Dólar vai a R$ 5,78, maior valor desde maio, com anulação dos processos de Lula; Ibovespa despenca 4%
Mercado reage com forte aversão à decisão do ministro Edson Fachin, do STF, que devolve os poderes políticos ao petista e o deixa elegível
O dólar disparou nesta segunda-feira, 8, momentos depois de o ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF), anular todos os processos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na Lava Jato de Curitiba, o que devolve ao petista os direitos políticos e o deixa elegível novamente. A moeda norte-americana fechou com avanço de 1,66%, a R$ 5,778, a maior cotação desde 15 de maio do ano passado, quando fechou a R$ 5,839. A máxima chegou a R$ 5,784, enquanto a mínima não passou de R$ 5,770. O dólar fechou a sexta-feira passada, 5, com alta de 0,44%, a R$ 5,683. A decisão do ministro também impactou o mercado acionário, e o Ibovespa, principal índice da Bolsa de Valores brasileira, fecho com queda de 3,98%, aos 110.611 pontos. “Com a notícia da recuperação dos direitos políticos de Lula, o índice bateu mínima de 111.275 no ao longo do pregão. Antes disso, a Bolsa brasileira já estava em queda diante do cenário de avanço do coronavírus no país, com recordes de mortes, lotação de leitos e medidas de isolamento social ao redor do país”, afirmou Paula Zogbi, analista da Rico Investimentos.
Fachin anulou todas as condenações do ex-presidente pela Justiça Federal no Paraná relacionadas às investigações da Operação Lava Jato. Fachin também determinou que os autos sejam remetidos à Justiça do Distrito Federal. Em sua decisão monocrática, Fachin, relator da Lava Jato no STF, entendeu que a 13ª Vara Federal não é competente para julgar e processar o petista. Na prática, estão anuladas as condenações dos casos do tríplex do Guarujá, do sítio em Atibaia, no interior de São Paulo, e do Instituto Lula. Em sua decisão, Fachin também declarou a perda de objeto de dez habeas corpus impetrados pela defesa de Lula que questionavam a conduta da Justiça, entre elas a suspeição do ex-juiz federal Sergio Moro. O pedido agora contemplado por Fachin foi apresentado no dia 3 de novembro de 2020 pelos advogados Cristiano Zanin e Valeska Martins.
No cenário externo, investidores acompanharam a alta dos treasuries, como são chamados os títulos do Tesouro dos EUA, com a aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão pelo Senado norte-americano para aliviar a crise econômica causada pela pandemia do coronavírus. O pacote de resgate, o terceiro aprovado nos EUA desde o início da pandemia, há um ano, inclui novos pagamentos diretos de US$ 1,4 mil aos contribuintes que ganham menos de US$ 80 mil por ano, mais fundos para os governos estaduais e locais, vacinações e reabertura de escolas. Por 50 a 49 votos, o Senado deu aval ao chamado Plano de Resgate Americano, que a Câmara dos Deputados já aprovou há uma semana.
Na pauta doméstica, o mercado analisou a expectativa de alta da inflação para avanço de 3,98%, segundo números divulgados no Boletim Focus nesta manhã. Esta é a nona revisão de alta seguida do indicador oficial da inflação brasileira. Há uma semana, a expectativa era de 3,87%, enquanto há um mês chegava a 3,6%. O novo valor se mantém acima do centro da meta de 3,75% perseguida pela autoridade monetária nacional, com margem para flutuar entre 2,25% e 5,25%. A inflação encerrou o ano de 2020 a 4,52% — acima das expectativas do mercado —, puxada principalmente pelo encarecimento dos alimentos. A meta para o Banco Central no ano passado era de 4%, com variação de 2,5% e 5,5%. Os analistas e economias consultados pelo Banco Central estão mais cautelosos com o crescimento da economia neste ano para alta de 3,26%, ante estimativa de 3,29% na semana passada. Há um mês, a previsão era de 3,47%. O PIB de 2020 encerrou com recuo histórico de 4,1%, segundo números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda no noticiário local, o mercado aguarda pela votação da PEC Emergencial pela Câmara dos Deputados, prevista para esta quarta-feira, 10, após aprovação do texto que abre espaço para o auxílio emergencial pelo Senado. A matéria passou com a emenda de limitar o benefício em R$ 44 bilhões. Segundo o relator do texto na Câmara, deputado Daniel Freitas (PSL-SC), o texto não deve sofrer alterações. O governo federal aguarda a PEC ser aprovada também pelos deputados para então publicar a medida provisória que autoriza a retomada do auxílio. O ministro da Economia, Paulo Guedes, confirmou que as parcelas serão de R$ 175 a R$ 375, dependendo da configuração familiar. “Esse [R$ 250] é um valor médio, porque se for uma família monoparental dirigida por uma mulher, ai já é R$ 375. Se for monoparental, se for um homem sozinho, ai já é R$ 175. Se for um casal, os dois, ai já são R$ 250”, disse o chefe da equipe econômica em conversa com jornalistas na saída do Palácio do Planalto.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.