre teve certeza sobre o olhar de Walter Salles para a adaptação de seu livro e da sua vida. “Eu já tive alguns livros transformados para o cinema. Quando um autor publica uma obra, ele passa a não ser proprietário, ela já ganha a interpretação do próprio leitor. Essa história era da minha mãe e eu sabia que o Walter ia te tô carinho e respeito por ela. Quando vamos adaptar, é preciso escolher uma coluna vertebral, um eixo a seguir”.

Feliz com a repercussão, o diretor também deu sua visão sobre o motivo do filme estar fazendo tamanho sucesso. “O que nos levou a fazer esse filme, era querer reencontrar essa família. Os 30 minutos do filme mostram o sonho de um pais, um pais que vigorava, um cinema novo, nova educação e de alguma forma, algo ali foi ceifado. Por tentar retratar uma família marcada pela honestidade, talvez seja por isso que esteja ecoando”, disse. “O Walter coloca a gente dentro dessa família e de repente ele tira isso de você e você sente que aquilo foi um gesto arbitrário, aquelas pessoas não mereciam”, completou Fernanda Torres.

Para finalizar, Selton Mello traduziu a força de “Ainda Estou Aqui”. “Um filme que fala do passado para iluminar o presente”, concluiu. O filme está em cartaz da 48ª Mostra Internacional de Cinema e é um dos mais concorridos. Além disso, a produção estreia dia 7 de novembro em todos os cinemas.

Confira trailer do filme

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