‘A França está sendo atacada’, afirma o presidente Emmanuel Macron

Logo depois do governo francês começar a aplicar medidas em resposta à decapitação do professor Samuel Paty, país é alvo de três novos ataques em um mesmo dia

  • Por Bárbara Ligero
  • 29/10/2020 14h42 - Atualizado em 29/10/2020 14h43
EFE/EPA/ERIC GAILLARD / POOL MAXPPP OUT Macron prometeu que o número de soldados patrulhando as ruas mais que dobrará nos próximos dias

Na tarde desta quinta-feira (29), o presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que apesar de estar sob ataque, o país não cederá ao terrorismo. A declaração foi feita durante um discurso em frente à Basílica de Nice, onde um homem armado com uma faca matou duas mulheres e um homem na manhã do mesmo dia. Além da tragédia na igreja cristã, a quinta-feira também foi marcada pela prisão de um homem que portava uma lâmina em Lyon, pela morte de um outro homem que ameaçou pessoas com uma arma em Avignon e por um ataque ao consulado da França na Arábia Saudita.

Ainda não se sabe se existe uma relação entre os eventos, que acontecem menos de duas semanas depois da decapitação do professor francês Samuel Paty e exatamente sete dias depois de uma mulher, que acabou sendo detida, ameaçar explodir uma estação de trem em Lyon. Além disso, nesta terça-feira (27) duas importantes regiões turísticas de Paris foram evacuadas: o entorno do Arco do Triunfo, por uma ameaça de bomba que foi descartada, e as cercanias da Torre Eiffel, por ter sido encontrado um pacote com munições de vários calibres.

Diante dessas circunstâncias, Macron aumentou para o nível máximo o alerta de terrorismo na França e afirmou em seu discurso que o número de soldados patrulhando as ruas deverá mais que dobrar nos próximos dias. A fala do presidente, no entanto, foi mais voltada para os recentes acontecimentos em Nice. Ao expressar o seu apoio à comunidade católica, ele afirmou que a nação está ao lado da igreja para que “a religião possa ser praticada livremente” no país. “Pessoas podem ser crentes ou não, todas as religiões podem ser praticadas, mas hoje a nação está ao lado dos nossos compatriotas católicos”, disse. O presidente também garantiu que o exército será mobilizado para proteger especialmente as igrejas católicas durante o Feriado de Todos os Santos, que acontecerá no domingo (1).

Macron continuou o seu discurso expressando condolências ao povo de Nice que, nas palavras dele, “já sofreu com o resultado da loucura islâmica” no passado. O presidente se referia aos acontecimentos de julho de 2016, quando 86 pessoas foram mortas atropeladas por um caminhão durante uma celebração local do Dia da Bastilha. “Se nós fomos atacados novamente, é por causa dos nossos valores, nosso amor pela liberdade, a liberdade de crer livremente e não ceder ao terror”, defendeu Macron.

Na quarta-feira (28), a revista satírica francesa Charlie Hebdo, que também já foi alvo de um ataque terrorista que deixou 12 mortos em 2015, publicou em sua capa uma charge do presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan. A caricatura mostra o governante de cueca sentado em uma poltrona enquanto fala “o profeta” e levanta a roupa de uma mulher vestindo um véu islâmico. Nos últimos dias, Erdogan tem feito uma série de críticas sobre a maneira com que o governo francês está combatendo o terrorismo desde o atentado ao professor que mostrou charges do profeta Maomé em sala de aula.

O líder turco defende que a expulsão de estrangeiros que estavam sendo monitorados por sua radicalização islâmica, a dissolução de grupos fundamentalistas e o fechamento de uma mesquita se configuram como uma política “anti-islâmica” que pode gerar uma opressão dos muçulmanos que vivem na França. Essa visão se repete em diversos países árabes, que têm realizados protestos e feito boicotes aos produtos franceses.

Enquanto as mercadorias importadas do país foram retiradas das prateleiras de lojas do Kuwait, da Jordânia e do Qatar, manifestações irromperam na Líbia, na Síria e na Faixa de Gaza. Em muitas deles, fotos do presidente francês Emmanuel Macron foram queimadas. Para os muçulmanos, a representação figurativa de qualquer um dos profetas do Alcorão é considerada uma grave ofensa.

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