Terremoto mata ao menos 4.500 e deixa mais de 17 mil feridos na Turquia e na Síria; Otan, União Europeia e EUA oferecem ajuda

Região sofreu dois fortes tremores e mais de 50 abalos secundários; 3.000 prédios desabaram e gás foi cortado; ocorrido deve agravar situação dos sírios que atravessam uma severa crise humanitária

  • Por Jovem Pan
  • 06/02/2023 18h01 - Atualizado em 06/02/2023 21h15
BULENT KILIC / AFP Terremoto Turquia e Síria Turquia e Síria foram abaladas por fortes tremores que deixaram mais de 4.500 mortos

Na madrugada de segunda-feira, 6, noite de domingo no Brasil, Turquia e Síria foram abaladas por fortes tremores que deixaram mais de 4.500 mortos. Na Turquia, foram registrados ao menos 2.379 mortes. Já na Síria são somadas mais de 1.444. Os Capacetes Brancos – grupo formado por voluntários da Defesa Civil Síria, que atuam em áreas do país nas mãos dos rebeldes, informaram que também houve ao menos 733 mortos e mais de 2.100 feridos nestes setores. Ao todo, foram computados até o momento cerca de 17.50o feridos — 13 mil na Turquia e 4.500 na Síria —, segundo os últimos dados divulgados pelo governo dos países. Dois tremores foram registrados, um às 4h17 (22h17 de domingo, no horário de Brasília), de magnitude de 6,7, e outro, de magnitude 7,5, às 13h24 (7h24 no horário de Brasília), de acordo com o Serviço Geológico dos Estados Unidos (USGS, na sigla em inglês). Também houve cerca de 50 tremores secundários. O epicentro foi localizado no distrito de Pazarcik, na província de Kahramanmaras, no sudeste da Turquia, a cerca de 60 km da fronteira com a Síria. Por questões de segurança, o gás foi cortado em toda a região para evitar explosões.

Líderes mundiais, incluindo o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), se solidarizaram com o ocorrido e mandaram mensagem de apoio. Vários organismos e países também ofereceram ajuda à Turquia e à Síria. O abalo sísmico levou ao chão cerca de 3.000 prédios — vídeos compartilhados nas redes sociais mostram o momento que alguns edifícios desabam. Pelo fato de os tremores terem acontecido de madrugada, o número de mortos pode ser ainda maior do que os que foram divulgados, pois no horário do terremoto a maioria das pessoas estava dormindo em suas casas. O intenso inverno que atinge a região coloca os sobreviventes em risco, pois eles ficam expostos a temperaturas quase congelantes. Nesta segunda, por exemplo, os termômetros variaram entre 3º C e 9º C, com chuva. A previsão para a terça é que varie entre -3º C e 9º C. Já na Turquia, a segunda teve máxima de 4º C e mínima de 1º C. Mas, na terça, a mínima pode chegar a -1º C, com máxima de 4º C e pancadas de neve.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, autorizou ajuda imediata para os turcos. “Instruí minha equipe a continuar monitorando de perto a situação em coordenação com a Turquia e fornecer toda e qualquer assistência necessária”, escreveu o chefe de Estado, acrescentando que a ajuda para Síria será realizada por meio de organizações humanitárias. A União Europeia enviou equipes de resgate para a Turquia e ativou seu sistema de satélites Copérnico para fornecer serviços de mapeamento de emergência e disse estar pronta para ajudar os afetados na Síria. A Espanha enviou dois aviões, com um total de 85 socorristas, para ajudar na busca por sobreviventes. O país ibérico ainda se comprometeu a enviar drones. A Rússia informou que mais de 300 militares russos estacionados na Síria estão ajudando a remover os escombros e que 300 soldados e 60 veículos para “retirar os escombros, buscar vítimas e prestar assistência médica nas áreas que sofreram maior destruição” estão sendo mobilizados. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, expressou sua “total solidariedade” com a aliada Turquia e disse estar em contato com as autoridades turcas. Alemanha, Venezuela, Índia, Ucrânia, Grécia, Reino Unido, França, Irã e o Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) também se comprometeram em mandar.

terremoto na Turquia

O presidente turco declarou luto oficial de sete dias pelas vítimas do terremoto. “Nossa bandeira será hasteada a meio mastro até o pôr-do-sol de domingo, 12 de fevereiro de 2023, em todas as nossas representações nacionais e estrangeiras”, informou o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. Este foi o maior terremoto na Turquia desde o de 17 de agosto de 1999, que causou 17 mil mortes, sendo mil delas em Istambul, e o mais forte em 84 anos na história recente do país. “É o segundo mais forte, desde o terremoto de Erzincan, de 1939. Segundo as últimas avaliações, atingiu 7,7 (graus na escala Richter). Há graves danos também nas áreas vizinhas da Síria”, afirmou o Erdogan. Uma combinação de fatores explica as razões que fizeram do terremoto de hoje o mais forte em 84 anos. A localização, a hora em que ocorreu, os antecedentes e as medidas de segurança pouco rigorosas para as construções ajudam a explicar o alto número de mortes. “As vítimas, em sua maioria, ficaram bloqueadas quando suas casas desabaram”, explicou Roger Musson, investigador do Serviço Geológico britânico. Os métodos de construção “não eram realmente adequados para uma área propensa a grandes terremotos”, explicou o especialista. A falha geológica onde ocorreu o tremor esteve relativamente calma nos últimos tempos. A Turquia é uma das zonas sísmicas mais ativas do mundo. O portal da Jovem Pan entrou em contato com o Itamaraty para obter informações sobre os brasileiros que vivem nas regiões. Segundo eles, até o momento, não há registro de mortos ou feridos. “Governo brasileiro está providenciando formas de oferecer ajuda humanitária às populações afetadas pelo terremoto. Não há, até o momento, notícia de brasileiros mortos ou feridos”, disseram no comunicado. 

O local atingido pelo terremoto nesta segunda não sofria com tremores de magnitude superior a sete graus há mais de 200 anos. Provavelmente por isso seus habitantes “foram negligentes”, explicou Roger Musson, investigador do Serviço Geológico britânico. As equipes de resgates seguem trabalhando em busca de sobreviventes. Um time inteiro de vôlei feminino estava em prédio que desabou na Turquia. Segundo informações do site Fotomac, 14 jogadoras da equipe de divisões de base do Haray estão soterradas. Até o momento, o clube não deu informações sobre o episódio. Ex-central da seleção brasileira e atualmente no Kuzeyboru, Bia relatou nas redes sociais que precisou deixar o apartamento onde mora por conta do terremoto. A mesma situação acontece com lutadores que estão no país. Segundo Taha Akgul, cerca de 40 atletas estão soterrados após um prédio, que servia como base dos lutadores de luta livre, desabar na cidade de Kahramanmaraş, na Turquia. “O prédio onde 30 a 40 de nossos lutadores ficam no clube de luta livre em Kahramanmaraş também foi demolido. Nossos atletas estão sob os escombros. Aguardamos socorro urgente. Ajude-me, meu Deus!”, escreveu o esportista. 

terremoto na Turquia

Esta vista aérea mostra residentes em busca de vítimas e sobreviventes em meio aos escombros de prédios desabados após um terremoto na vila de Besnia, perto de Harim, na província de Idlib │Omar HAJ KADOUR / AFP

Apesar de a situação na Turquia ser ruim e o país concentrar a maior parte do número de mortos — são mais de 2.300 até o momento —, na Síria, devido à guerra, a situação é provavelmente pior, apontou o vulcanólogo da University College London. O ocorrido deve agravar a crise de deslocados neste último país, onde a guerra iniciada 12 anos atrás obrigou milhões de pessoas a deixarem suas casas e partirem para as áreas afetadas pelo desastre natural. “Este desastre tornará maior o sofrimento dos sírios, que já atravessam uma severa crise humanitária. Milhões foram forçados a fugir pela guerra, e agora haverá muito mais deslocados pelo terremoto, em meio a tempestades de inverno e de um forte aumento no custo de vida”, disse Carsten Hansen, diretor da organização para o Oriente Médio. A ONG fez um apelo para que a população síria não seja abandonada e garantiu que está fazendo uma rápida avaliação das necessidades, para fornecer ajuda direta nas áreas onde há maior necessidade.

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