Doria avança no PSDB de São Paulo, reduto de Alckmin

  • Por Estadão Conteúdo
  • 02/10/2017 08h40
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Fernando Pereira / SECOM-PMSP Fernando Pereira / SECOM-PMSP A estratégia inclui eleger o presidente do diretório municipal, obter maioria na executiva e chegar com força à convenção estadual

Um ano após vencer a eleição para a Prefeitura de São Paulo no primeiro turno, o tucano João Doria contraria o discurso do gestor não político para avançar no jogo partidário em busca de apoio do PSDB paulista, até então reduto exclusivo do governador Geraldo Alckmin, de olho em 2018. A estratégia inclui eleger o presidente do diretório municipal, obter maioria na executiva e chegar com força à convenção estadual. O movimento visa criar musculatura para uma possível prévia presidencial.

A ofensiva também passa por uma maior presença de Doria em redutos tradicionalmente dominados por aliados de Alckmin, como o interior paulista. Na semana passada, o prefeito esteve em Franca, onde se encontrou com lideranças políticas locais, almoçou com funcionários de uma empresa calçadista e discursou para uma plateia de 2 mil pessoas em evento corporativo. Agendas semelhantes já foram cumpridas em Barretos e Ribeirão Preto, onde o sinal de alerta da equipe do governador soou pela primeira vez durante a Agrishow, principal feira agrícola do País que, neste ano, teve o prefeito paulistano como estrela.

O cicerone de Doria no interior paulista é um veterano: Cesar Gontijo, secretário-geral do partido em São Paulo desde 2007. Um dos fundadores da sigla, Gontijo, que já foi vereador por Barretos e candidato a prefeito na cidade, é o dono dos contatos de interesse de Doria, sendo o atual encarregado de apresentar a ele políticos e empresários que exercem influência regional no Estado.

Com o futuro presidente do diretório municipal praticamente definido – o vereador João Jorge, escolhido por Doria -, o prefeito conta com aliados como Gontijo para exercer influência na convenção estadual, marcada para 11 de novembro, com a participação de cerca de 3,8 mil delegados. O objetivo é ganhar espaço também na executiva estadual, que, pela tradição, tem 105 membros. A composição, extraoficial, se dá pelo líder da bancada na Assembleia, por 45 nomes indicados pela base, 18 por deputados, dez por prefeitos e o restante escolhidos segundo critérios políticos.

A movimentação já é observada pelo Palácio dos Bandeirantes, onde aliados do governador Geraldo Alckmin classificam o avanço de Doria na máquina partidária como “agressivo”. Se conseguir de fato ampliar sua participação no partido, Doria chegará mais forte à convenção nacional, em dezembro, e, consequentemente, para a disputa de uma possível prévia. “Esse clima de ‘Fla-Flu’ é ruim para o PSDB”, diz o secretário estadual da Assistência Social, Floriano Pesaro. “Só divide, prejudica e num momento em que deveríamos estar unidos em torno de uma candidatura definida já, que, ao meu ver, deve ser do governador Geraldo Alckmin.”

Xadrez

Gontijo, no entanto, nega atuação para Doria. “Minha história de 26 anos no partido não se restringe à vinculação com Doria ou Alckmin. Não podemos reduzir o partido a essa situação. São dois bons candidatos”, afirma. Diretamente interessado nessa batalha, o vice-prefeito da capital, Bruno Covas, diz não acreditar que um dos dois conseguirá o domínio do partido. “A história do PSDB mostra isso, o partido tem muitas lideranças em São Paulo para ser controlado por A, B ou C.”

Bruno é outra peça-chave no xadrez político de Doria. Conhecedor do estatuto e das normas internas que regem os diretórios, o vice-prefeito ainda tem a seu favor – e de Doria – a boa influência de seu sobrenome no litoral paulista, outro reduto do governador que em breve entrará na disputa. A região tem sido “blindada” pelo prefeito de Santos, Paulo Alexandre Barbosa, mas reúne um grupo considerável de lideranças ligadas a Bruno, que é da cidade.

Em outra frente, Doria também se aproximou dos prefeitos do ABC Paulista, que nas eleições do ano passado viu o PSDB acabar com o domínio do PT na região – pela primeira vez, desde 1982, o partido não venceu a disputa pelo comando de nenhuma das sete prefeituras, enquanto os tucanos levaram as duas principais: Santo André e São Bernardo do Campo, cujo prefeito, Orlando Morando, já foi “indicado” pelo prefeito paulistano para a executiva nacional tucana em vaga ainda a ser criada.

Interlocutores de Doria e de Alckmin admitem de forma reservada que a disputa entre os dois chegou de fato ao coração do partido As convenções municipal e estadual já estão contaminadas, em uma mostra do que pode ser a prévia para indicação à corrida presidencial. Por enquanto, mantendo sua estratégia, Alckmin diz só observar. Mas o contra-ataque deve vir. Se Alckmin é o único adversário de Doria pela vaga de candidato do PSDB, a lista de concorrentes internos pelo comando da ala paulista do partido tem uma lista de nomes, do senador José Serra ao ex-governador Alberto Goldman e o vice-presidente nacional do PSDB, José Aníbal.

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