Resistência à vacina e fim dos protocolos: Entenda as causas do avanço da Covid-19 no mundo
Na última semana, países como Rússia, China, Romênia e o Reino Unido registraram recordes de infecções e mortes pela doença; infectologistas alertam para situação endêmica
Enquanto o Brasil acompanha o arrefecimento da pandemia, com queda significativa nos índices de casos, óbitos e internações pela Covid-19, outras nações começam a registrar níveis recordes de mortes e infecções pela doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) anunciou na quarta-feira, 27, o primeiro aumento de contaminações a nível mundial desde o mês de agosto. Segundo a entidade, a quantidade de testes positivos cresceu 4% entre os dias 18 e 24 de agosto, com 2,9 milhões de novos infectados. Ao mesmo tempo, países como Romênia, Letônia, Reino Unido e a Rússia registram picos de mortes e casos do coronavírus. A situação acende um alerta mundial e levanta dúvida: a que se deve esses repetidos aumentos de mortes e casos da Covid-19? Os índices seriam reflexo de uma nova onda da pandemia no mundo? A infectologista da Rede D’or, Raquel Murrek, explica que as oscilações acontecem porque ainda existe a transmissão do vírus, combinado ao aumento das aglomerações e da flexibilização de protocolos sanitários, como o uso de máscaras.
“Você tem o aumento da taxa de transmissão, com isso, o vírus se replica, se modifica e ainda faz pacientes, ainda faz casos e volta a ter esses aumentos. Então, o retorno das mortes é por causa da transmissão ainda presente e pela quebra do distanciamento”, explica, pontuando que as variações – já esperadas – serão cíclicas e demandarão, possivelmente, períodos de isolamento e controle. “A China fechou uma cidade com 4 milhões de pessoas por causa do retorno do vírus, então isso é o que se tem que trabalhar. Aumentou a taxa de transmissão? Faz um movimento naquela região para que a taxa diminua até termos o tratamento contra o vírus liberado mundialmente e a população 100% vacinada. É evitar aglomeração, evitar que o vírus se propague na população, se multiplique e faça adaptações. Isso vai ser cíclico até ter o controle global da transmissão.”
Além de um problema cíclico, outro fator pode estar impulsionando o aumento das mortes por Covid-19, especialmente na Rússia: os baixos índices de adesão à vacinação. A infectologista Melissa Valentini, do Grupo Pardini, lembra que, assim como no leste europeu, o número de russos imunizados é pequeno – menos de 40% com ao menos uma dose, o que acaba influenciando no desenvolvimento de internações e evoluções para óbito. “A vacina é extremamente efetiva no combate aos quadros graves e à morte, tanto é que no Brasil temos, hoje, uma taxa muito baixa de internações. Claro que ainda estamos em um patamar muito alto, mas diminuímos bastante com o avanço da imunização”, pontua.
De acordo com a médica, outros pontos de influência para o aumento repentino das mortes em alguns países é a chegada do inverno que, segundo ela, já impõe aumento nas doenças respiratórias mais graves, e a presença da variante Delta. “O que essa cepa nos mostrou é que precisamos das duas doses da vacina para proteção. Então, isso reforça a necessidade de ampliação da vacinação para que a gente consiga combater a variante Delta e a Covid-19”, reforça. Na visão de Melissa Valentini, o ciclo de controle e imunização contra o coronavírus deve se repetir por um bom tempo. “Provavelmente, o Sars-Cov-2 vai virar um vírus endêmico, como temos a influenza, que é a da H1N1. Então, vamos conviver com esse vírus ao longo da nossa vida, teremos que fazer um balanço de periodicidade da vacinação até que seja um vírus habituado com o contato humano.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.