Pessimismo com atraso na vacinação e risco fiscal pressionam Ibovespa e dólar

Principal índice da Bolsa brasileira fechou abaixo dos 119 mil pontos pelo segundo dia seguido; dólar avança para R$ 5,364

  • Por Jovem Pan
  • 21/01/2021 18h27 - Atualizado em 21/01/2021 19h57
Willian Moreira/Estadão Conteúdo Mão segura duas cédulas de US$ 1 Dólar segue em alta e se mantém acima de R$ 5,40 após fechar com forte valorização de 1,44% na véspera

O cenário doméstico voltou a pesar no humor dos investidores nesta quinta-feira, 21, dando margem para alta do dólar e tolhendo os lucros na Bolsa de Valores brasileira. O mau humor é um conjunto de notícias negativas com os entraves na importação de insumos para a produção de vacinas contra a Covid-19 em território nacional e o risco de aumento dos gastos públicos após fala de candidatos à Presidência da Câmara e do Senado. Nem mesmo o otimismo nos mercados globais com a posse de Joe Biden nos Estados Unidos e a expectativa do lançamento de pacotes de estímulos à economia conseguiram reverter o quadro negativo. Diante deste cenário, o Ibovespa, principal índice da B3, engatou novas perdas ao fechar abaixo dos 119 mil pontos pelo segundo dia consecutivo. O pregão encerrou com recuo de 1,10%, aos 118.328 pontos. Na véspera, o Ibovespa fechou com queda de 0,82%, aos 119.646 pontos. Já o dólar encerrou o dia com alta de 0,98%, cotado a R$ 5,364. Na máxima, a divisa chegou a tocar os R$ 5,400, enquanto a mínima não baixou de R$ 5,232. A divisa fechou nesta quarta-feira com queda 0,63%, cotada a R$ 5,311.

A continuidade da campanha de imunização brasileira está ameaçada pela falta de insumos para a produção em território nacional das vacinas aprovadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). O principal entrave é a importação da matéria-prima após a falta de entendimento entre autoridades brasileiras e produtores chineses. O impasse levou o governo de São Paulo escalar o ex-presidente Michel Temer (MBD) para ajudar nas negociações com a China. O Instituto Butantan aguarda pelo recebimento de 11 milhões de doses de insumos para a produção da CoronaVac, desenvolvida em parceria com a Sinovac. Ainda na pauta da vacinação, a Índia confirmou hoje o envio das 2 milhões de doses da vacina de Oxford, feita em convênio com o laboratório AstraZeneca e representada no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). A expectativa é que o imunizante desembarque em solo brasileiro no fim da tarde desta sexta-feira, 22. Além dos entraves para produção dos imunizantes, a alta de infecções preocupa autoridades sanitárias. Somente em São Paulo houve aumento de 34% de mortes nos últimos 20 dias. Já o número de novos casos saltou 37%, pressionando ainda mais o sistema de saúde. Ao todo, mais de seis mil pacientes estão internados em unidades de terapia intensiva e a taxa de ocupação de leitos de UTI no estado está em 70% e na Grande São Paulo, 70,5%. Essas taxas representam o limite para a reclassificação de regiões para a fase laranja do Plano São Paulo.

No noticiário político, investidores viram com apreensão declarações do deputado Artur Lira (PP-AL), candidato à Presidência da Câmara, e Rodrigo Pacheco (DEM-MG), que disputa o comando do Senado, sobre o possível aumento de gastos para lançar uma nova rodada do auxílio emergencial ou aumentar o Bolsa Família. A fala dos candidatos dá coro aos rumores de que o governo ainda estuda o lançamento de novos benefícios para mitigar os efeitos da pandemia do novo coronavírus. O principal temor do mercado é o rompimento do teto de gastos para o financiamento das medidas. A suspeita do descumprimento do compromisso fiscal fez o dólar disparar no fim do ano passado, forçando o ministro da Economia, Paulo Guedes, reiterar diversas vezes o comprometimento do Executivo com as contas públicas. Ainda na pauta interna, o Copom anunciou nesta quarta a manutenção da Selic a 2% ao ano. A medida já era esperada pelos analistas, que focaram as atenções na retirada do foward guidance, a política da autoridade monetária de manter os juros baixos. Apesar do anúncio, técnicos do BC ressaltaram que a derrubada da medida não significa o aumento automático da taxa básica de juros da economia brasileira. O mercado espera que a Selic encerre o ano a 3,25%, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 18.

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