Após se aposentar, Arnaldo não quer cargo na CBF e explica rusgas com Galvão

  • Por Jovem Pan
  • 22/11/2018 11h00
Reprodução Arnaldo disse que não há maior torcedor da Seleção Brasileira do que Galvão Bueno

No jogo entre Brasil e Camarões, na última terça-feira (20), Arnaldo Cezar Coelho fez a última transmissão como comentarista de arbitragem. A partir de agora ele vai se dedicar a outras atividades, mas não quer trabalhar com juízes diretamente, em um cargo da CBF, por exemplo.

Arnaldo também aproveita o momento para fazer um balanço sobre a carreira e analisou os bons momentos e rusgas que teve com o narrador Galvão Bueno. Veja a entrevista na íntegra.

Como foi acordar em seu primeiro dia como aposentado?

Ainda não foi o primeiro, porque tenho alguns programas para fazer em dezembro. Ontem (terça), foi a última transmissão. E outra: nunca vou me considerar um cara aposentado, porque tenho uma filiada da Globo (Arnaldo é proprietário da TV Rio Sul, que tem sede em Resende e filial em Angra dos Reis).

O que essencialmente mudará na sua rotina? Vai ver menos futebol a partir de agora?

É uma das coisas. Não vou ter obrigação de ver, vou assistir quando tiver tempo disponível e sem o olhar que tenho agora. Uma coisa é assistir esclarecendo lances, mesmo sem estar trabalhando no jogo. Porque nesses últimos quatro anos minha atividade foi também coordenar os comentaristas de arbitragem da Rede Globo. E, aí, o que acontecia? A gente tem um grupo de WhatsApp (formado por ex-árbitros que são comentaristas da emissora), e toda vez que aparece um lance mais complicado a gente discute.

Você sai de cena em um momento de grandes críticas à arbitragem brasileira, discussão sobre implementação de VAR… Acha que não tinha mais como contribuir em sua função?

Tem como contribuir, porque a minha função é muito mais didática O motivo da saída é porque chegou o momento de parar, me desligar um pouco, me dedicar aos negócios, à família. Foram 29 anos na TV e nunca cheguei atrasado a um jogo. Na verdade, em 54 anos de campo, contando o período também apitando, só faltei uma vez, por causa de uma conjuntivite. E mesmo assim fiquei à beira do campo, revoltado, porque dava para ter apitado. É como um soldado sem farda, o cara que tem disciplina. Isso cansa. Não é um negócio perto de casa, é viagem o tempo todo, aeroporto. Faço ponte aérea desde 1964.

E uma outra função ainda dentro da arbitragem, como coordenador de arbitragem na CBF, algo do tipo. Você gostaria?

Não. Sabe por que eu nunca toparia? Porque esses caras hoje em dia são profissionais, trabalham de segunda à segunda. O (Wilson Luiz) Seneme (ex-árbitro, hoje presidente do Comitê de Arbitragem da Conmebol) foi convidado pela Conmebol e está morando em Assunção, no Paraguai, levou os filhos para estudar lá. O presidente da Comissão de Arbitragem da CBF, o coronel Marcos Marinho, mora no Rio, precisa se dedicar o tempo todo. Se for para fazer isso, ficava onde eu estava. E mais: nessa função, eu teria de torcer pelos juízes. Rapaz, torcer por eles é muito difícil! Nem as famílias, às vezes, torcem!

Você diria que mudou as transmissões esportivas?

Não, o que aconteceu foi o seguinte: tinha no rádio comentarista famoso de arbitragem, mas não tinha na televisão. O que eu vi de oportunidade? Que a imagem fala mais alto do que qualquer coisa no futebol. A imagem não mente. E comecei a explorá-la para explicar didaticamente os lances. Agora, está surgindo uma nova figura, a do “teleárbitro”. É um cara que fica em casa, nunca apitou, não está vendo a dificuldade do jogo e diz que foi pênalti. É igual ao árbitro de vídeo. Fica numa sala com ar-condicionado e cafezinho e quer interpretar. Não pode interpretar. Interpretação cabe ao árbitro, que está ali sentindo o jogo.

Como foi trabalhar por quase três décadas na TV Globo, e ao lado do Galvão Bueno?

No dia a dia, convivi com grandes estrelas quando apitava, e sempre procurei ter noção de que não era o dono do palco. E, no caso do Galvão, nunca quis ser mais do que ele, porque ele é realmente a voz do esporte brasileiro nas últimas décadas. A empatia que a gente tem é fruto dessa nossa cumplicidade. Muitas vezes, eu sento com o Galvão e falo: “Talvez você esteja exagerando, respira fundo”. Isso é função do amigo.

Mas como eram os momentos de rusgas?

Os momentos difíceis foram quando surgiu “a regra é clara”. Às vezes, ela pode ser injusta, mas é clara, está escrito. E ele discutia comigo. Não sei se ele provocava a discussão porque ela gera comentários ou se porque era convicção dele. Quando é jogo do Brasil… Rapaz, não tem maior torcedor do Brasil que o Galvão.

Acha que antigamente os árbitros tinham mais personalidade?

Tinham mais autoridade. O árbitro tinha o poder da decisão. Havia dois bandeirinhas que auxiliavam na marcação de impedimento e lateral. Mas ‘ai’ de um bandeirinha que marcasse falta! Porra, você tá apitando, viu que não foi falta, ai vai o bandeirinha e levanta?

Qual regra é a mais clara na sua vida?

Sem disciplina, não se chega a lugar nenhum. Se (o compromisso) está marcado para 9h e chega às 11h… Se falta no outro dia porque o cachorrinho ficou doente… “Ah, mas é um baita de um profissional”. Não adianta, você não vai a lugar algum.

Com Estadão Conteúdo

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