Apesar de recomendação de comitê, testes da CoronaVac não têm prazo para voltar

A Anvisa suspendeu os estudos clínicos após um “evento adverso grave” e condicionou eventual retomada a um parecer do Comitê Internacional Independente

  • Por Jovem Pan
  • 11/11/2020 05h20 - Atualizado em 11/11/2020 08h10
Instituto Butantan/Divulgação Pessoa segura caixa da CoronaVac A Comissão Nacional de Ética e Pesquisa, ligada ao Conselho Nacional de Saúde, que analisa estudos relacionados à Covid-19 no Brasil, também defendeu a continuidade dos testes

Após suspensão, ainda não há prazo para a retomada dos testes clínicos da CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. Nesta terça-feira, 10, o Comitê Internacional Independente afirmou que a morte de um voluntário no Brasil não teve relação com a vacina e testes devem ser retomados. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o parecer do comitê foi recebido às 16h41 desta terça-feira, mas o conteúdo ainda não foi divulgado pela agência. “O presente documento encontra-se neste momento sob análise do grupo interno da Anvisa. Este grupo acompanha e faz todas as análises do desenvolvimento de protocolos vacinais, sob a liderança da Gerência Geral de Medicamentos”, afirmou em comunicado. Assim como o Comitê Internacional, a Comissão Nacional de Ética e Pesquisa, ligada ao Conselho Nacional de Saúde, que analisa estudos relacionados à Covid-19 no Brasil, também defendeu a continuidade dos testes.

Na segunda, a Anvisa suspendeu os estudos clínicos após um “evento adverso grave” e condicionou eventual retomada a um parecer do comitê. De acordo com um boletim de ocorrência da Polícia Civil, a causa da morte do voluntário que participava dos testes é investigada como possível suicídio. Em entrevista coletiva, o diretor do Butantan, Dimas Covas, reclamou da conduta da Anvisa e disse que a decisão causou surpresa, insegurança e até indignação. “Nós estamos tratando aqui de um evento adverso grave que não tem relação com a vacina. Repito, que não tem relação com a vacina.” Ele ressaltou que foi avisado sobre a suspensão dos estudos pelo WhatsApp às 20h40, pouco antes da imprensa noticiar oficialmente. “Não recebi nenhum telefone da Anvisa, da mesma forma que os outros responsáveis pelo estudo também não receberam. Suspenderam o estudo. Causaram incerteza, medo. Fomentam um ambiente que já não é propício ao fato da vacina ser feita em associação com a China. A troco de que? Não seria mais justo ligar? Não seria mais ético e compreensível?”

Nesta terça-feira, o diretor-presidente da Anvisa afirmou que os dados repassados pelo Butantan foram “insuficientes” e “incompletos”. “As informações foram consideradas insuficientes, incompletas para continuar emitindo o desenvolvimento vacinal”, disse. Em entrevista coletiva, Antonio Barra Torres disse que a decisão de interromper os estudos foi “técnica” e que não havia “outra alternativa”. Segundo o órgão, a morte do voluntário ocorreu em 29 de outubro e foi informada pelo Butantan dentro do prazo, mas a notificação não foi recebida devido a um problema técnico que atingiu sistemas do governo federal.

Questionado sobre as declarações do presidente Jair Bolsonaro diante da interrupção dos testes, Barra Torres disse que a Anvisa não entrará na “guerra política”. “O que o cidadão brasileiro não precisa é de uma Anvisa contaminada pela guerra política”, afirmou. Barra Torres declarou ainda que é obrigação da Anvisa paralisar os estudos quando não há informações completas sobre eventos adversos graves e que “quem se surpreende com uma decisão assim está se surpreendendo com algo óbvio”. Ainda nesta terça-feira, o ministro Ricardo Lewandowski, do Supremo Tribunal Federal (STF), determinou que a agência detalhe, em até 48 horas, os motivos que a fizeram suspender os testes.

*Com informações do repórter Afonso Marangoni

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