Defesa de Cid alega que áudios vazados ‘foram momento de desabafo’ e não comprometem delação
Na opinião dos advogados do militar, gravação ‘de forma alguma, compromete a lisura, seriedade e correção dos termos da colaboração’ firmada com a PF e homologada pelo STF’; PF fala em rescisão de delação e novo depoimento
A defesa do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do ex-presidente Jair Bolsonaro, afirma que áudios revelados na noite de quinta-feira, 20, pela revista Veja “parecem clandestinos”. Nas gravações, o militar faz críticas à Polícia Federal e ao ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes. “Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa dele. É isso que eles queriam, e toda vez eles falavam ‘olha, a sua colaboração tá muito boa’”, diz Cid em um dos trechos. Em nota, a defesa do militar alega ainda que os áudios não comprometem a delação. “Mauro Cid em nenhum momento coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade da Polícia Federal, da Procuradoria-Geral da República ou do Supremo Tribunal Federal na condução dos inquéritos em que é investigado e colaborador, aliás, seus defensores não subscrevem o conteúdo de seus áudios”, diz a nota . Os advogados sustentam ainda que os áudios “não passam de um desabafo em que relata o difícil momento e a angústia pessoal, familiar e profissional pelos quais está passando, advindos da investigação e dos efeitos que ela produz perante a sociedade, familiares e colegas de farda, mas que, de forma alguma, comprometem a lisura, seriedade e correção dos termos de sua colaboração premiada firmada perante a autoridade policial, na presença de seus defensores constituídos e devidamente homologada pelo Supremo Tribunal Federal nos estritos termos da legalidade”, acrescenta a defesa. De acordo com matéria publicada em O Globo, no entanto, a PF avalia rescindir a delação e pretende convocar Cid para novo depoimento.
Em um trecho das gravações, Mauro Cid aparece fazendo críticas a Polícia Federal e ao ministro Alexandre de Moraes. Comentando os depoimentos que prestou no âmbito da investigação sobre os atos de 8 de Janeiro, Cid diz que os investigadores da Polícia Federal “não queriam saber a verdade”, mas que queriam confirmar “uma narrativa pronta”, comenta. “Eles já estão com a narrativa pronta. Eles não queriam saber a verdade, eles queriam só que eu confirmasse a narrativa dele. É isso que eles queriam, e toda vez eles falavam ‘olha, a sua colaboração tá muito boa’. Em outro trecho dos áudios, aos quais a Jovem Pan teve acesso, o militar outro trecho dos áudios, Cid também faz referência à maneira como seu depoimento foi recebido. “Ele até falou, ‘vacina, por exemplo, você vai ser indiciado por nove tentativas de falsificação de vacina, vai ser indiciado por associação criminosa’, e mais um termo lá. Ele disse assim: ‘só essa brincadeira vai ser trinta anos pra você”, diz o militar nos áudios. Mais adianta, aparecem críticas a Alexandre de Moraes. “Eu falei daquele encontro do Alexandre de Moraes com o presidente, eles ficaram desconcertados, desconcertados. Eu falei: ‘Quer que eu fale?’”. E continua com “O Alexandre de Moraes já tem a sentença dele pronta, acho que essa é que é a grande verdade. Ele já tem a sentença dele pronta. Só tá esperando passar um tempo. O momento que ele achar conveniente, denuncia todo mundo, o PGR acata, aceita e ele prende todo mundo.” Cid reclama que botou o seu futuro a perder por causa da relação com Bolsonaro e, a seu ver, de maneira diferente dos outros militares que compunham a equipe. “Ninguém perdeu carreira, ninguém perdeu vida financeira como eu perdi. Todo mundo já era quatro estrelas, já tinha atingido o topo, né? O presidente teve Pix de milhões, ficou milionário, né?”, disse. Mauro Cid foi preso em maio do ano passado, durante a Operação Venire da PF, que investigou fraudes em cartões de vacina contra a covid-19 da família de Cid e a de Bolsonaro. Em setembro, ele foi solto após acertar uma delação premiada, em que apontou o ex-presidente como o mandante das fraudes no sistema do Ministério da Saúde e revelou a existência de reuniões entre o ex-chefe do Executivo e comandantes das Forças Armadas para discutir uma forma de impedir a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Publicado por Heverton Nascimento
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