Lula vai tirar o bode da sala em relação à PEC que estoura o teto de gastos

Se furar o teto de gasto já era um pleito intragável, com o valor de R$ 200 bilhões, então, se tornou ainda mais insuportável; nem os parlamentares aliados de Lula nem os opositores aceitarão tamanho disparate

  • Por Reinaldo Polito
  • 01/12/2022 10h42 - Atualizado em 01/12/2022 10h44
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Reprodução/YouTube lula-posicionamento-roberto-jefferson-reproducao-youtube Proposta da equipe de Lula prevê estouro de R$ 200 bilhões no teto de gastos

Só quem for muito ingênuo é que acredita nessa história de Lula querer estourar o teto de gastos em quase R$ 200 bilhões por quatro anos. Está na cara que essa PEC (Proposta de Emenda à Constituição) é absurda. É um valor não compatível com a situação do país hoje. Tanto assim que, ao mencionar essas cifras, até os economistas aliados do PT ficaram assustados. Alguns se sentiram indignados e bateram em retirada. Lula escalou Alckmin para ser o boi de piranha. O vice-presidente eleito apresentou o projeto, colheu as assinaturas necessárias e deu entrada para ser analisado pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça). Agora sim começam as negociações. Esse monstrengo gestado pela equipe de transição do novo governo nada mais é que um bode fedorento colocado na sala. 

Nem os parlamentares aliados de Lula nem os opositores aceitarão tamanho disparate. Assim que o bode entrou no Senado suas excelências já começaram a tapar o nariz e procuram meios de levá-lo para bem longe dali. Se furar o teto de gastos já era um pleito intragável, com esse valor absurdo, então, se tornou ainda mais insuportável. Alguém duvida que esse não era o plano verdadeiro de Lula? Ele, provavelmente, sabe que essas cifras astronômicas podem arrebentar a economia do país. Talvez sua intenção seja a de conseguir não os R$ 200 bilhões, nem os quatro anos de vigência de estouro do limite da gastança, mas sim, digamos, uns R$ 100 a R4 120 bilhões, e por um prazo bem menor, uns dois anos.

Só que se Lula chegasse com o pires na mão implorando por esse valor e prazo mais reduzidos, com muita sorte chegaria a R$ 50 bilhões por um ano. Era preciso, portanto, enfiar o bode malcheiroso no Congresso Nacional para tornar o ambiente desconfortável aos congressistas. Ao quebrar o galho da turma e deixar seu pleito inicial pela metade, fará com que até os opositores se sintam aliviados e propensos a aprovar a proposta. Lula sempre teve muita habilidade nas negociações. Desde a época em que era presidente do sindicato em São Bernardo do Campo usa essas estratégias. Fazia pedidos que jamais poderiam ser atendidos, para depois, com jeito e paciência, ir reduzindo os números, até chegar no que efetivamente desejava. E as empresas se sentiam bem por terem atingido aquele patamar nas negociações. Dá para imaginar o diretor de RH se vangloriando ao mostrar um gráfico para o conselho da companhia com o extraordinário resultado obtido nas tratativas com os sindicalistas. Ganhava quem pedia, e achava que não perdia quem concedia.

Nos próximos dias terão início os debates. Com certeza, esse valor pleiteado começará a descer. A cada embate entre as partes, novas concessões serão feitas, até que todos se sintam à vontade para comunicar o resultado conseguido. Por mais que Lula tente argumentar que essa PEC irá beneficiar os mais pobres, pois, segundo ele, servirá para cobrir despesas permanentes para o pagamento de benefícios sociais fora do teto de gastos, a história não é bem assim. Quem entende um pouco de economia sabe que não é verdade. Talvez haja alguns benefícios num primeiro momento, mas na sequência será um desastre. Só para citar algumas das sequelas: estagnação do PIB, crescimento da inflação, aumento das taxas de juros e desemprego. Ou seja, essa inciativa não melhora a situação dos mais necessitados, mas sim torna a população mais vulnerável e empobrecida.

Esse valor reduzido provocará um soluço nos indicadores econômicos e servirá para que Lula dê asas ao seu instinto populista. Um cartão de visitas que já era esperado desde a campanha. Se depois dessa irresponsabilidade fiscal continuarmos com mais propostas semelhantes, que o país se prepare para seguir o rumo da Venezuela. Basta estudar a história para ver como foi que esse país começou, qual o caminho que seguiu e onde foi que chegou. Que Lula não venha com essa tática de botequim, julgando que poderá resolver a guerra da Ucrânia com a Rússia tomando uma cervejinha. Para esses delírios até achamos graça e rimos. Com a situação do nosso país, entretanto, não. Aqui é preciso ter prudência e responsabilidade nas decisões que toma. Siga pelo Instagram: @polito.

*Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Jovem Pan.

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