Reação do mercado não foi exagerada, mas nem tudo está perdido, diz ex-diretor do BC sobre Lula

Luiz Fernando Figueiredo afirma que eleições ainda estão longe e que é preciso aguardar os próximos desdobramentos para medir as consequências da anulação dos processos contra o ex-presidente

  • Por Jovem Pan
  • 09/03/2021 16h42
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Eduardo Matysiak/Estadão Conteúdo máscara de papel com o rosto de Lula Dólar manteve viés de alta nesta terça-feira, um dia depois de Edson Fachin anular julgamentos de Lula na Lava Jato

A disparada do dólar para acima de R$ 5,80 e a queda brusca do Ibovespa, principal referência da Bolsa de Valores brasileira, momentos depois do ministro Edson Fachin anular os julgamentos do ex-presidente Lula na operação Lava Jato evidenciou o risco que o mercado financeiro enxerga na possibilidade do petista concorrer a uma eleição e as consequências que essa medida pode trazer na política econômica de Jair Bolsonaro (sem partido). A escalada da moeda norte-americana se manteve na manhã desta terça-feira, 9, com o câmbio batendo R$ 5,87. O dólar perdeu força a partir da tarde, e opera abaixo dos R$ 5,80, enquanto o Ibovespa manteve viés positivo durante todo o dia por influência das Bolsas internacionais. Luiz Fernando Figueiredo, CEO da Mauá Capital e ex-diretor do Banco Central, afirma que a reação foi proporcional a dimensão dos fatos, mas que é preciso aguardar os próximos desdobramentos para medir as consequências. “Houve esta primeira reação, e quando ocorre isso não se sabe quantificar o que está acontecendo, e se pode até exagerar. Não acho que a reação de ontem foi exagerada, mas nem tudo está perdido”, disse em entrevista ao Jornal Jovem Pan. Além das inseguranças quanto ao futuro político, o ex-diretor do Banco Central chama a atenção para as incertezas que a medida de Fachin traz ao cenário atual do Brasil. “É uma loucura. O negócio já estava feito, e de repente vem uma canetada e volta tudo para trás. Como alguém vai investir em um país desse? O custo para o país e sociedade é altíssimo.”

A possibilidade de Bolsonaro enfrentar Lula em 2022 elevou o temor de uma guinada da política econômica para o viés populista como meio de manter a popularidade do atual governo em alta. O enseio é corroborado por medidas tomadas pelo presidente que vão contra a agenda liberal do ministro da Economia Paulo Guedes, como a intervenção no comando da Petrobras e a isenção de impostos federais sobre o diesel e gás de cozinha. Para Figueiredo, manter essa postura seria “abrir uma caixa de Pandora” e resultaria no desembarque de Guedes e grande parte da equipe econômica do governo federal. “Eu não acredito nisso. Na ótica de Bolsonaro, ele deve se manter no caminho que gere maior probabilidade de eleição. O Paulo Guedes trouxe ele até aqui, ajudou a se eleger. Sem dúvida, é o caminho com maior chance de funcionar para ele no momento da eleição”, afirmou.

Além dos fatos no STF, o mercado também passou o dia observando as tratativas para aprovação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) Emergencial na Câmara dos Deputados, após o texto passar pelo Senado com limite de R$ 44 bilhões para os gastos com o auxílio emergencial. A indicação de que o texto levado ao plenário da Câmara será o mesmo aprovado pelos senadores aponta para fortalecimento de medidas que reduzam os gastos públicos após nova tentativa de desidratação para excluir categorias da segurança pública das medidas de austeridade. Para Figueiredo, a sinalização é ainda mais importante depois do endividamento recorde acumulado no ano passado para combater a pandemia do novo coronavírus. “Nós estamos desde agosto flertante com precipício”, disse. “Vai prevalecer a responsabilidade fiscal, mas ainda em um endividamento que está gradativamente subindo. Os ativos brasileiros estão muito depreciados comparando com qualquer país do mundo, e a razão disso é fiscal. Há medo de que o país chegue a um nível de endividamento que não seja mais sustentável”, afirmou.

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