Bolsa de Valores, renda fixa e foco na China: veja os melhores investimentos para 2021

Aumento da pandemia, risco de descontrole fiscal e incertezas políticas pressionam investidores no começo de 2021; definir objetivos e diversificar opções são dicas fundamentais para quem está começando

  • Por Gabriel Bosa
  • 31/01/2021 08h00
Fabian Blank/Unsplash Ter em mente os objetivos para o investimento e diversificar as opções são as principais dicas dos especialistas do mercado financeiro

O ano de 2021 não começou fácil para o investidor brasileiro. Depois de a Bolsa de Valores renovar a máxima histórica ao fechar acima dos 125 mil pontos, os especuladores do Ibovespa, o principal índice da B3, viram os pregões fecharem sucessivamente no vermelho. A queda de 3,21%, aos 115.067 pontos nesta sexta-feira, 29, foi o 12º dia que os negócios encerraram em queda, ante sete pregões de alta. As forças que pressionaram o humor do mercado neste princípio de ano são semelhantes às vistas em 2020 nos piores momentos da pandemia da Covid-19. De fora, vem a apreensão dos mercados globais diante da alto número de infecções, enquanto na pauta doméstica predominam o risco de descontrole das contas públicas e as incertezas nos rumos políticos. Diante deste cenário adverso, economistas e especialistas do mercado financeiro são categóricos em reforçar princípios básicos: ter os objetivos definidos e diversificação de opções. Saber onde se quer chegar é essencial para definir as rotas da partida. As metas podem ser amplas, desde uma viagem nas férias, até cobrir os custos de uma festa de casamento, comprar um carro novo, reformar a casa ou ter conforto na aposentadoria. “É importante entender este perfil antes de começar. Um perfil pode ter mais identificação com a renda variável, enquanto outro pode ser melhor buscar algo na renda fixa. É necessário entender o que a pessoa quer com aquele investimento”, diz Betina Roxo, estrategista-chefe da Rico Investimentos. O segundo ponto cobre um dos conselhos mais clichês do mercado financeiro: nunca colocar todos os ovos em um única cesta. Mesmo que o perfil do investidor seja mais agressivo, é fundamental que ele não aposte 100% das fichas em ativos de risco, como ações na Bolsa. Por outro lado, nem o mais conservador deve se eximir de aplicar parte do dinheiro em algo que não seja a renda fixa.

O número de apostadores na Bolsa de Valores brasileira dobrou em 2020 e soma atualmente mais de 3 milhões de pessoas. Se esse contingente entrou em meio ao pior cenário econômico do último século, a expectativa de melhora dos indicadores deve manter em alta o fluxo de novos especuladores ao longo dos próximos meses. Aos novatos, porém, o cenário será diferente do aquele encarado por quem desembarcou durante a tempestade do novo coronavírus. De forma geral, os mercados já recuperaram as perdas sofridas no ano passado, o que acaba derrubando o risco da aplicação. Essa diminuição das probabilidades de perda faz com que os prêmios, ou seja, a remuneração, encolham. “Não quer dizer que não há riscos, mas os lucros estão mais comedidos do que antes”, diz Michael Viriato, professor de finanças do Insper. Essa recuperação já está sendo ensaiada desde o fim de 2020, quando o mercado financeiro se descolou da “economia real” e engatou sucessivas altas. Os investidores, porém, são movidos por expectativas. Para Viriato, chegou o momento de saber se o otimismo que embasou a alta no fim do ano passado realmente se concretizará. “Agora é a hora da prova, isso é, a economia vai de fato melhorar? Os empregos vão voltar? A inflação vai ficar baixa? É uma série de questões que precisam ser respondidas agora.”

O mau humor que contaminou o Ibovespa no primeiro mês do ano indicam que o resultado desta prova veio abaixo do esperado. Apesar de no quadro geral o cenário tender para o positivo, este momento de instabilidade ofusca a visão dos investidores. Diante da incerteza, a recomendação dos especialistas é buscar porto-seguro em setores que minimizem os riscos, como as commodities e ligados à inovação. “O investimento deve ser olhado como a compra de parte da empresa, mesmo esmo que ela tenha subido muito no ano passado. O e-commerce continua sendo um setor disruptivo, e olhando para o longo prazo faz sentido continuar crescendo”, diz Betina. Segmentos que foram muito castigados pela pandemia, como turismo, transporte e lojas físicas, mas que já esboçam recuperação, também devem estar no radar de quem busca algo de longo prazo. “Ainda há desafios para a retomada e não é algo tão rápido ou certeiro, mas a visão é que a partir de que elas operem normalmente, voltarão a ter lucro.” Viriato, do Insper, também cita esse mercados em recuperação, com destaque para concessionárias de serviços públicos e varejo, como foco de atenção. “As empresas mais prejudicadas podem ser as mais beneficiadas. Tudo depende da retomada da economia.” Também é necessário analisar como o fim das medidas para manutenção da economia no ano passado terão nesta nova fase. “É preciso esperar o primeiro trimestre para ver. O auxílio emergencial promove uma série de distorções no consumo, e fez setores parecer não ter sofrido com a crise, como a construção civil. É preciso tomar cuidado se é algo sólido ou ilusão”, afirma. As pressões no Brasil abrem oportunidades para que os investidores busquem melhores lucros em bolsas e aplicações no exterior. O mercado asiático, puxado pela recuperação da China antes dos demais países do globo, é a melhor opção para quem quer apostar na especulação financeira lá fora. “Quando a gente pensa em diversificação, não é apenas para uma classe de ativos, mas também geográfica”, afirma Betina. No mercado internacional, Viriato destaca as oportunidades em setores voltados ao consumo. “O mercado que pode surpreender muito neste ano é o asiático, principalmente a China. O consumo por lá tende a se desenvolver mais forte com a recuperação da economia”, afirma.

Os investimentos em renda fixa sempre foram os favoritos dos brasileiros, mas essa relação começou a mudar com os sucessivos cortes da Selic pelo Banco Central. Entre o fim de outubro de 2016 até setembro de 2020, a taxa de juros básico da economia brasileira passou de 14% para 2%, e desde então se manteve no nível mais baixo da história. A situação deve mudar neste ano. Já na primeira reunião de 2021, o Comitê de Política Monetária (Copom) retirou o foward guidance, como foi batizada a política de manter os juros baixos, sinalizando o descongelamento da Selic e o início de uma nova escalada. Os sinais emitidos pela autoridade monetária fizeram o mercado financeiro apostar que o indicador dos juros irá encerrar o ano a 3,5% neste ano, segundo o Boletim Focus. Porém, há quem enxergue a perspectiva de elevação até 5%. Apesar da alta, o índice ainda está distante do que era há poucos anos, mas isso não significa que não tenha opções atraentes. “Rende muito menos do que antes, mas ainda é um bom investimento para fazer reserva de emergência. Não é uma opção para quem busca rentabilidade, mas sim para ter segurança e liquidez”, afirma.

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.