Pressão sobre Mandetta cresce, mas aliados não creem em pedido de demissão

  • Por Jovem Pan
  • 25/03/2020 14h06 - Atualizado em 26/03/2020 08h53
Frederico Brasil/Futura Press/Estadão Conteúdo Presidente Jair Bolsonaro demite Luiz Henrique Mandetta por divergências sobre isolamento social

O governo não considera neste momento demitir o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, mas, diante da pressão da classe médica, governadores e membros do DEM após o pronunciamento de Jair Bolsonaro, é imprevisível a decisão que o chefe da pasta poderá tomar, segundo aliados do presidente da República. Mandetta esteve no Palácio do Planalto na manhã desta quarta-feira (25).

Ele participou da reunião virtual entre Bolsonaro, ministro e governadores do Sudeste horas após o presidente afirmar que cobraria do Ministério da Saúde regras mais brandas sobre isolamento contra a Covid-19, que se restringiriam apenas a grupos de risco – idosos e pessoas com doenças crônicas.

Na reunião, Mandetta pediu calma e equilíbrio aos governadores, mas não chegou a endossar o discurso do presidente, segundo pessoas presentes. Para aliados do ministro, ele não deve pedir demissão. A impressão atual é de que ele só deixará o cargo se for demitido.

A estratégia de Mandetta deve ser a de “sair pela tangente”, tentando apresentar dados sobre locais que desistiram de medidas mais flexíveis para conter a crise, como o Reino Unido. O ministro, no entanto, já teria demonstrado cansaço pela queda de braço com Bolsonaro.

Segundo fontes da linha de frente de discussões sobre combate à Covid-19 no governo, há grande preocupação sobre o impacto econômico de medidas mais restritivas, o que levou Bolsonaro a pensar em alternativas menos duras. Ainda assim, também é reconhecido no Palácio do Planalto que a saída de Mandetta geraria uma crise na hora errada. “Não se tira o general durante uma batalha”, disse um integrante do governo.

Por ora, a leitura é de que, mesmo se o governo adotar o “isolamento vertical”, a medida tem de ser imposta com muito cuidado e forte estratégia de comunicação.

O pronunciamento de Bolsonaro em rede nacional de TV na noite da última terça-feira (24) deixou perplexos autoridades da saúde e gestores de Estados e municípios. Aliado de primeira viagem do presidente, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), por exemplo, disse que as decisões de Bolsonaro não vão “alcançar” o seu estado.

Primo de Mandetta, o deputado federal Fabio Trad (PSD-MS) defendeu que o ministro mantenha o discurso, mesmo que lhe custe a demissão do governo. “Ele fez um juramento ao se formar, pela ciência, e não pela politicagem. Entre Hipócrates e Bolsonaro, pela integridade intelectual de Mandetta, tem de ficar com Hipócrates”, afirmou o deputado ao jornal O Estado de S. Paulo.

Dentro do DEM, há forte pressão para Mandetta não aderir ao discurso de Bolsonaro. Entre outra razões, porque haveria desgaste político de governadores e prefeitos que estão seguindo estas orientações.

*Com informações doo Estadão Conteúdo

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