EUA fazem soar alarmes de efeitos da mudança climática no país
Lucía Leal.
Washington, 6 mai (EFE).- Os Estados Unidos divulgaram nesta terça-feira um ambicioso relatório científico que fez soarem os alarmes dos efeitos presentes e futuros da mudança climática no país, uma análise cheia de previsões sombrias com o qual a Casa Branca quer impulsionar sua agenda para reduzir as emissões de gases do efeito estufa.
“A mudança climática, que já foi considerado um problema próprio de um futuro distante, se mudou firmemente para o presente”, sentenciou o relatório, elaborado durante quatro anos por mais de 300 cientistas do país e supervisionado pelo governo de Barack Obama.
O documento procura desprezar o lugar comum de que a mudança climática afeta só as geleiras ou os ursos polares, e garante que seus efeitos se são sentidos em todos os cantos dos EUA, através de ondas de calor cada vez mais frequentes, incêndios mais graves, chuvas mais fortes e secas cada vez mais extremas.
A década que começou em 2000 foi a mais fria dos Estados Unidos, e 2012, um ano marcado por um verão especialmente seco seguido do devastador furacão “Sandy” em outubro, foi o mais quente registrado na história do país, indicou o relatório, intitulado “Avaliação Nacional do Clima”.
A temperatura dos EUA hoje é entre 0,8 e 1 grau Celsius maior que em 1895, e 80% desse aumento aconteceu nos últimos 44 anos, de acordo com a análise.
O nível do mar no mundo todo subiu pelo menos 20,3 centímetros desde que começou a ser registrado em 1880, segundo o relatório, que projetou que até o final do século ele terá subido entre 30 e 122 centímetros.
A principal razão desse aquecimento está na emissão de gases do efeito estufa através da queima de carvão para produção de eletricidade, o consumo de petróleo e gás em veículos, a poda junto ao solo de árvores e algumas práticas agrícolas, apontaram os cientistas.
“Os gases do efeito estufa que já estão na atmosfera nos condenaram a um futuro mais quente com mais efeitos relacionados ao clima nas próximas décadas”, apontou o estudo.
Assim, o relatório prevê que, até o final do século XXI, o aumento das temperaturas pode ser de até 2,75 graus Celsius se os EUA implementarem políticas rigorosas para reduzir as emissões de carbono, ou de até 5,5 graus se as emissões continuarem aumentando rapidamente.
O governo de Obama, que fez da luta contra a mudança climática uma das prioridades de seu segundo mandato, acredita que o relatório dê um novo impulso ao objetivo de reduzir em 17% as emissões de gases que provocam o efeito estufa para 2020 a respeito dos níveis de 2005.
Para isso, a Casa Branca anunciou em setembro novas regras que limitam as emissões das usinas de energia em construção e espera-se que mês que vem a Agência de Proteção Ambiental (EPA) apresente uma nova proposta de regulação para as que já estão em funcionamento.
Essa estratégia gerou uma forte oposição de parte dos republicanos no Congresso, que acusaram Obama de declarar uma “guerra ao carvão” e prometeram combater os planos da EPA.
“Com este relatório, o presidente está tentando distrair mais uma vez os americanos de sua descuidada agenda de regulações, que está custando à nossa nação milhões de oportunidades de emprego e nossa capacidade de sermos energeticamente independentes”, disse hoje o senador republicano Jim Inhofe em comunicado.
Por outro lado, o relatório foi bem-vindo por organizações ambientalistas como Sierra Club, que disse que ele demonstra que “as ameaças climáticas contra a saúde pública, nossas comunidades e a economia vão disparar se não atuarmos”.
“Não só é uma obrigação atuar agora pelas futuras gerações, é também uma enorme oportunidade econômica. Deixando os combustíveis fósseis no subsolo e continuando a transição rumo à energia limpa, como a solar e a eólica, podemos criar bons empregos”, assinalou o diretor de Sierra Club, Michael Brune.
O relatório prevê uma temporada mais quente cada vez mais longa, com os consequentes efeitos para a agricultura; e um aumento no degelo no Alasca e na acidez do oceano Pacífico que colocará em perigo os ecossistemas marítimos. EFE
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