Dólar vai a R$ 5,40 com pressão internacional e risco fiscal no radar
Divisa norte-americana sobe com investidores apreensivos pelo avanço da pandemia e discussões para a volta do auxílio emergencial; Ibovespa cai e fecha aos 115 mil pontos
O mercado financeiro viveu um dia de estresse nesta quarta-feira, 27, pressionado pelo noticiário internacional e o risco fiscal brasileiro com o aumento da pandemia do novo coronavírus. O dólar encerrou o dia com alta de 1,5%, a R$ 5,407. A divisa chegou a bater a máxima de R$ 5,419, enquanto a mínima não passou de R$ 5,351. Na véspera, a moeda fechou com recuo de 3,3%, cotada a R$ 5,326. O cenário pessimista lá fora e a apreensão doméstica contaminaram a Bolsa de Valores brasileira, que fechou pelo sexto pregão consecutivo no vermelho. O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou o dia com recuo de 0,50%, aos 115.822 pontos. A Bolsa fechou o pregão desta terça-feira, 26, com queda de 0,78%, aos 116.464 pontos. “Lá fora, os investidores estão mais cautelosos, com possíveis impactos econômicos das novas variantes do coronavírus e os novos lockdowns gerados pela escalada de novos casos pesando no Reflation Trade, movimento que estava forte no fim do ano passado que aposta no fim das restrições e recuperação após a vacina. Após a divulgação hoje da decisão de juros do Federal Reserve nos EUA, as ações, em grande parte, mantiveram as perdas do dia”, afirma Júlia Aquino, da Rico Investimentos.
O Federal Reserve (o Banco Central dos Estados Unidos) manteve a taxa de juros da economia norte-americana entre 0% e 0,25%, conforme já era aguardado pelo mercado. A autoridade monetária ainda ressaltou que manterá a política de estímulos para a recuperação da maior economia do globo em meio aos efeitos da pandemia do novo coronavírus. Ainda no noticiário internacional, o mercado reagiu de forma negativa aos entraves para a imunização em diferentes países. Nesta quinta-feira, a escassez de vacinas contra a Covid-19 levou Nova York a suspender por tempo indeterminado a sua campanha de vacinação. No outro lado do Atlântico, a farmacêutica AstraZeneca cancelou a reunião que teria hoje com representantes da Comissão Europeia para apresentar um plano detalhado de entrega e distribuição da vacina contra a Covid-19 desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford. O encontro seria o terceiro nesta semana, já que os outros dois realizados na segunda-feira, 25, foram considerados insatisfatórios.
Na pauta doméstica, os investidores acompanham com atenção as tratativas entre o Legislativo e o governo federal para a volta do auxílio emergencial. Apesar de o Ministério da Economia manter a posição contrária ao recurso, que consumiu cerca de R$ 320 bilhões do cofres públicos no ano passado, o recrudescimento da pandemia e os entraves para a vacinação geram pressão para novas rodadas de pagamento. O tema, inclusive, é defendido pelos principais candidatos ao controle da Câmara dos Deputados e do Senado. O principal temor do mercado é que a medida aumente o rombo dos gastos públicos e ameace a manutenção do teto de gastos. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta terça-feira que o governo federal respeitará o controle fiscal e que não vai permitir que medidas adotadas para mitigar os efeitos da pandemia virem gastos fixos. Já o chefe da equipe econômica, Paulo Guedes, foi mais drástico e afirmou que o retorno do auxílio travará os investimentos em saúde, educação e segurança pública. “Pegar o dinheiro e sair correndo é fácil. Agora tem que pagar, tem que ter sacrifícios impostos. Quando se tá em guerra, não é só receber armamento, é também pagar o armamento. E a população tem o custo de não ver as outras despesas crescendo, porque você está devotando tudo ao combate, ao auxílio emergencial”, afirmou.
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