Descontrole fiscal é o maior risco para a escalada da inflação, diz Schwartsman

Ex-diretor do Banco Central afirma que IPCA irá subir para 6% nos 12 meses acumulados no primeiro trimestre de 2021, mas que índice deve ceder se o governo federal manter o compromisso fiscal

  • Por Gabriel Bosa
  • 09/12/2020 19h09
:GABRIELA BILÓ/ESTADÃO CONTEÚDO/AE GABRIELA BILÓ / Estadão Conteúdo Ex-diretor do Banco Central vê no aumento do desemprego uma das forças que puxarão a inflação para baixo em 2021

O frágil controle dos gastos públicos e a falta de reformas que fortaleçam a responsabilidade fiscal são os principais riscos para a disparada da inflação no próximo ano, que deve chegar a índices de 6% no acumulado dos 12 meses no primeiro semestre, afirma o economista e ex-diretor de assuntos internacionais do Banco Central (BC), Alexandre Schwartsman. A disparada do índice será visível quando a soma não contar mais com os índices negativos do IPCA registrados em abril e maio deste ano, no auge dos efeitos da pandemia do novo coronavírus na economia brasileira. Apesar desta alta já ser consenso entre analistas, a manutenção da taxa de juros a 2% ao ano, conforme divulgado pelo Comitê de Política Monetária (Copom) nesta quarta-feira, 9, não deverá ser revista até julho do próximo ano. A tendência é que o IPCA volte para baixo após a normalização dos preços de commodities, o principal impulsionador da inflação brasileira em 2020. Essa normalização, porém, pode ser alterada caso o governo federal não faça o dever de casa em manter as contas sob controle. “O Banco Central já deixou claro que a manutenção do risco fiscal é uma das pré-condições para a manutenção da prescrição futura da Selic. E não tem nenhuma ação do governo nesta área. O que temos é uma inação, o que deixa esse risco como algo bastante provável.”

O IPCA, índice oficial da inflação brasileira, subiu 0,89% em novembro, e nos últimos 12 meses acumula alta de 4,31% — acima do centro da meta de 4% perseguida pelo BC. A partir do segundo semestre, com a disparada do dólar e a retomada do consumo pelas famílias, o índice começou a galopar para recordes mensais. A alta de 0,64% em setembro é a maior desde 2003, enquanto outubro registrou o avanço mais expressivo desde 2002. O aumento da cobrança da taxa de energia já em dezembro de 2020 — um mês antes do anunciado anteriormente pela Aneel —, e a manutenção dos preços altos dos alimentos levarão a inflação para acima de 1% no próximo mês. A previsão do economista é que o último trimestre do ano encerre com alta de 3% no IPCA, ante valorização de 1,3% nos primeiros nove meses de 2020. Se a definição da bandeira vermelha prejudica o índice em 2020, ao menos representa uma pressão a menos na inflação esperada para os primeiros meses do próximo ano. “Dezembro terá um índice horroroso e vai ser tão complicado quanto este último mês. Porém, o que estamos vendo neste fim de ano não deve se repetir no início de 2021, já que os preços das commodities devem baixar e foi adiantado o aumento da energia”, afirma Schwartsman.

O aumento do desemprego esperado para 2021 também deve pressionar a inflação para baixo. O número de brasileiros na fila do emprego chegou ao recorde de 13,8 milhões em outubro, segundo dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O índice representa 14,1% da população em condições de trabalho, e já há análises que apontam o crescimento deste índice para 16% nos próximos meses com o fim dos benefícios dados pelo governo para a manutenção dos postos de trabalho. Assim como as medidas de isolamento social paralisaram o setor de serviços, que é o maior gerador de empregos no país e principal responsável pela contabilidade do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, a falta de trabalho também pode levar a nova inanição do segmento. “O desemprego puxa a inflação para baixo. Nesses últimos meses, vimos a alta por causa do encarecimento dos alimentos, mas na parte de serviços a inflação é muito bem comportada, o que reflete com clareza a fraqueza do mercado de trabalho.”

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