Eleições 2020: Quem é Márcio França, candidato à Prefeitura de SP pelo PSB

Reportagem faz parte da série de entrevistas que a Jovem Pan está realizando com os principais candidatos a prefeito da capital paulista

  • Por Rafaela Lara
  • 26/09/2020 10h00
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JÚLIO ZERBATTO/FUTURA PRESS/ESTADÃO CONTEÚDO Márcio França (PSB) Márcio França (PSB) durante as eleições de 2018; neste ano, ele disputa a Prefeitura de SP

Derrotado pelo atual governador de São Paulo, João Doria (PSDB), nas eleições 2018, Márcio França (PSB) é nome confirmado na disputa municipal deste ano para a Prefeitura de São Paulo. França, que foi vice de Geraldo Alckmin (PSDB), esteve no comando do governo do Estado enquanto Alckmin disputava a Presidência em 2018 e foi prefeito durante dois mandatos da cidade de São Vicente, no litoral paulista. Com o fim das convenções partidárias na última semana, o partido de França compôs a chapa com PDT – do vice Antônio Neto, e tem o apoio do Solidariedade, Avante e PMN. Na última quinta, o Partido da Mulher Brasileira (PMB) também se uniu em apoio ao candidato. A coligação ganhou o nome de “Aqui tem palavra”. Ao firmar apoio a França, o Solidariedade ainda avalia a possível expulsão de Marta Suplicy, ex-prefeita da cidade, que declarou apoio à reeleição de Covas. França nasceu em São Vicente e, antes de se eleger para a prefeitura de sua cidade natal, foi eleito vereador (1992 e 1996). Atuou como deputado federal por dois mandatos (2007 e 2015). Foi coordenador das campanhas à presidência de Anthony Garotinho (2002) e Eduardo Campos (2014). Ele também já foi secretário de Turismo (2010) e secretário de Desenvolvimento Econômico, Ciência, Tecnologia e Inovação (2015) do Estado de São Paulo durante a gestão Alckmin.

Em entrevista à Jovem Pan, o candidato acredita que o “start” da disputa se dará a partir do início da propaganda eleitoral na TV e no rádio e que, até o momento, o clima é de “desânimo coletivo, mesmo com a queda dos números da pandemia”, mas que afirma que a disputa deste ano pode ser decidida pelas mulheres. A propaganda eleitoral gratuita estará autorizada a partir de 9 de outubro. “A Covid-19 causou mortes e contaminou alguns, mas afetou a todos e, com isso, as pessoas se voltaram para a família e para questões internas e, claro, buscam um culpado. Acredito que a mulher é mais valente quando o assunto é recuperação e superação, e elas serão as responsáveis por decidir eleitoralmente esse momento. As pessoas também sabem que os R$ 600 não são para sempre e buscam por soluções nessa eleição”, avaliou o candidato. Em São Paulo, cerca de 2,7 milhões de pessoas recebem o auxílio emergencial do governo federal – que será reduzido para R$ 300 a partir do mês que vem.

Ao comentar a fala da candidata do PSL, Joice Hasselmann, em entrevista ao Pânico, da Jovem Pan, França avalia que “ela não vai mudar o estilo dela e busca um adversário para brigar”. Joice chamou França de “gângster, psicopata e comunista”. O candidato do PSB afirma ser mais “da linha de confluência e ponderação”, mas respondeu aos ataques no Twitter chamando Joice de “marionete do Doria”. “Deixa ela ‘brincar de eleição’ que eu trabalho por SP”, escreveu. Segundo o candidato, ao adotar uma postura “muito agressiva”, Joice pode realçá-lo. “É assim que ela chama a atenção, mas ela deve medir, porque nas eleições majoritárias, o eleitor espera uma certa moderação. No fundo, ela quer mostrar que existe, porque está em um padrão baixo de popularidade e angariou muitos adversários nos últimos tempos, mas ela, assim como o Arthur [do Val], são discípulos da radicalidade e dão um certo tempero ao debate”, afirmou. Após os ataques, o PMB, que estava quase fechado com Joice, anunciou apoio à candidatura de França – com o anúncio, a coligação tem seis partidos e se torna a segunda chapa com mais tempo na propaganda eleitoral gratuita, atrás apenas da chapa de Bruno Covas.

Para recuperar o caixa da cidade e voltar a gerar emprego e renda, França batizou seu plano de governo de “Plano Márcio”, analogia ao programa de ajuda econômica dos Estados Unidos criado após a Segunda Guerra Mundial chamado “Plano Marshall” . No “Plano Márcio”, haverá programas de capacitação ao trabalhador desempregado e linhas de crédito para o paulistano. “É um plano de recuperação pós-guerra, por isso a analogia. Inicialmente, vamos reduzir cargos comissionados porque estamos precisando de dinheiro e não haverá dinheiro no próximo ano. Então, no primeiro ano de governo teremos apenas 1% de cargos comissionados”, disse. O “Plano Márcio” ainda conta com linhas de microcrédito para 250 mil pessoas com juros zerados e financiamento para que comércios fechados pelo impacto da pandemia possam voltar a funcionar, além programas de geração de emprego e capacitação.

“Tudo isso é para ver se damos uma chacoalhada na cidade, porque temos de voltar a conduzir o Brasil. Viramos um vagãozinho e precisamos reanimar as pessoas. As pessoas que vivem em São Paulo estão desanimadas pelos efeitos da pandemia. A prefeitura não tem pulso e é controlada por 42 vereadores e o governador do Estado. Passei pelos três Poderes e por todas as esferas de competência. Então, no meu caso, não vai faltar pulso e experiência”, afirmou. O candidato do PSB não poupou críticas à gestão Covas que, segundo ele, “roda em um software automático e está sem comando”. Ao comentar as obras no Vale do Anhangabaú, França relembrou que as obras se arrastam desde a gestão Haddad. “Não se trata de uma coisa obsoleta, mas é desproporcional para o momento. Agora, eles [gestão Covas] estão quebrando calçadas para trocar por outras. Justamente agora, que os comércios estão começando a respirar, quebram as calçadas em frente aos estabelecimentos. São obras que poderiam acontecer em outro momento. Com os jardins suspensos do Minhocão é a mesma coisa, não fizeram a manutenção e agora vamos ter de pagar por aquilo. Basta observar as ações sobre rodízio, redução de circulação de ônibus, passageiros sentados e em pé durante a pandemia. Esse ‘vai e volta’ não passa segurança para a população. Quando se tem 200 comandos, não se tem nenhum”, declarou.

Ao avaliar os demais nomes na disputa municipal e as recentes pesquisas eleitorais que mostram Celso Russomanno (Republicanos) e Covas tecnicamente empatados, mas também como líderes de rejeição, França diz que a rejeição a Covas “vem de Doria porque é um governo só” e que Russomanno tenta repetir o “BolsoDoria” criando um “Russonaro” que “tende a deixar o eleitor desconfiado dessa cópia, desse aproveitamento”. O presidente Jair Bolsonaro, no entanto, não manifestou publicamente apoio a nenhum candidato à Prefeitura de São Paulo, mas compartilhou um vídeo de Russomanno nas redes sociais, onde o candidato explica a alta no preço do arroz ao responder o deputado federal Kim Kataguiri. Segundo o Ibope do último domingo, 20, a primeira pesquisa feita após a definição do quadro em São Paulo, França aparece com 6% das intenções de voto, empatado tecnicamente com o candidato do PSOL, Guilherme Boulos. O Datafolha desta quinta revela um cenário com Russomanno liderando, com 29% das intenções de votos, Covas em segundo, com 20% e Márcio França (8%) empatado tecnicamente com Boulos (9%). Apesar das divergências, França afirma que buscará diálogo com governo federal e estadual, se eleito. Segundo ele, o desempenho do governo Doria no combate à pandemia foi “péssimo”. “Houve um destempo nas ações. Ainda em dezembro, eu sugeri o lockdown em Cumbica [aeroporto], o que não foi feito. Todos sabiam que o vírus chegaria ao Brasil e o que os caras fizeram foi o ‘carnacorona’. No desespero, se faz muita coisa errada. Era possível ter deixado um legado aproveitando e melhorando os hospitais e os equipamentos da cidade ao invés dos hospitais de campanha que logo foram desmontados. Não vou dizer que houve malandragem, mas no mínimo, houve certa inexperiência”, avaliou.

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