Com reengenharia financeira, PSG já tem estratégia montada para lucrar com Neymar

  • Por Estadão Conteúdo
  • 13/08/2017 09h36
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Christophe Petit Tesson/EFE A iniciativa do presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi, visa deixar as contas do clube numa situação sustentável e nos padrões da Uefa e Fifa, em especial após queixas de Barcelona e da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF)

Após desembolsar 222 milhões de euros (cerca de R$ 821 milhões) para arrancar Neymar do Barcelona, o Paris Saint-Germain tem o desafio de fazer dinheiro com a maior contratação da história e, mais importante, responder aos critérios do fair play financeiro da Uefa. Para contar com o craque que estreia neste domingo na partida contra o Guimgamp, às 16 horas (de Brasília), pelo Campeonato Francês, o clube prepara projeto de reengenharia financeira que passará pela venda de jogadores como Di María, Serge Aurier, Matuidi e Lucas e renegociação de contratos de patrocínio, de material esportivo e das cotas de TV.

A iniciativa do presidente do PSG, Nasser Al-Khelaifi, visa deixar as contas do clube numa situação sustentável e nos padrões da Uefa e Fifa, em especial após queixas de Barcelona e da Real Federação Espanhola de Futebol (RFEF), que acusaram o fundo Qatar Sports Investments (QSI), proprietário do time, de gastar em desacordo com as regras de fair play.

No dia da apresentação de Neymar, o dirigente foi questionado a respeito e chegou a brincar, propondo ao jornalista que fosse tomar um café tranquilo, porque não haveria incompatibilidade entre a transação e a regulamentação na Europa.

O desafio do PSG é grande. Todos os anos, a Uefa verifica se as regras estão sendo cumpridas no conjunto de três exercícios fiscais – ou seja, três períodos de 12 meses. No intervalo de 36 meses, um clube não pode registrar mais de 30 milhões de euros (aproximadamente R$ 112 milhões) em perdas, segundo Andrea Traverso, diretor do time de experts em fair play financeiro da Uefa. No caso do PSG, o ano fiscal abriu em julho, portanto, o exame das contas só ocorrerá em 2018.

Essa situação dá ao clube intervalo de um ano para ajustar as coisas e evitar sanções, como a de 2014, quando foi multado em 60 milhões de euros (cerca de R$ 224 milhões) e só pôde inscrever 21 jogadores na Liga dos Campeões, e não os 25 usuais. Entre as estratégias do clube está a possibilidade de amortecer os custos da aquisição ao longo do tempo do contrato. Entre indenização ao Barça (222 milhões de euros) e salários a Neymar (30 milhões de euros/ano) e custos adicionais, como impostos, estima-se que o compromisso financeiro seja de 500 milhões de euros (algo em torno de R$ 1,8 bilhão). Assim, o PSG terá de justificar 100 milhões de euros (cerca de R$ 375 milhões) por ano relativos ao contrato de Neymar com o clube

Francês

Experts em marketing esportivo na Europa estão divididos sobre o risco da operação, mas apontam seis frentes de trabalho para compensar os gastos com a contratação e os salários a serem desembolsados para o brasileiro. Uma dessas frentes é a renegociação do contrato com a Nike, que será revisto em razão da atratividade do craque. O acerto pode passar de 30 milhões de euros para 80 milhões de euros por ano. O aumento é esperado, já que a venda de camisas vem sofrendo o impacto positivo da chegada de Neymar.

Outra mudança será o fim do contrato com a companhia aérea Emirates – de supostamente 20 milhões de euros (cerca de R$ 75 milhões) por ano. É provável a assinatura com a Qatar Airways, que deixou o Barcelona e deve fechar com o PSG por cifras bem acima da concorrente – estima-se em no mínimo 50 milhões de euros (R$ 187,6 milhões). Não bastassem esses dois maiores contratos de patrocínio, o PSG espera lucrar com bilheteria, com venda de direitos de retransmissão internacional e com cobranding (associação de duas marcas) entre o clubes francês e seu astro.

“O PSG tem todos os meios de rentabilizar o investimento, que foi, antes de mais nada, uma magnífica operação”, diz Vincent Chaudel, expert em marketing esportivo da consultoria Wavestone. Outro especialista, Loic Ravenel, do Centro Internacional de Estudos do Esporte (CIES), concorda que a operação será compensada. “Se considerarmos as performances de Neymar no Barcelona e sua imagem, podemos estimar que uma cláusula de 222 milhões de euros e um salário astronômico não são caros”, disse Ravenel ao jornal Le Monde. “Vai funcionar.”

CARO

Para Jean-Pascal Gayant, professor de Economia do Esporte da Universidade de Mans, porém, o PSG pagou por Neymar um preço 50% acima do mercado. Em seu blog, o pesquisador afirmou: “Mesmo se funcionar, é extravagante”.

A engenharia não acaba nas renegociações de contratos. Nomes relevantes do elenco, como Di María, Matuidi e o brasileiro Lucas devem ser vendidos, assim como reservas com salários altos, como Krychowiak, Ben Arfa e Jesé. Ocorre que apenas uma venda foi concretizada: 13 milhões de euros com Jean-Kevin Augustin. Pior. O PSG pensa em contratar Mbappé por 180 milhões de euros (R$ 679 milhões) e pagar 90 milhões de euros de salários em cinco anos.

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