Inflação volta a subir em fevereiro e encosta no teto da meta do Banco Central

Avanço de 0,86% é a maior para o mês desde 2016 e faz índice acumular alta de 5,2% nos últimos 12 meses; autoridade monetária nacional não deve deixar que variação de preços ultrapasse 5,25% em 2021

  • Por Jovem Pan
  • 11/03/2021 09h03 - Atualizado em 11/03/2021 09h21
  • BlueSky
Diego Vara/Reuters Piora da pandemia da Covid-19 e aumento de restrições ao comércio e serviços são apontados como principais responsáveis pelo resultado negativo Previsão para a inflação salta após impactos do mega-ajuste dos combustíveis pela Petrobras

Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) voltou a subir em fevereiro com alta de 0,86%, ante avanço de 0,25% no mês de janeiro, segundo números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) nesta quinta-feira, 11. O indicador oficial da inflação brasileira acumula alta de 5,2% nos últimos 12 meses e se aproxima do teto da meta de 5,25% perseguida pelo Banco Central, com centro de 3,75% e mínimo de 2,25%. O encarecimento dos combustíveis foi o principal responsável pelo repique do índice no mês passado, puxando o setor de transportes para alta de 2,28%, seguido pelo segmento de educação, com avanço de 2,48%. Juntos, os dois grupos contribuíram com cerca de 70% do resultado do mês. Este foi o maior avanço para fevereiro desde 2016, quando o IPCA registrou alta de 0,9%. No mesmo mês de 2020 o índice foi de 0,25%. O IPCA-15, considerado a prévia da inflação, avançou 0,48% no mês passado, após alta 0,78% em janeiro. Já o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), considerado a inflação dos mais pobres, teve alta de 0,82% em fevereiro, acima dos 0,27% registrados no mês anterior. Em 12 meses, o índice acumula alta de 6,22%.

Com alta de 7,11%, a gasolina foi, individualmente, o item que mais impactou o índice no mês, com participação de cerca de 42% no resultado final (0,36 p.p.). “Temos tido aumentos no preço da gasolina, que são dados nas refinarias, mas uma parte deles acaba sendo repassada ao consumidor final. No início de fevereiro, por exemplo, tivemos um aumento de 8%, e depois de mais de 10%. Esses aumentos subsequentes no preço do combustível explicam essa alta”, diz o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov. Além da gasolina, os preços do etanol (8,06%), do óleo diesel (5,40%) e do gás veicular (0,69%) também subiram. Com isso, os combustíveis acumulam alta de 28,44% nos últimos nove meses. A Petrobras já reajustou o preço da gasolina aos distribuidores seis vezes neste ano, acumulando alta de 54%. O óleo diesel sofreu cinco alterações de preço e soma crescimento de 41%.

A alimentação, que em 2020 foi a grande vilã do IPCA, aumentou 0,27% em fevereiro, arrefecendo pelo terceiro mês consecutivo. “Essa desaceleração na passagem de janeiro para fevereiro é explicada principalmente por alguns itens que haviam subido bastante ao longo do ano passado, como o óleo de soja e o arroz. Por outro lado, as carnes tinham tido uma ligeira deflação em janeiro, com queda de 0,08%, e agora voltaram a subir”, diz Kislanov.

A inflação fechou 2020 com alta de 4,52%, o maior valor para o IPCA desde 2016, quando o índice encerrou com alta de 6,29%. Em 2019, a variação de preços foi de 4,31%. O índice ficou acima da meta de 4% perseguida pelo Banco Central — com margem para variar entre 2,5% e 5,5%. O valor veio acima do esperado pelo mercado. Economistas e entidades consultados pelo BC estimavam que o IPCA encerrasse 2020 com alta de 4,37%, segundo o último Boletim Focus divulgado em 2020. Para este ano, os agentes econômicos já alterara a previsão do IPCA nove vezes, passando para alta de 3,98%. A expectativa na semana passada era avanço de 3,87%, enquanto há um mês chegava a 3,6%.

O mercado manteve a expectativa para a Selic, o principal instrumento do Banco Central para controlar a inflação, em 4% ao ano. O valor é o mesmo da semana passada e acima dos 3,5% registrados há um mês. O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic a 2% ao ano na primeira reunião de 2021, decisão já esperada pelo mercado financeiro. A novidade foi a retirada do foward guidance, como foi classificada a política de não aumentar juros. Em nota, os técnicos do BC afirmaram que as condições para a manutenção da Selic rebaixada já foram cumpridas. Apesar de o recado enfatizar que a derrubada da medida não significa o aumento automático da Selic nos próximos encontros, é cada vez mais consenso entre os analistas que a autoridade monetária deva anunciar aumento de ao menos 0,25 ponto percentual na próxima reunião entre os dias 16 e 17 de março.

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.